naoi déag

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Goddamn, my pain fits in the
palm of your freezing hand

.°୭̥°

Estou novamente a caminho da plantação - como faço todos os dias -, a cesta pendurada no cotovelo, mas hoje não procuro pelos homens de papai enquanto sigo pela margem do riacho. Eles se foram. No dia anterior eu, enfim, consegui encontrar o acampamento, mas havia apenas restos de ocupação, uma fogueira ainda ardendo, um caldeirão sobre ela, como se os soldados tivessem saído apressados. Não estou certo do que pensar quanto a isso.

Ou se realmente quero pensar a respeito.

Os treinamentos com William começaram há uma semana, e todo o meu corpo protesta conforme avanço por entre as árvores, agora com certa familiaridade. Mas eu gosto da sensação. A dor em meus músculos significa que estou ficando mais forte.

Ainda não estou pronto para um confronto, mas sinto que melhoro a cada treino. William e eu nos enfrentamos todos os dias, sempre depois do crepúsculo, assim que as sombras se tornam aliadas. E mais tarde, quando a noite cai e voltamos para casa, ele me leva até o quarto, onde me ensina quão doce e bonita a vida pode ser.

Eu o amo. Amo tanto que meu peito aperta. Há entre nós um entendimento profundo, silencioso, que passou a ser tão precioso para mim. Aprendi a identificar a fome em seus olhos, o cansaço depois de um dia na lavoura, a admiração logo depois que o golpe de minha espada penetra suas defesas, a diversão sempre que tento cozinhar e o que quer que esteja dentro da panela se transforma em carvão, a adoração e o deslumbramento com que me olha enquanto fazemos amor.

Niall já não dorme no chalé, embora fique comigo durante o dia. Ele sabe o que está acontecendo entre mim e William. Todos na aldeia sabem. Mas, em vez de julgamento, encontrei ali compreensão e aceitação.

Também aprendi a trançar a palha e, apesar de ela ferir meus dedos, gosto da sensação de criar algo com minhas próprias mãos.

Em meio ao inferno, encontrei a paz. Eu sou feliz ali. E não consigo evitar pensar que esta é a vida que eu gostaria de ter, se pudesse escolher. Seria assim tão ruim se eu nunca mais voltasse? Se o príncipe Edward desaparecesse para sempre e eu pudesse ter, enfim, uma vida feliz?

Esse pensamento fica mais e mais insistente à medida que eu avisto o milharal ao longe e me recordo da expressão no rosto de William naquela manhã.

Estávamos na cozinha, ele preparava o café da manhã enquanto eu colocava a mesa. A linguiça na panela começou a lançar gotas de gordura para todo lado. Peguei um dos pratos e, usando-o como escudo, me coloquei diante de William para protegê-lo dos respingos. Ele achou graça, me abraçou pela cintura e me suspendeu, afastando-me do fogão. Soltou-me sobre o tampo da mesa. No rosto o sorriso mais cativante que eu já tinha visto.

- Fique comigo. - Ele se encaixou entre minhas pernas, as mãos quentes espalmadas em minhas coxas.

- Eu estou com você. - Abandonei o prato ao lado do meu quadril.

Ele gemeu, fazendo uma careta.

- O que eu pretendia dizer é "fique comigo para sempre". Case comigo, Edward.

Eu quis dizer sim. Quis pular sobre ele e gritar que era tudo o que eu mais queria. Mas como poderia aceitar, se eu escondia dele minha verdadeira identidade?

- William... eu... - comecei, o coração pulsando com força até não ser nada além de agonia. - Você não sabe quem eu sou.

- Sei sim. Você é o homem que eu amo. - Correu as costas do indicador pela lateral do meu rosto. - Não espero que decida agora. E sei que estaria abrindo mão de uma vida abastada para viver comigo, nesta cabana modesta, nesta vida sem luxo, mas farei o possível para que viva com conforto. Eu o protegerei. E o amarei até o fim dos meus dias.

When The Night Falls. {H.S - L.T}Onde histórias criam vida. Descubra agora