Woman - Doja Cat

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@kyo_tear
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A cidade pequena à beira mar era atormentada por monstros marinhos, era o que diziam os mais velhos e os marinheiros, mas aquilo tampouco teve importância ou sequer foi lembrado por Thomas. A blusa branca dobrada até o antebraço estava manchada de carmesim e o sangue gotejava ao chão, a mulher em seus braços tinha a pele negra agora em um tom acinzentado, os lábios roxos e o cabelo que antes caía em cascata se encontrava embolado, sujo de sangue e terra. As lágrimas salgadas que caiam se perderam no mar profundo que os banhava, o homem deixou um selar casto em sua testa e deixou que o corpo vagasse só pela imensidão azul.

A luz prateada iluminava a praia e o mar quando Euridice acordou, não em uma cama, não na terra, mas na água. Ela surtou quando percebeu não estar afogando e sim respirando perfeitamente embaixo d'água.

-Não se desespere, Eurídice.

Ouviu as palavras e olhou para todos os lados, mas não viu ninguém

-Estou aqui.

Então ela olhou para cima, para a lua

-Mun? Como é possível que eu esteja viva

-Se conhece meu nome sabe quem eu sou, sou Mun, doador de vida. Você se lembra do que a fez parar aqui?

-Eu me lembro... ele me matou..

-Estou dando a você uma chance de viver novamente, mas sua existência tem uma condição - Para Eurídice, aquela era não só uma chance de viver novamente, mas também de se vingar.

-Qual é a condição?

-Você trará para mim vidas.

-Eu aceito.

E assim se sucedeu o tempo, para se manter viva e jovem, Eurídice levava para Mun vidas, em específico de homens pois achava fácil de atrair, e assim foi por séculos.

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O reino de Sanomam havia uma tradição de que fosse governado apenas por líderes mulheres, então Thomas, o rei de um reino longínquo, ficou sabendo dessa tradição e da grande sabedoria que a rainha possuía, foi visitá-la e acabou sendo convidado para um dos seus rituais privados, conhecidos por serem revitalizadores.

Os tambores soavam altos, a lua cheia de tom amarelado tinha seu brilho refletido na piscina no meio do salão. A rainha caminhava majestosa por seu Palácio enquanto mais e mais corpos se juntavam à festividade. A pele negra brilhava como ouro, os cabelos presos em tranças batiam no cóccix com objetos dourados presos a sua extensão, usava vestes brancas e arejadas. A sua frente o corpo masculino tinha cabelos na altura do queixo, a pele branca suada brilhava como pérolas e olhos cheios como amêndoas a fitavam de volta, a rainha caminhava lentamente, sem quebrar a conexão, sem quebrar o olhar, o cercando como uma presa, cada vez mais perto. Foi então que finalmente pararam frente a frente, o brilho de divertimento no olhar da rainha o instigava.

-O que vocês fazem nesse ritual? - Perguntou o rei.

-É simples, eles me adoram.

-Como?

-Com palavras, com seus corpos... Eles dão o que tem a mim.

O olhar foi quebrado e Silas olhou para o emaranhado de corpos dançando no salão.

-Me mostre?

-Com prazer.

Ela o pegou pela mão e o guiou para o meio da pista, tudo começou com um sorriso, mas Thomas não notou. O corpo fluía como água e dançava como fogo sob o vento, as mãos passeavam por ambos os corpos.

-Pra completar o ritual tem que fazer algo por mim.

-O que?

-Me adore.

Passando as mãos por seu corpo ele ditou

-Eu adoro seus quadris e cintura

Ele estava todo suado e quase sem fala.

-Adoro seus seios e ventre e a vida que deles florescem.

Todos estavam suados, mas os corpos se envolveram mesmo assim. Ele não via mais ninguém além deles.

-Eu lhe juro minha devoção e lealdade.

E foi ali, com a sensação de que proximidade era tudo o que precisavam, com os rostos tão próximos que os dois respirava o mesmo ar que o olhar de Eurídice desceu para a boca entreaberta de Thomas, que respondeu aproximando-se mais. Thomas havia estado por muitos lugares e tinha a impressão de que havia visto ela em todos eles, em corpos diferentes, mas não havia outro lugar, só havia o agora e sua mente que estava por todo canto naquele momento se prendeu ali como nunca antes. Ele queria dizer isso a ela, mas não sabia dizer, pois não havia palavras, havia apenas os corpos, o calor, suor e movimento. Os corpos quentes não queriam nada mãos além de proximidade.

Eurídice juntou os lábios aos de Thomas, ele dançada em seus braços, mas lá no fundo uma voz o dizia para fugir. Lentamente seus olhos foram fechando enquanto o calor parecia aumentar, ele abriu os lábios para que Euriduce conseguisse aquilo que tanto queira, a adoração com seu corpo. Inebriado com a sensação de estar flutuando naquele sentimento, Thomas colocou sua mão no rosto da rainha, mergulhando na ação. Eurídice sorriu durante o ato ao perceber que teria aquilo que queria, não pasou muito tempo ela sentiu a pele se enrugar sob seus dedos, o movimento foi ficando fraco, lento e sentiu o corpo secar, até mesmo o suor pareceu evaporar. Até chegar num estado onde o corpo se assemelhava a uma folha seca.

O corpo caiu duro no chão e Eurídice secou com os dedos os cantos dos lábios. Ela olhou seu reflexo na piscina de água escura no centro do salão, a pele brilhava como nunca, os cílios longos e os olhos brilhava num castanho mel. Estava linda como nunca. A contemplação poderia durar para sempre, mas ainda havia uma festa pela frente, e muitos súbitos para a adorar.

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