Capítulo Único

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Já era a quarta noite seguida, naquela semana, que Draco sonhava com ela. Eleanor.

O garoto bem que gostaria de dizer que eram sonhos bons, como os que costumava ter, antes de tudo virar ruína, mas, agora, estavam mais para pesadelos. Quando ele parava para pensar, não parecia tão diferente assim da vida real.

No pesadelo, ele tentava falar com ela, a fazer escutar seu lado, mas ela apenas corria, com os olhos arregalados, gritando por ajuda... ele não queria a machucar. Só queria ajudar. Por que ela não entendia isso? Por que não o deixava ajudar?

“Que tipo de ajuda você vai dar, seu grande imbecil?”, uma voz disse, bem no fundo da sua cabeça, o fazendo grunhir e cobrir o próprio rosto com o travesseiro. Talvez, se fizesse isso com força o suficiente, acabaria se sufocando, e não precisaria mais lidar com o resto das férias.

Ao invés disso, apenas soltou um grito rouco e abafado, contra o travesseiro, até perder o ar dos pulmões. Por sorte, era o único que dormia naquele andar, enquanto seus pais estavam no andar de cima, do outro lado do corredor. O que, dentro daquela mansão, era como se fosse do outro lado do mundo.

A Mansão Malfoy ficava tão silenciosa, durante a noite, que era quase como se estivesse abandonada. O único som era o da madeira rangendo, com o vento que entrava através das janelas, e o farfalhar das folhas das árvores, do lado de fora. Era dificil não se afundar nos próprios pensamentos, quando não havia mais nada á sua volta, para distrair a mente.

Checou o relógio na sua parede, concluindo que já passava das 04:30, o que significava que não faltava muito para o nascer do sol. Não seria algo ruim, se a chegada do dia não significasse mais horas e horas sentindo medo de andar pela própria casa... já estava ficando sem opções de lugares para se esconder.

Pelos últimos dias, esteve se contentando com a procura incansável de qualquer pista sobre quem era a sua tia exilada. Qualquer coisa; um nome, uma foto, um papel amassado com alguma informação que o ajudaria a saber quem ela era... não sabia exatamente o que iria fazer, uma vez que soubesse como a encontrar.

Será que era seguro, a procurar? Ou, então, estaria fazendo com que mais uma pessoa saísse machucada? Já estava se tornando um padrão na sua vida, aparentemente. Tinha a impressão de que o caos iria o perseguir durante o resto da sua vida, e que nunca conheceria a sensação de viver verdadeiramente em paz.

Principalmente quando a sua única chance de ter isso era com alguém que sequer consegue o olhar nos olhos, agora. Talvez, fosse realmente melhor continuar sozinho, como um controle de danos.

Durante seus primeiros anos em Hogwarts, depois de apenas duas ou três semanas de férias, ele já teria, praticamente, se esquecido de como eram o rosto e a voz de Eleanor. A garota se tornava apenas um borrão, muito irritante, tagarela e saltitante, vestindo gravata amarela.

Agora, mesmo depois de mais de um mês, a lembrança dela ainda era tão recente como no dia em que a viu, pela última vez. Mas, não era de se surpreender, não é? Ele a via todo dia, em seus sonhos, afinal.

Quando as reuniões começavam, e ele se afugentava para o lado de fora, escondido em algum canto dos hectares da Mansão Malfoy, e, enquanto fingia ler algum livro antigo sobre a história do Mundo Bruxo, ele se afundava em um devaneio profundo, pensando no que diria para Eleanor, se ela estivesse na sua frente, naquele momento.

Aquilo não podia ser saudável, não é? Estava pensando demais nela... mais do que o normal... não conseguia sequer folhear mais de três páginas, sem se distrair, olhando para o canto da folha, enquanto sua mente ia para algum lugar bem longe dali.

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