Conto 2 - Aquiles está proibido de ver filmes de ação

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Notas e recados ao fim da página


PREÂMBULO INTROMETIDO


Apesar do meu trabalho ser contar vantagens e histórias de amor, a verdade é que não sou lá tão romântica assim. Talvez, o fato de que eu vivo de mostrar a intimidade de casais em situações ordinárias seja o motivo para o cinismo. Talvez, seja algo de berço.

Até onde me lembro, eu nunca acreditei em almas gêmeas. Acredito, sim, em duas pessoas que se apaixonam, mas que depois cortam um dobrado para manter o relacionamento pelo resto da vida, simplesmente porque o amor sempre faz valer a pena.

Porém, às vezes, Aquiles e Raquel, de tão perfeitos, quase me fazem dar crédito à teoria de "almas gêmeas". Mas até essas duas metades da laranja são capazes de entrar em uma boa briga, vez por outra. Por isso, não espere do que vem a seguir uma historinha boba, um romance água com açúcar, mais um desses contos que arrancam suspiros (e bocejos, sejamos realistas) de qualquer leitor.

Prepare-se para um conflito de proporções épicas!

Você não sabe ainda, mas Aquiles e Raquel também discutem. Na verdade, eles brigam mais do que o Pernalonga e o Patolino em temporada de caça ao coelho.

Ou será ao pato?

O exemplo foi apenas para te dar uma ideia do que acontece quando o casal Aquiles e Raquel passa por um de seus argumentos antológicos. Sem mais delongas... hora da violência!

Não. Sério. Essa é uma história cheia de violência.

ATO 1 - HISTÓRIA DE ORIGEM - COMO AQUILES VIROU UM FANÁTICO POR FILMES DE AÇÃO

Raquel não era uma pessoa desastrada por natureza, mas, às 3 horas da manhã, em um apartamento abarrotado de caixas e mergulhado em densa penumbra, qualquer um tropeçaria oito vezes e cairia outras quatro. O fato é que quando ela encontrou seu namorado, Aquiles, no sofá, Raquel sentia-se mais dolorida do que os figurantes que apanhavam no filme que passava na TV.

Normalmente, Aquiles não abandonaria seu filme por nada, mas Raquel chegou literalmente capotando até o sofá, com direito a topada no dedinho e tudo. A moça exclamou um "Ai!" especialmente retumbante naquela hora da madrugada e aterrissou no sofá, ao lado do jovem. Aquiles podia jurar que o sofá inteiro sacudiu diante dos míseros 55 kg de namorada.

— Aquiles, você precisa de ajuda.

— Por que você diz isso?

— Porque você está assistindo Jackie-Chan pela oitava madrugada seguida.

Lógico que Raquel estava preocupada com a insônia persistente de seu amor. Mas não posso deixar de informar que toda sua ênfase estava em "Jackie-Chan". A baixinha simplesmente não entendia o fascínio de Aquiles por aqueles filmes de luta, sempre tão iguais uns aos outros. Nem dava para chamar sua humilde opinião de preconceito ainda, meramente de ignorância.

Pelo menos, o motivo da insônia ela entendia. Aquiles estava envolvido, para não dizer obcecado, com uma campanha publicitária na qual trabalhava no momento. O trabalho em si não era impossível, especialmente porque Aquiles (apesar de ele não acreditar nisso) era muito bom no que fazia. Foi justamente o motivo de ter sido chamado pelo nome por um cliente extremamente importante.

Traduzindo: extremamente rico.

Para Raquel, nenhum estresse desse mundo poderia justificar uma insônia de oito noites seguidas. Mas ela sabia que era uma pessoa mais tranquila do que o millennial comum. Já para Aquiles, aquela insônia era uma das mais "suaves" em toda a sua vida.

Raquel não sabe usar o Spotify e outros contosOnde histórias criam vida. Descubra agora