your first touch.

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Noah.

*

Perdi a conta de quantas vezes esborrachei a bunda no chão somente hoje. Sem querer dramatizar, acho que contando com essa, já está na casa dos vinte.

Dessa vez, fico ali jogado no chão gelado mesmo, distraíndo meus pensamentos por instantes. Sinto uma queimação incômoda na ponta do pé, quase como um aviso de que deveria dar uma pausa por enquanto. Quando me dou conta, decido olhar o relógio redondo, pendurado um pouco acima de uma das paredes totalmente revestida por vidro.

Encosto os joelhos no peito, abraçando minhas próprias pernas por um tempo, em completo silêncio. Por causa do horário de almoço, a sala estava vazia. Gosto de treinar nesse tempo, livre de companhia e das previstas humilhações que ocasionalmente iria sofrer. Quase nem noto quando uma única lágrima salgada desliza minha bochecha á baixo, dando inicio á um choro baixo repleto de frustração.

Ás vezes gosto de ser sincero comigo mesmo e admitir que não tenho habilidade para o ballet. Me prendo unciamente a academia porque sei que apesar disso, amo estar aqui e dançar. Mas com isso, vem a parte desgastante e desanimadora. Evidentemente, gostaria de ser um bailarino super talentoso e expressivo, como quem é motivo de orgulho para Brianna, e é a única razão pela qual faz aquela mulher amargurada sorrir, ao menos, por alguns segundos.

Quase como se tivesse sido chamado, abre a porta num susto para mim. Seco bem rápido qualquer resquício de choro no meu rosto e viro somente minha cabeça na direção da porta, já que meu corpo estava no sentido contrário. Dou de cara com Joshua, aquele menino loiro (com alma de velho rabugento) das sextas à tarde. A expressão carrancuda, pior do que como está geralmente. Mas, sorri bem pequeno quando me vê, me assusto com isso. Cheguei a pensar que os vestígios de lágrimas nos meus olhos estavam atrapalhando tanto minha visão que começei a ver coisas do tipo: Joshua sorrindo para mim. (?)

Continuamos apenas nos encarando, até que lembro o dia de hoje, Sexta-feira. Olho o relógio novamente e pareço entender tudo, são 14h.

Quando descobri essa sala meio abandonada aqui na academia, Joshua apareceu dias depois, causando um alvoroço, porque de acordo com ele, o comôdo foi dele muito antes de ser meu. E já que ambos gostariam de treinar numa sala vazia, decidimos (ele decidiu) entrar em acordo e dividir o espaço.

Enquanto ele apoia a caixa de som no chão, que antes estava segurando, aproveito para levantar rapidamente, dando leve batidinhas na minha blusa branca, como se fosse para limpá-la. Dou‐me conta que segundos antes estava chorando, e pareço ficar preocupado sobre o que ele pensaria sobre isso, ancioso para sair dali o mais rápido possível.

Joshua ainda tá parado na porta, então passo por ele, tentando esconder o rosto, e saío da sala. Paro no meio do corredor quando me chama:

— Ei, Noah. – Imobilizo meu corpo por instantes, não acreditando que ele estava chamando por meu nome. Me volto para o olhar, sem realmente encará-lo, como quem perguntasse: 'o quê?'. Ele ainda fica algum tempo me olhando, sem dizer uma única palavra, o que me irrita. — Que acha de ensaiarmos juntos hoje? Se quiser, é claro.

Fico estático, parado bem ali, no fim do corredor vazio, sem saber bem o que pensar, mas também tentando adivinhar o que se passava na mente dele.

Chego um pouco mais perto.

Você bateu a cabeça?

Foi a única coisa que saiu pela minha boca. E por Deus, ele riu. Mal consigo acreditar quando ele simplesmente deixa um sonzinho gostoso escapar pela boca, junto com seu sorriso bonito. Parece até que esse momento se passa em camêra lenta, aquele típico que o personagem tem um choque de realidade. Joshua abaixando a cabeça e espremendo levemente os olhos enquanto ri baixinho, por algo que eu disse.

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2023 ⏰

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