🪽 Capítulo 1 🪽

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      Sinto a pequena entrada de luz bater no meu rosto, desperto me dando conta de que mais uma vez ele me agrediu até eu perder a consciência, o cheiro de mofo que é repelido pelo meu nariz se torna forte, assim como toda a sujeira e poeira desse local que é meu lar durante tantos anos.

Nunca vou entender por que ele me odeia tanto, ele é meu irmão, nunca fiz nada pra ele, mas agora, sinceramente eu não fico mais pensando nisso nem tentando entender por que minha família me trata assim, aprendi da pior forma que obedecer é a única coisa que posso fazer pra sobreviver.

Já não como há alguns dias, acho que foi por isso que perdi logo a consciência... Escuto barulhos na porta, alguém está entrando no porão, só peço que seja lá qual for a Divindade que me escuta, pra deixar que eu descanse pelo menos hoje.

Alma - Anda seu inútil, vem comer.

Ângelo - Tá bom mãe.

Alma - Já falei pra não me chamar mais assim seu nojento, eu nunca vou aceitar ter um filho como você, se soubesse que você ia nascer assim, concerteza tinha te abortado.

Ângelo - Desculpa...

Falo baixo e me encolho pra não apanhar mais, escuto ela bater a porta e trancar como sempre, vou tentar comer, estou me sentindo sem forças, e as sobras de comida que eles me dão são quase nada.

Ela sempre foi assim comigo, sempre teve aversão ao fato de eu ter nascido Albino, ela me tirou da escola quando completei treze anos, disse que não queria ter que ser a mãe do único albino da escola.

Desde então ela me jogou aqui onde sempre fico trancado, só estudei até a oitava série, e agradeço a Deus por isso, pelo menos eu sou capaz de ler e escrever, eu tento não ter raiva dela, ela não pediu pra ter um filho defeituoso, não a culpo por me odiar, ela é minha mãe e eu a amo mesmo ela me tratando assim, é a única mãe que eu conheço então, vou sempre tentar entende-la.

Só ela vem aqui pra me dar alguma coisa pra comer, meu pai só vem quando se droga demais e quer descontar suas frustrações em mim, a última vez que ele veio, tenho certeza que quebrei alguma coisa que dói até hoje, mas passei a vida quase toda assim, acho que já acostumei a suportar a dor que é a minha vida, sempre tentei ser um bom filho, mas isso não faz diferença, eles me odeiam só pelo fato de eu ter nascido.

Como os restos que ela me trouxe pois sinto que não tenho forças nem pra ficar de pé, e preciso pelo menos aguentar se caso meu irmão decidir vir hoje de novo, ontem a noite ele chegou bêbado, concerteza estava enchendo a cara em alguma das Casas de prostituição dos meus pais, ele veio já com ódio no olhar.

Nunca entendi o que eu fiz pra ele de tão ruim, ele me bateu até eu desmaiar, se ele vier hoje de novo talvez eu nem acorde mais, e talvez seja melhor assim, sempre senti que minha existência era um erro, seria melhor morrer de uma vez pelo menos eles vão ser felizes livres de mim e eu vou parar de sofrer tanto.

Deito no canto do porão onde é menos frio, qualquer um que olhar pra onde eu passo todos o meus dias, diria que é um cenário de terror, paredes mofadas e sujas, goteiras, mal cheiro, móveis velhos, mas acho que não me assusta mais, já estou há tanto tempo aqui sozinho que nem me atento aos detalhes desse ambiente em que vivo, tento dormir pra ver se esqueço das dores pelo o meu corpo, acho que é meu jeito de consolar a mim mesmo nos piores momentos que passei aqui e que sei que ainda vou passar.

✨Anjo sem Asas✨Onde histórias criam vida. Descubra agora