PARTE UM

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❝O que eu não daria para estar na igreja esse domingo, ouvindo o coral tão sincero, todos cantando: "Deus te ama, mas não o suficiente para te salvar", então menininha, boa sorte cuidando de si mesma❞

— Ethel Cain, Sun Bleached Flies





PRÓLOGO


Na manhã de 1 de novembro de 1981, enquanto Petúnia Dursley ia pegar o jornal e gritava ao se deparar com uma bebezinha deixada em frente à sua porta, o Mundo Bruxo acordava para descobrir que Voldemort estava morto. Eles gritaram também, pulando e se abraçando e lançando fogos de artifício com suas varinhas; feitiços que explodiam no céu acinzentado e caíam de volta na terra, se polvilhando em cima de suas casas e cabelos e roupas como flocos de neve coloridos e reluzentes, cada pequena chama tão única quanto a magia da pessoa que a criou. Eles todos estavam felizes demais para se importarem com os Trouxas.

Engraçado. Eles não se importavam com muitas coisas, aqueles bruxos bobinhos.

As festas que se seguiram foram longas. Aconteceram danças e bebidas foram compradas e longos abraços foram dados, famílias e amigos que tinham sido separados por tempo demais se reencontrando em um estado de êxtase e alívio nunca antes experimentado. Demorou um bom tempo para eles conseguirem se acalmar o suficiente para se perguntarem "mas, ei, o que aconteceu com Você-Sabe-Quem?"

A resposta, um comunicado do Ministro, saiu no Profeta aquele mesmo dia.

"Você-Sabe-Quem invadiu a casa da família Potter," foi o que dizia entre outros detalhes que a maioria não se importaria em lembrar depois de dois segundos e dois copos. "Ele foi lá para os matar e ele conseguiu derrubar James e Lily Potter, um casal importante na resistência contra Você-Sabe-Quem, mas, em uma grande demonstração de magia acidental, quando ele tentou fazer o mesmo com a filha de um ano deles, Harriet, o feitiço ricocheteou."

Dias depois, a morte de Peter Pettigrew e subsequente prisão de Sirius Black ganhou mais comoção e atenção do que a pequena Harriet Potter jamais iria ganhar. Havia algo horrendo naquela história, uma carnificina logo quando eles achavam que a guerra tinha acabado de vez, e trouxe um estranho, mórbido fascino em direção ao homem que acabou explodindo em tantos pedacinhos quanto os fogos de artifício deles, deixando um só dedo para ser encontrado, e o homem que tinha, em sua loucura e crueldade, causado tal explosão.

Isso sim era o tipo de conto de terror que toda criança bruxa iria lembrar. Isso sim era uma narrativa com um herói e um vilão claros, e um ato de muita coragem da parte de Pettigrew que era diferente, melhor, do que o simples, inacreditável acidente que uma bebezinha qualquer tinha causado. Eles queriam um mártir, uma imagem trágica para ser consagrada, exaltada, queimada como Joana em uma fogueira; não só uma menininha que estava no lugar certo, na hora certa, e nada tinha feito.

Se Harriet fosse Harry eles iriam o chamar de O Menino Que Sobreviveu e o coroar como um herói. Do jeito que as coisas eram, eles não deram à Harriet nenhum apelido maneiro, mas se fosse para eles darem, provavelmente seria escolhido algo como A Menina Que Teve Sorte. Assim como a história dela, não iria pegar tanto.

E Harriet–

Bem, ela não se sentia muito sortuda assim, para ser sincera.


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⏰ Última atualização: Apr 25, 2023 ⏰

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