prólogo

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Assim que vi meus pais diante de mim, ambos baleados, eu sabia que eles iriam se tornar errantes em poucos instantes. Eu soube que estavam vivos, pois lutavam para se mover, mas não consegui agir, até ver meu pai olhar para mim.

Estive escondido no sótão da casa do sítio durante todo o assalto. Assim que os saqueadores chegaram, meus pais foram avistados, então não havia muito a ser feito, além de aceitar. Mas eu estava longe, e logo que me dei conta da situação, não tive opção além de me esconder, mas consegui ouvir tudo.

Acorrentaram meus pais na grade da porta do jardim, que era mais firme, enquanto roubavam nossa comida, e não deixaram nada. O sítio era o lugar em que estocávamos mais suprimentos, pois era muito longe da cidade, e era fortemente cercado, o que dificultava a passagem de errantes. 

Aproximei-me dos meus pais assim que ouvi meu pai murmurar algo, quase que em desespero.

-Pelo amor de Deus, o que eu faço? Cristo, pai, mãe, vocês vão morrer, estão muito feridos. Diz pra mim o que eu faço, por favor, mãe-eu digo, em súplica.

Mas eles estavam profundamente machucados, foram baleados mais de uma vez. E, para piorar, eu não sabia onde estava a chave da corrente que os prendia. Mesmo se soubesse, não havia muito a ser feito.

-Vá para a casa da Amanda, diga aos pais dela o que aconteceu, eles vão te orientar. Mas não fique aqui, os tiros dos bandidos devem ter chamado atenção dos errantes. Logo vai estar cheio, e você não vai conseguir fugir. Vá embora, filho. Eu te amo demais, muito mesmo-diz meu pai, com muito sofrimento na voz.

É um desafio processar as palavras dele, mas busco tentar entendê-las enquanto me abraço fortemente aos meus pais, presos numa grade comum, prontos para morrerem em alguns instantes. 

-Eu te amo, filho. Vai embora-diz minha mãe.

Sinto seu braço acorrentado me apertar, e sei que esse gesto está consumindo toda a energia dela. A dor desse momento torna muito difícil a minha mobilidade.

-Jesus, preciso de ajuda. Mãe, pai-digo, aos prantos.

Meu pai se vira abruptamente. Com terror na sua face, consigo deduzir. Os errantes chegaram, e logo chegarão até nós.

-Vá agora, use minha moto. Toda a velocidade, não pare por nada. Pegue a arma que eu deixei embaixo do sofá e corra. Não vou dizer de novo-diz meu pai.

-Obedeça, Dmitri. É uma dor isso, mas vai doer mais se você for atacado. Por favor, obedeça-minha mãe endossa a vontade do pai.

Abraço-os com força e instruo meu corpo a fazer o movimento mais difícil da minha vida, que é me levantar e ir abandonar meus pais para a morte.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2023 ⏰

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