O céu, mais um dia, estava nublado. Já pela segunda semana seguida a revelação do vento se mostrou ruim. Zacke já despertava frustrado com essa situação. Levantou e tomou seu banho, para então escolher sua roupa, sempre em tons claros, principalmente branco.
Já imaginava a mesma conversa de sempre com sua avó, aquilo já fazia parte de sua rotina, assim como um simples ato de escovar os dentes. Judit, também incomodada em ver o céu cheio de nuvens, passava os dias reclamando, alarmando seu neto de como aquilo poderia ser uma plena situação de risco.
Ser o rei do grande reino de Opala, na era mágica ciano, sempre foi uma grande satisfação para Zacke Buran, ele com apenas 23 anos comanda com sabedoria e vigor um dos territórios mais influentes desde a era mágica vermelha. Tudo em ordem e harmonia como deve estar. Judit, a antiga rainha, não teria mais com o que se preocupar enquanto ele estivesse no poder. Ela o ensinou várias das coisas que hoje o mesmo sabe, e estaria tranquila quanto ao seu reinado.
O rapaz desceu as escadas até a sala de jantar principal do castelo acompanhado de vários cumprimentos dos serventes que já faziam seu trabalho, e ao chegar encontra a senhora já em sua pose de discussão.
- Você está vendo que catástrofe?
Judit estava sentada à mesa com uma pequena xícara de café em suas mãos e uma grande expressão de preocupação em seu rosto para compensar. A senhora já com uma boa idade agora encarava o neto enquanto esperava ele reagir ao que tinha falado, mas Zacke já estava acostumado com certa reação por ela ser a mesma toda manhã, já a duas semanas.
- Vovó, já disse para não se preocupar com isso, por favor, tome seu café em paz pelo menos por hoje. - Disse para a senhora enquanto sentava se à mesa junto a ela.
- Não ouse me dizer isso enquanto você também sabe a gravidade da situação, os ventos não mentem, Zacke! - Afirmou já alterada. Com a mão tremendo, deixa cair umas poucas gotas de café em seu vestido vinho.
- Sei muito bem disso, Judit. Nossos guerreiros já estão informados, e intensificaram os treinos. Inclusive, eu já estou cuidando disso pessoalmente. Eu e Arthur vamos comandá-los. Se acontecer, estaremos prontos.
- Você sabe o que fazer, meu filho, mas tenho medo...
Judit levou a xícara até os lábios, contemplando o gosto bom do café. A senhora já com seus cabelos grisalhos, estava a cada dia prendendo o fôlego para esperar o que a revelação do vento tem a lhes dizer, esperando um céu limpo a cada manhã que acorda. Com sua experiência, já poderia dizer que o céu nublado no reino de Opala é um sinal bastante perigoso. Poderia ser uma guerra se aproximando, não imaginaria algo pior.
[...]
Ao decorrer da tarde, os treinos foram se intensificando à medida que o vento decidia o rumo que tomava. Zacke investia pesado em golpes que lançavam lâminas de vento que podem cortar, e redemoinhos que bagunçam totalmente qualquer pose de ataque de um adversário perto de si. Com poderes iguais aos de sua avó, e dos magos que confiava, estava seguro que ganharia qualquer batalha que estivesse por vir.
- Somos muito bons com os poderes, mas o que acha de testar as lanças? - Um mago indaga, enquanto carrega em suas mãos um armamento antigo.
Arthur Liam, além de ser um mago de nível alto, que comanda o exército junto de Zacke, também é um amigo de longa data do mesmo. Seus músculos e estrutura de corpo grandes assustariam qualquer um. Seus cabelos pretos amarrados num coque apenas davam um charme a mais.
- Já que insiste, mas não choramingue quando perder! - Zacke falou convicto.
Então uma luta começou. Já podíamos ver entrar em ação a grande lança que Arthur carregava. Com poder, que foi transferido de sua mão para o equipamento, um movimento igual ao de um ciclone iniciou, e foi colocado na direção do rei. Com força, os movimentos de Zacke foram desacelerados pela lança, e com dificuldade de locomoção abriu abertura para um ataque, vindo do lado oposto.
Um corte seria feito no rosto de Buran se o mesmo não tivesse desviado. Mas então foi surpreendido por uma lâmina, o fazendo levantar assustado, perdendo o equilíbrio, e o comando de sua arma, que até agora serviu para diminuir o efeito do inimigo.
A luta continuava pesada, e todos os magos ao redor mantinham a concentração intacta, mais um dia normal de treino no castelo Opala se seguia, e o céu, ainda como pela manhã, continuava nublado, o que dava gás para toda a garra do treino. Foi então que um chuvisco começou, interrompendo tudo ao redor.
- Por hoje está bom, pessoal. Bom trabalho! - Zacke logo dispensou seus magos, e todos sairam da área aberta.
- Deseja a guarda real, majestade? - Alguém do exército perguntou enquanto observava o platinado se apressar para entrar no castelo.
- Não. Fiquem atentos.
Reações elementares de alarme não são comuns na era ciano, apenas foi uma lei criada em conjunto com todos os reinos. Toda pessoa de distinto elemento que adentre as propriedades do outro, deve avisar por meio de algo que represente seu poder. Isso deve evitar várias intrigas inesperadas. No final da era mágica vermelha, este aviso já foi usado com mais frequência, até que todos os reinos se isolaram e são fechados até hoje.
Zacke rumou até o salão principal do castelo o mais rápido que pode, após se trocar e por a mesma roupa que usara pela manhã, bem mais receptiva do que uma armadura de ferro branco suja de terra. Os cabelos presos num coque foram desamarrados e voltaram a deslizar por seus ombros. Ele suspirou.
Empurrou a porta do salão principal com leveza, e lá já se encontravam magos de segurança comuns do castelo e Judit, que esperava pelo neto, para guiá-lo até a situação. Zacke olhou ao redor analisando e, assim pode notar os tensos ombros de todos ali, principalmente os de sua avó. E no meio do salão, ainda com um pé de insegurança o rodeando, um mago, de aparência diferente, olha para todos. Seus cabelos curtos e azul escuro chamaram a atenção em relação a todos, e sua estrutura não era a de um mago forte do elemento água que se prepara para uma batalha, mas a de um simples mensageiro.
- Saudações, vossa majestade, Buran, do reino de Opala. Meu nome é Dalfon Lei e estou aqui em nome do saudoso rei de Turmalina, Maory Cai - Zacke acenou, permitindo-o prosseguir. - Não tenho intenções ruins e muito menos quero alarma-los erroneamente, pelo contrário, venho aqui pessoalmente para entregar uma carta de meu rei para o senhor.
Com cautela, o mago andou pelo salão até ficar perto o suficiente de Zacke, assim entregando a carta em suas mãos, bem apresentada e com um selo azul marinho bem marcado sobre. Feito isso, se afastou até chegar ao ponto que encontrava-se antes.
- Com sua permissão, senhor, peço desculpas pelo transtorno e a reação elemental repentina. Retornarei o mais breve para meu reino e espero que vossa majestade considere ler a carta em suas mãos.
- Muito obrigada, pedirei para que um de nossos magos o guie até a saída em segurança. - Zacke falou e, por um momento, os dois trocaram olhares.
Por muitos minutos o rei de Opala ainda encarou o pedaço de papel em suas mãos, processar que um outro reino desejava se comunicar, apesar do que aconteceu na era mágica vermelha, ainda não passava por sua cabeça. Agora na era ciano, aberturas como estas são tão raras quanto inexistentes. Um fenômeno quase novo desde o começo do mandato de Zacke.
Não sabia o que esperar. A revelação do vento é claramente ruim nos céus do reino. Cenas de guerra passavam por sua cabeça, e tudo contribuia para suas mãos começarem a suar. Mas ao considerar que o mago informante que veio em nome de Turmalina não expressava nada suspeito em seu olhar, tranquilizou-se.
Já ouviu falar em Maory, o novo rei de Turmalina que subira ao trono a não muito tempo. Dizem ser um comandante sábio e criativo. As boas línguas afirmam que superará seu pai, e que terá um futuro pródigo. Mas por que a interação repentina do mesmo?
Se apressou e abriu a carta, lendo para si mesmo mentalmente.
- Marquem uma reunião com o conselho amanhã mesmo e não desviem o olhar da fronteira. Não podemos baixar a guarda
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Revelações do vento
RomanceNuvens pesadas cobrem o céu sem deixar nenhuma sombra de esperança para o Reino do elemento ar. Opala estava assim há semanas, e tudo que a revelação do vento lhes dizia eram que coisas ruins viriam por aí... ...Até um rastro de luz aparecer com uma...