● Amren's POV
O sol do meio-dia brilhava forte quando todos resolveram almoçar juntos — e Rhys mandou aqueles cachorros até meu apartamento para avisar-me da ideia.
Já tinham se passado dois anos desde a guerra mais recente contra Hybern, e segundo o filho de Beron, Lucien, a Corte Primaveril estava aos pedaços. Tamlin se afundara em sua obsessão por Feyre, e vivia mais como fera do que um feérico normal.
Confesso que nunca me importei muito com a Primaveril, mas estive lá poucas vezes. Era um lugar bonito demais para ser simplesmente largado às traças.
Afugentei Cassian e Azriel de meu apartamento, dizendo que ia logo em seguida. O general deu uma risada sarcástica e levou o mestre-espião consigo. Pelo menos alguns minutos de paz.
Observando meu apartamento antes de sair, vi largado em cima da cama uma carta com o símbolo da Corte Estival — Varian. Faz um certo tempo desde que não o vejo, mas ele vivia constantemente enviando-me cartas; dizendo que sentia minha falta, na maioria delas — como ele era meloso... —, falando sobre como o cargo de príncipe da Estival era chato e estressante — e eu me preocupava, bem no fundo.
Quando finalmente me vi, percebi que estava caminhando lentamente para a Casa do Vento. Tudo bem, então. Uma caminhada me faria bem.
A lembrança de casa — não a de Prythian — sobreveio de súbito. Pensar em cargos altos — e que traziam estresse — me lembrava da minha antiga comandante. De como ela conseguia esboçar o que os mortais chamam de "preguiça". Nefertari era uma ótima comandante e ela chegou mais próxima de ser uma amiga. Assim como eu, ela era curiosa. A única, em meio a tantos seres frios.
Vendo todos aqueles degraus até a Casa, atravessei rapidamente até lá. Já tinha feito muita coisa ao simplesmente caminhar até aqui. Dando poucos passos, encontrei todos sentados na mesa. Morrigan acenou para mim, e retribui com um aceno de cabeça leve.
— Achei que não viria mais, Amren — disse Rhys ao me ver, com uma taça de vinho espumante pendendo de suas mãos.
— Você mandou seus cachorros até mim — respondi rispidamente. — Então eu vim.
Caminhei até uma cadeira próximo de Nyx — que deu um sorriso bobo ao me ver —, e cumprimentei Feyre e as irmãs com o olhar. Os cachorros e Mor estavam conversando animadamente sobre um assunto qualquer, mas me recostei na cadeira preguiçosamente.
Era tão estranho me lembrar de Nefertari tão de repente. Há meses eu não penso em casa ou sobre a comandante. Como será que ela estava?
Será que ainda pensava em mim? Sequer lembrava-se de mim?
O mais novo membro da família tentou alcançar meu cabelo, e estendi meu dedo até ele, para que o pequeno feérico o pegasse. Nyx brincou com ele — mas me afastei quando percebi que ele queria comer meu dedo —, e os olhos de Nefertari surgiram em minha mente.
Me levantei da cadeira bruscamente, dando a desculpa de que não sentia fome e fui para uma varanda distante deles. Talvez fosse desrespeitoso com Rhys, mas eu precisava de um tempo. Era estranho isso. Tudo isso era estranho.
O ar puro acalmou meus pulmões contraídos. Os raios incandescentes do sol esquentavam tudo o que tocavam como chamas abrasadoras, o som do mar quebrando em algum lugar próximo era abafado por violinos tocando em harmonia. Poucas nuvens tingiam de branco aquele céu azul, brancas como algodão.
Culpa me atingiu como um soco. Nefertari deveria estar sendo a máquina de matar como foi criada, e eu aqui, admirando uma paisagem bonita, em um almoço com as pessoas que prezavam por minha presença.
— Amren? — esperei que fosse o Grão-Senhor, mas o mestre-espião caminhou cautelosamente até mim. — Está tudo bem?
Murmurei uma resposta qualquer. Me afastei alguns passos.
— Você não está normal. — disse ele, suas sombras tentando me tocar.
— Eu só estou sem paciência.
Azriel permaneceu me observando, não acreditando no que eu disse. Contar algo tão pessoal ainda era novo para mim, mesmo convivendo por tantos anos com Rhys e o Círculo Íntimo.
Vendo minha apreensão, o mestre-espião assentiu uma vez somente com a cabeça. Inspirei profundamente.
— São... lembranças. — respondi, utilizando todo meu autocontrole para não encolher-me. — Do passado. Lembranças sobre coisas durante épocas em que Pryhtian nem existia.
As sombras se retraíram, revelando seus olhos contemplativos. Azriel se aproximou e apoiou-se na grade da varanda.
— Questões não resolvidas?
— Pessoas deixadas para trás. — fiz o mesmo que ele, iniciando um olhar para a cidade não muito distante. — Que mereciam muito mais que eu de estarem aqui.
— Compreendo.
Ambos sabíamos que era uma mentira dele, porém, concordamos internamente de acreditar naquilo.
Antes de que ele pudesse abrir a boca para dizer algo, uma explosão sem qualquer ruído surgiu nas montanhas, como uma estrela anã nascendo.
Senti algo me chamando para aquilo; uma voz doce que sussurrava uma melodia lenta e suave em meus melhores sonhos.
— Precisa me levar até lá — argumentei quase inconscientemente. — Agora.
— Preciso avisar Rhys antes...
— Não. Agora.
Azriel me encarou com dúvida, mas não protestou mais. Estendeu a mão cheia de cicatrizes e nos atravessou até lá. Não me importei com o frio mortal das montanhas ao ver o ponto exato de nascimento da luz. E o que estava ali...
— Pela Mãe... — sussurrou ele, com um arquejo cansado.
Não era à toa que eu estava lembrando tanto sobre isso.
Por que meus instintos previram a chegada dela.
Nefertari.
Olha, eu sei, para um capítulo introdutório está uma provável porcaria, mas calma, virão coisas melhores. E existe um motivo para isso: geralmente eu faço capítulos com mais de duas mil palavras, e para eu não desistir dessa, resolvi fazer os três primeiros capítulos mais curtos e os próximos um pouco mais extensos.
Uma das minhas regras ao fazer fanfics sempre foi de manter a personalidade dos personagens o mais fielmente possível aos dos livros, mas nesse primeiro, eu sei que não foi muto possível. Me perdoem se talvez a Amren ou o Azriel saíram "do personagem". Eu juro que tentarei preservar mais a alma deles nos próximos.
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As suas estrelas
FanfictionNefertari é da mesma espécie desconhecida de Amren, e por um acaso, ela aparece em Velaris, como sua "aposentadoria" perto de sua antiga amiga. Três anos depois, após aprender o básico sobre sentimentos, ela enfim convence Drakon a irem fazer uma vi...