𝂅 𝐅𝐈𝐑𝐒𝐓 𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑

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𝗣𝗲𝗿𝘀𝗼𝗻𝗮𝗴𝗲𝗺: 𝗕𝗮𝗻𝗴𝗰𝗵𝗮𝗻 !
𝖼𝖺𝗇𝖺𝗅 : 𝖽𝖺𝗏𝗂𝖽 𝗁𝖾𝗋𝗂𝖼𝗄 .

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Me mudei para o apartamento há alguns meses atrás, bem no final do verão. O lugar onde eu fiquei era muito típico, com um quarto, um banheiro e uma cozinha que divide um espaço com uma sala minúscula improvisada.
Esta seria minha primeira vez morando sozinho, e apesar de ficar constantemente com medo dos novos afazeres de gente grande que seria responsável, ainda me mantive confiante de que eu daria conta do recado; memorizei na consciência como se fosse meu nome, qual a data que meu aluguel iria vencer, quanto seria meu orçamento para a comida do dia a dia e outras contas fixas que eu deveria pagar todos os meses. Depois de ter me realocado e organizado todas as minhas coisas, eu estava sentado na minha cama procurando emprego em um daqueles grupos abertos da cidade, foi quando ouvi pela primeira vez.

Ouvi minha porta abrir e depois fechar abruptamente, como você pode imaginar, fiquei instantemente muito confuso e imóvel por alguns minutos na espera de quem quer que houvesse entrado, fizesse um segundo som, mas a espera foi completamente em vão, então eu fiz algumas buscas por todo meu apartamento e acabei me acalmando. Alguns minutos depois quando eu já havia voltado para a cama e tudo tinha voltado a normalidade, aconteceu de novo.
Um rangido lento e então uma batida repentina quando a porta foi fechada, desta vez fiquei um pouco mais irritado do que assustado, me levantei na mesma hora resmungando sozinho e vasculhei meu apartamento mais uma vez, mas não encontrei nada, nenhum sinal de um intruso ou coisa do tipo, apesar de pensar bastante sobre o assunto, a única explicação que encontrei era de que a porta do meu quarto estava com a trava quebrada, aquelas que colocam atrás das portas como o encaixe para impedir que ela encoste na parede e também feche inesperadamente, como estava acontecendo.
Na minha antiga casa eu costumava fechar a porta com frequência, mas aqui, significa que meu quarto ficaria muito quente e claustrofóbico, por esse motivo, eu tinha que manter minha janela aberta quase 24 horas por dia, e esse podia ser o principal motivo da minha porta ficar abrindo e fechando sozinho, afinal, era resultado da corrente de ar que entrava pela janela, o vento empurrava a porta e o peso da mesma fazia com que o estrondo fosse cada vez pior. Enfim uma utilidade para minhas aulas de física, porém, com o decorrer dos dias, isso começou acontecer com tanta frequência que eu nem me importei mais.

Pouco tempo depois de começar alguns cursos extras, fiquei estudando até tarde para as minhas primeiras provas, estava particularmente frio naquela noite, então fui e fechei a janela; da minha posição na cama eu não tinha uma linha de visão privilegiada da porta, para isso, teria que me inclinar para frente e só então conseguiria ver a porta. Enquanto eu estava revisando o material que meu professor havia passado, eu ouvi aquele som muito familiar de abertura lenta e fechamento abrupto, os pelos da minha nuca se arrepiaram e imediatamente tive a sensação de estar sendo observado, dei um passo tremendo de medo em direção à porta e o abri olhando para o vazio escuro que era o meu banheiro; andei por todo o meu apartamento e nenhuma janela estava aberta.

Em outras palavras, percebi que não havia como existir uma razão racional para aquela porta se abrir como normalmente fazia, não havia explicação lógica, a não ser que... não, não, fantasmas não são reais!

Voltei para minha cama e tentei retornar meus estudos, mas naquele momento já não conseguia pensar direito, tudo que eu conseguia imaginar era que alguém estava em algum lugar do meu apartamento me observando. Sei que parece uma ideia estranha, mas a sensação que comecei a ter era completamente indescritível, pensei comigo mesmo que de jeito nenhum dormiria no meu apartamento aquela noite, então, liguei para um monte de conhecidos da faculdade ou qualquer pessoa que morasse na mesma cidade para ver se alguém tinha algum espaço para eu dormir, mas infelizmente alguns não me atenderam e outros estavam com a réplica completamente lotada de universitários.
Totalmente desolado, olhei na direção do meu quarto e estremeci, era minha única alternativa, então me deitei e acabei dormindo no sofá.

Nada aconteceu por algumas semanas, e eu quase tinha esquecido dessa sensação se não fosse pela porta constantemente se abrindo e depois fechando repetidamente.

Certa noite, por volta das 2 da manhã, acordei assustado, não tive pesadelos ou sonhos estranhos, nem me sentia cansado, mas me vi de pé acordado; eu tinha fechado as janelas antes de dormir, porque esse apartamento fica bem ao lado de uma estação de trem e o barulho era insuportável. Me sentei na cama cercado por um silêncio mortal e o único barulho que eu via era o sangue bombeando pelo meus ouvidos, quando finalmente me deitei fechando os olhos, ouvi a porta se abrir, mas dessa vez, não se fechou.
Me inclinei para frente para ter uma visão melhor da porta e gritei quando meus olhos encontraram dois outros olhos igualmente abertos, suas pupilas eram tão negras quanto a penumbra que o cercava; fiquei ali sentado paralisado com a imagem, eu vi uma mão que parecia ter se manifestado da escuridão descansando na porta, sua pele estava enrugada bem solta do osso, seus dedos eram longos e finos, e suas unhas eram como adagas presas a ponta de suas mãos; a coisa bateu ritmicamente com os dedos na madeira ainda olhando fixamente para mim, seus olhos estavam voltados para cima como se estivesse sorrindo, mas não vi nenhuma boca.
Nesse momento, eu estava lendo que poderia ser reconhecido como horrorizado, tudo o que eu podia fazer era observar enquanto aquilo entrava no quarto movendo-se desajeitadamente como se tivesse acabado de crescer todos os seus membros e ele estivesse apenas testando-os.

Ele parou ao pé da minha cama, parecia que essa figura havia sido construída com arame alongada além da proporção normal de um ser humano, eu podia ver suas costelas cutucando sua pele implorando para serem libertadas de sua caixa torácica, ele era quase tão alto quanto as paredes do meu quarto, facilmente tendo mais de três metros de altura; a coisa levantou seu braço incrivelmente fino e apontou para mim, então, ouvi uma coisa.

- Fuja.

É óbvio que isso não teve que ser dito duas vezes, saí correndo da cama e passei por ele em direção à porta da frente, parecia que eu tinha corrido cem metros ou uma eternidade, como se fosse impossível escapar e eu não conseguisse me mover de fato, mas cheguei à porta da frente e rapidamente peguei minhas chaves, e antes de sair dei uma olhada pra trás, a figura parecia estar sorrindo enquanto olhava atentamente para meus movimentos desesperados como se fosse seu passatempo.

Rapidamente me mudei depois disso, só voltando no apartamento durante o dia e para arrumar minhas coisas e ir embora. Encontrei outro que era um pouco mais caro, mas fiquei feliz em pagar o que fosse para sair daquele lugar.
Alguns meses depois, enquanto eu estava trabalhando em uma apresentação de inglês, o canal de notícias passava na tv e chamava minha atenção, nele o jornalista dizia:

- "Recentemente, o proprietário de um dos apartamentos da cidade, foi preso pelo assassinato de seis inquilinos ao longo de seis anos, sua vítima mais recente, Agatha Walter, foi dada como desaparecida a dois meses, e quando os vizinhos de Agatha relataram o mau cheiro vindo de seu apartamento, dois policiais apareceram no local e encontraram o proprietário abraçado com o corpo decapitado da jovem desaparecida."

As notícias mostravam uma imagem do proprietário do lugar e seu nome, o meu sangue gelou quando reconhecia o homem como o mesmo que eu tinha alugado o apartamento para mim. Nesse momento, houve uma batida na minha porta e fui até ela e no capacho havia uma caixa, olhei para esquerda e para direita no corredor e não vi ninguém. Isso era estranho, primeiro, porque não estava esperando nenhuma encomenda, segundo, porque não havia um entregador lá fora; peguei a caixa, e junto a ela havia um pequeno bilhete com uma escrita complicada que dizia "vejo você em breve."

Eu abri a caixa e me arrepiei, dentro havia um monte de fotos minhas dormindo deitado na cama, todas tiradas do mesmo ângulo em que aquela porta vivia rangendo.

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⏰ Última atualização: Jan 20, 2023 ⏰

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★ -- 𝐃𝐀𝐑𝐊𝐑𝐎𝐎𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora