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Have heart, my dear
We're bound to be afraid
Even if it's just for a few days
Making up for all this mess
Light up light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you, dear

Helô sentiu o coração falhar uma batida. Ela era a ameaçada. Ela estava na mira. Geralmente, em qualquer outro cenário, não se deixaria impactar tão fácil. Ela era delegada, uma das melhores do país, não seria uma máfia que a derrubaria.
Mas isso não era só sobre ela. Era sobre Stenio também. E quando se tratava de Stenio ela sabia que sua mente ia pra lugares indesejados. A recaída com as compras assim que ele voltou do sequestro era a prova viva.
A mira em sua cabeça ela aguentava. O envolvimento de Stenio nessa história não.
— Eu quero ficar perto de você. — ele falou com a voz séria, o olhar duro e ao mesmo tempo acolhedor.
— Perto como?
— Perto perto.
— Se mudar para minha casa. — ela falou, concluindo o raciocínio dele sem o olhar.
Medo de entregar o desejo que sentiu de tê-lo por perto sim.
— E se for? — ele rebateu nervoso.
Heloísa o olhou. Sentia dentro de si uma vontade de abraçá-lo. De se deixar ser abraçada. Uma das coisas que pediu de ano novo foi uma vida tranquila. Uma vida essa que ela desejava incluir Stenio. Agora tudo parecia ruir aos seus pés com a possibilidade de sair morta de tudo isso.
— Volta... — ela falou um pouco confusa, mas rapidamente seguiu o raciocínio. — Volta a história bem do começo, nos detalhes. Vai, conta de novo.
Helô abriu a porta do apartamento e deu espaço para ele passar. Durante o tempo em que ficaram no escritório dele, com o advogado falando detalhe por detalhe tudo o que passou, os momentos do cativeiro e a violência, parando até para acalmar a respiração com a ajuda dela quando o pânico se instaurou em sua voz, ela concluiu que não tinha como ficar sozinha.
Stenio ficaria louco.
Por isso, depois de ouvir tudo, ela segurou as mãos dele em cumplicidade e falou que ele poderia ficar na casa dela até decidirem se seria melhor outro canto para ela enquanto esse caso não acabava.
Passaram na casa dele para pegar algumas roupas e outros pertences.
Não estavam casando, aquilo não poderia nem ser considerado o famoso período de teste que ela sempre fazia, mas nenhum dos dois precisava dizer em voz alta o que era o significado daquilo.
Stenio estava voltando. Ele segurava sua mão, beijava o tipo de sua cabeça.
Ele estava voltando.
Ele separou o perfume que ela gostava de sentir nele, pegou as gravatas que ela lhe deu durante os anos.
Ele estava voltando.
Ele organizava algumas coisas que gostaria de trabalhar enquanto estivesse na casa dela, pegava algumas garrafas de vinhos pois não eram de ferro.
Ele estava voltando.
E se um dia Helô se permitiu pensar nessa possibilidade, definitivamente não era nesse cenário.
Creusa apareceu na sala e abriu um sorriso enorme.
— É isso mesmo que eu estou vendo? O senhor está de volta!
— Creusa, não é... — antes que Helô pudesse continuar, ele a interrompeu.
— É um período de teste.
— Eu já ouvi essa história antes, vou já preparar uma comidinha para vocês antes de ir para a casa de Brisa.
Helô caminhou para o quarto e foi até o armário. Abriu a porta do closet em silêncio, afastando algumas roupas para caber as dele. Ao mesmo tempo em que aquele ato lhe rasgava a alma, já que não há muito tempo ela estava tirando as roupas dele dali, aquilo lhe dava uma sensação de segurança.
— Bom, eu... vou arrumar tudo aí, por que você não vai tomar um banho enquanto isso? — ela falou enquanto ele colocava a mala na cama.
Stenio pegou a roupa e foi até o banheiro dela em silêncio, e também em silêncio ela colocou camisa por camisa no armário. Depois de guardar a mala dele no alto do armário, foi até a cozinha. Creusa já arrumava a bolsa para sair.
— Olha, Dona Helô, ainda bem que vocês se acertaram, viu? Depois daquele sequestro vocês tem mesmo é que ficar juntos.
— Não se anima muito não, Creusita. — ela falou, mais para si mesmo do que para a fiel escudeira.
— Eu me animo sim, vocês foram feitos um para o outro.
Depois que Creusa saiu, Helô colocou a mesa para jantarem. Stenio saiu do banho com o cabelo molhado, uma blusa e calça de moletom pretos, e um cheiro que era só dele e tomou conta de sua casa.
Comeram em silêncio. Stenio a olhava de vez em quando, ela não ousava encontrar seus olhos. Se lembrou do dia que entrou nessa casa e a encontrou em uma crise de pânico. Seu medo era ela se fechar e se bloquear ao ponto de explodir. Queria que ela falasse com ele.
— Como estão as coisas na delegacia? — ele perguntou casualmente.
— Você falou com a Drika ontem? — ela devolveu com outra pergunta.
Certo. Ela não queria falar sobre a delegacia.
— Falei sim, nosso neto está com notas ótimas e por isso ela e Pepeu vão levá-lo de férias para Antalia.
Helô concordou.
— Ela te chamou? — a delegada perguntou.
— Chamou. E você?
— Chamou.
— Você vai? — ele perguntou com certa esperança.
— Vou. E você?
— Você quer que eu vá?
Helô parou para estudar a fala dele. Em outra época ele só iria. Não avisaria e nem perguntaria. Mas agora Stenio era outro, era mais maduro, mais responsável, e acima de tudo respeitava tudo que ela falava ao pé da letra.
— Quero. — ela disse simplesmente e voltou a comer.
Stenio sorriu, mas não estendeu o assunto.
Na hora de dormir, ninguém falou sobre sofá ou algo do tipo. Era de um comum acordo silencioso que Stenio dormiria ao lado dela, nenhuma barreira seria feita, e ele se agarraria em sua cintura, a abraçando a noite toda. Não era necessário falar. Ele se deitou enquanto Heloísa tomava banho. Fechou os olhos, levou as mãos ao rosto, pensando como as últimas horas tinham sido surreais. Como o fato de Helô ter concordado com ele sobre isso tinha sido assustador. Nenhuma resistência, nem regras, muito menos reclamações.
Ele sabia o que era isso.
Ela não o olhava nos olhos pois tinha medo, esse sentimento transparecia facilmente para o ex-marido. Quando sequestrado, Helô ficou com medo de perde-lo. Ela mesma confessou no banheiro na noite em que ele apareceu de supetão.
Quando ela saiu do banheiro, Stenio já estava sonolento. Heloísa deitou-se ao lado dele, e por um breve segundo pareceu hesitar em se aproximar.
— Vem, Helô. — ele sussurrou com a voz rouca, os olhos fechados, a mente quase se entregando.
A delegada se enfiou nos braços dele. Daquele jeito que sempre deitava, Helô se acomodou no único lugar que se sentia segura.
Ele sempre teve um sono pesado, principalmente quando era ela que estava ao seu lado. O cheiro de Heloísa, o calor da pele, o coração batendo próximo ao dele, tudo isso sempre foi um calmante, ele se sentia bem, se sentia em casa, e por isso dormia como um bebê.
Mas hoje não. Primeiro que ele acordou sem a sentir perto dele, a cama estava agitada.
— Não, por favor... — a voz dela saia miúda, um gemido dolorido. — Me deixa... não encosta em mim... por favor, não...
— Helô? — ele chamou, acordando aos poucos. — Helô...
A ex-mulher se mexia como se tentasse se soltar de algo, aos poucos os movimentos ficando mais e mais agitados. Stenio sentou na cama, pegando na mão dela, tentando chamar sua atenção, mas ela se soltou dele rapidamente.
— Por favor, não... — ela falou novamente, dessa vez com mais dor, como se fosse real.
Ficando mais desesperado, ele a chamou mais alto, segurou nos braços dela com força. Heloisa parecia muito longe dali.
— Stenio, me ajuda... me ajuda, por favor.
Aquilo fez com que ele se levantasse na cama, a sentando logo em seguida. Segurando o rosto dela entre as mãos, Stenio chamou o nome dela em desespero e só assim ela pareceu acordar.
Os olhos escuros se abriram devagar. Stenio estava ofegante, o pânico estava tomando conta dele também só de vê-la naquela estado. Quando ela se deu conta de onde estava e o que tinha acontecido, se agarrou na cintura de Stenio, abraçando com forma. O advogado parecia se recuperar do susto, olhando para baixo, fazendo um carinho leve nos cabelos dela.
Helô olhou para cima e o advogado sentiu a alma sair do corpo. Nunca tinha visto a mulher tão vulnerável como agora, nem mesmo no dia do banheiro.
— Volta. — ela falou, repetindo a palavra do seu escritório. — Por favor.
Stenio se ajoelhou entre as pernas dela, seus rostos ficando na mesma altura. Ele a tocou delicadamente.
— O que você sonhou que te deixou assim?
— Eles me levavam para longe de você... eles... me torturavam. — ela fechou os olhos e respirou fundo, trêmula. — Você não me achava. Não dava tempo.
Segurando o rosto dela entre as mãos, Stenio lhe deu um beijo leve, algo que a fizesse abrir os olhos.
— Eu nunca... nunca vou deixar nada acontecer com você. Heloísa, eu amo você.
A declaração feita assim, no escuro, na calada da noite, com ela em lágrimas e ele tremendo de desespero, foi uma das mais honestas que ele já fez. Não tinha vinho nem flores, muito menos chocolates. Era apenas ele, seu amor por ela e o medo de perdê-la.
— Eu amo você. — ela sussurrou de volta.
Stenio sentiu um alívio percorrer seu corpo. Tentando acalmar, ele a deitou, se juntando a ela logo em seguida. A abraçou por trás.
— Promete que não vai sair daqui? — ela sussurrou depois de um tempo em silêncio.
— Prometo. Para sempre. — ele sussurrou de volta, lhe dando um beijo na nuca.

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