Ansiedade

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Depois de ter acordado, sai do quarto vendo meu pai no sofá sentado, lendo uma revista. Bem a cara dele mesmo.

-Bom dia pai. -Disse depois de me espreguiçar, embora já tenha lavado a cara pra espantar o sono. A viagem foi cansativa.

- Oi filha. -Disse me depositando um beijo na testa.
-Dormiu bem?

-Sim. Mas ainda estou cansada. - disse deixando meu corpo cair e seus olhos me fitaram em repreensão. - Desculpa.

- Não faz isso. -Ele me disse e voltou a olhar para a revista.

- Ô pai? - Seus olhos voltaram para mim. - Você acha que eu tomei uma boa decisão em morar aqui? Quer dizer... eu deixei tudo pra trás pra ter uma vida mais tranquila longe de tanto barulho, problema, dores... mas eu não conheço ninguém aqui e me sinto uma covarde por fugir dos meus problemas.

- Ai, filha... eu sei que está insegura quanto a isso, eu também ficaria. Mas as coisas vão mudar e você vai poder fazer amizades e quem sabe namorar...vai conhecer vários lugares, você pode estudar num lugar mais calmo e tens a Tim, ela não é desconhecida e é sua melhor amiga, quase irmã. Você não é uma covarde. Aliás deu um duro trabalho te transferir para cá. Você achou que essa é a melhor decisão. Não tem como mudar, mas saiba que a sua família sempre vai te apoiar. -Meu pai diz e depois volta a olhar a revista deixando-me muito pensativa.

Embora diga com toda a sinceridade que não sou uma covarde, eu me sinto uma. Qualquer pessoa ficaria em NY, tem sempre gente que daria sua vida para estar na cidade que nunca dorme. Só que essa pessoa não sou eu! Fugi por não conseguir lidar com os meus problemas e me sentir culpada o tempo todo.
Mesmo assim, ainda estou com outro problema.

- Eu ainda estou com uma ansiedade. -Digo fitando a revista dele sobre receitas. Aliás, ele cozinha muito bem, eu até aprendi várias receitas com ele, sorte mesmo é do Erick.

- Ansiedade? -Ele ergue uma sobrancelha.

- É, como vai ser pra eu me adaptar aqui? Como vai ser na escola? E se pensar que sou uma mimada ou frequentar ou sei lá, todo mundo me olhar com cara de poucos amigos e...

- Filha? Para de ser pessimista. Você não é assim, e além do mais, quem não gostar de você não sabe o que vai perder.

- Palavra de pai não conta. Além do mais, não quero novas amizades. -Dou de ombros.

- Ae? Então se eu disser, vai lá, se eles não gostarem de você, dá um pé ba bunda deles e fica nem aí! - Meu pai tentou fazer um estilo playboy, o que não deu certo, já que ele quase tropeçou nos próprios pés me fazendo rir. Principalmente com o seu "fica nem aí".

- Desse jeito é melhor não seguir os seus conselhos.

- Hãm. Agora eu vou dar alguns conselhos pra você ver quem tem razão. - Ele diz tocando na ponta do meu nariz. - O primeiro é que não acho certo se privar de amizade ou namoro porque antes não deu certo, é meteu em monte de problemas, só porque se machucou muito filha, nem todas as pessoas são iguais. Aliás, nunca mais mude de uma cidade para outra só por causa do passado. Não é o jeito de lidar com as coisas. Voltando ao assunto, quando você namorar, não vá pela aparência...

- Pai, eu sei que o senhor só quer meu bem, mas eu tenho que aprender a me distanciar das pessoas. - Tento argumentar após uma década ouvindo seus conselhos.

- Filha, isso não vai resolver seus problemas. Muito pelo contrário, só vai aumentar seus problemas, te fazer sentir sozinha com cara de velha rabugenta, tirar a oportunidadede encontrar verdadeiros amigos, ou amor da sua vida. Dê mais uma chance. Pensa nisso, tabom?

Depois de horas ouvindo meu pai me dando um monte de conselhos eu quase dormi de novo, parece até quando você amontoa roupas e quando vai lavar, encontra o triplo deles.

- Tá pai, eu já entendi. - Digo depois de bocejar.

- Se algum rapaz te incomodar bate a cara dele com uma frigideira.

- Pai, eu não vou sair com uma frigideira na bolsa. -Digo quase rindo só de pensar.

- Então usa um spray de pimenta. - Ele diz e eu olho pra ele admirada. - Tá na moda ué. - Ele dá de ombros. - Tenho até um aqui. - Ele tira do bolso e me dá.

- Você é louco. - Eu digo enquanto observo o spray em minha mão e ele ri. - Como conseguiu isso?

- Não sei. Trabalho do seu irmão. - Ele dá de ombros.

Depois de um tempo jogando conversa fora, ele me deu vários abraços e foi embora. Eu não me segurei e comecei a chorar. Pelo menos a Dona Cármen estava aí e me deu alguns abraços, o que me consolou muito.

Á noite eu falei com a minha mãe e ela disse que o pai já havia chegado. O mais bizarro é que minha mãe perguntou porque não fomos de avião. Mas conhecendo meu pai que é mão de vaca... nem passagem deve ter comprado.

Despedi dela e fui dar ração para Tim, ela nem comeu muito, então aproveitei a sua atenção e comecei a falar um monte de baboseira pra ela.

Falar com a Tim é mais confortável do que falar com as pessoas. Meu irmão me acha louca por isso, mas nem dou bola. Ás vezes acho que falo demais que se eu fosse ela, estaria dormindo.

Depois de tanto falar com a Tim, eu senti um soninho me pegar, então tive que tentar dormir ao menos. Mas quando eu deitei a cabeça no travesseiro... Um barulho do nada começou. Pelo que percebi, eram rodas de moto e uns rapazes a rirem alto sem se importar.

Eu não pensei duas vezes e fui até á janela, abri-a e gritei:

-SEUS DESAFORADOS! NÃO VIRAM QUE ESTÃO INCOMODANDO? PEGUEM A MOTO DE VOCÊS E VÃO PARA O C@R@LHO OU VOU TER QUE DESCER AÍ E FAZER UM ESCÂNDALO! NÃO VÃO QUERER RECEBER FRIGIDEIRA NA CARA DE VOCÊS SEUS BARRULHENTOS! -Eu estava possessa de raiva e acabei soltando alguns palavrões. No início até pensei que podiam mandar umas pedras do lado de fora, me xingar ou até fazer mais barulho e não se importar comigo, mas eles foram embora. O que me deixou mais aliviada.
Mas antes ouvi um " se acalma senhorita da frigideira"
No entanto acalmei. O problema não era com eles o problema era o que ele me lembrava.

Tentei esquecer o que passava na minha mente, caí na minha cama e tentei pegar o sono. Em vão, é claro.

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⏰ Última atualização: Jan 06 ⏰

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