Ontem foi drasticamente o pior dia da minha vida !
Esperei por meus pais por uns dez minutos em frente ao carro me esforçando ao máximo para afastar a culpa que sabia que posteriormente me consumiria. Mas não! Não agora. Agora preciso me manter forte e irrevogavelmente impenetrável.Não podia mostrar minha autocomiseração, não podia demostrar o quanto me magoaram. Até mesmo aquele engomadinho do Dr.Estevam. Como puderam ?
Tudo bem que eu exagerei semana passada ao atacar o policial, mas eu não tive culpa! Um sentimento de raiva tomou conta do meu corpo e não pude me controlar. Eu estava bem, juro! Apenas percebi o que tinha feito quando estava sentada em um banco de couro preto com várias rachaduras em toda a superfície-de muito mal gosto devo adicionar- e sozinha esperando meus pais. Mas não era justo ! Foi apenas um deslize! Fazia-se meses que não surtava assim.
Meus pais vieram em minha direção abraçados e ambos com os olhos vermelhos.Minha mãe ,com aqueles grandes olhos castanhos e cabelos ruivos levemente bagunçados, se desprendeu do aperto confortante do meu pai e aproximou-se na intensão de um abraço, que rejeitei ao desviar. Entendendo o recado soturno que exprimi em atos, meus pais não disseram se quer uma palavra no caminho de volta para casa para pegar minha mala, que logo depois descobri já estar pronta.
O voto de silêncio apenas se quebrou com meu suspiro hiperbólico quando desci do carro,depois de duas horas de viagem,e me deparei com uma verdadeira construção renascentista! Não se parecia nada com o que eu imaginara de uma clínica de reabilitação e sim com uma casa do século XIX. Cercada por uma vasta extensão de grama consideravelmente verde e pequenas estradas de tijolos vermelhos, a casa se erguia através de colunas brancas ricas em detalhes e paredes igualmente brancas abarrotadas de grandes janelas de madeira.
Já estava escuro,mas pude ouvir gritos abafados vindos de dentro da casa o que me fez despertar de meus devaneios. Um guarda com um sorriso amigável, abriu o potão de cobre que aparentava ter mais de três metros de altura. O lugar era verdadeiramente deslumbrante, mas ainda assim eu tinha medo do que poderia me aguardar lá dentro.
As luzes estavam todas acessas ao redor da casa e meus pais olhavam minuciosamente o local e foi assim que soube que nunca estiveram ali antes. Como me mandam para um lugar que ao menos se deram ao trabalho de visitar ? Aquilo foi a gota d'água.
-Obrigada por me acompanharem, mas posso ir sozinha daqui- disse já pegando minha mala das mãos de meu pai.
-Filha nós queremos ver o lugar onde você vai ficar e estala-la em seu quarto antes de ir.- Disse minha mãe que parecia um pouco mais recomposta.
-Não é necessário, obrigada- me virei sem lhes dar a oportunidade de falar algo mais e fui em direção a ampla porta de madeira que ficava entre duas colunas.
Apertei a campainha ansiando por alguém que abrisse a porta antes que meus pais resolvessem entrar comigo. Na segunda vez que apertei uma mulher toda vestida de branco com uma prancheta na mão e pochete ,também branca, atendeu e me lançou um sorriso lustroso. Seu cabelo loiro estava amarrado preguiçosamente em um rabo de cavalo com vários fios soltos. Seus olhos castanho escuro, quase pretos, me fitaram compassivos.
-Sim?- Ela perguntou sem tirar o sorriso do rosto
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O Contorno de Ordiri
Romance* PRÓLOGO * Você já sentiu emoções súbitas que aparecem sem um motivo aparente? Você já sentiu que havia outra pessoa com você enquanto estava completamente sozinho ? Arissa Bergamo, uma jovem de 17 anos, diagnosticada com transtorno bipolar, tem...