Letters to the lost • Jikook

Prólogo - A caixa dos perdidos.

Kim Taehyung não poderia estar mais orgulhoso pela nova aquisição adquirida graças aos anos de trabalho árduo. Afinal, havia comprado uma casa! Uma inteiramente sua e, diferente de tudo que já havia habitado, era em um lugar mais isolado na província de Gyeongsang, um local totalmente quieto e refrescante — diferente da sua vida agitada no centro onde morava, em Seoul. Apesar de feliz, ainda havia muita coisa a ser feita, afinal, como era agora sua responsabilidade, tinha que reformar tudo dos pés a cabeça. 

Enquanto olhava para o terreno a sua frente, ainda segurando suas malas surradas e empachadas de roupas amassadas, Taehyung suspirou, lembrando que só conseguira comprar aquela casa por um motivo específico: Ela estava caindo aos pedaços, literalmente.

Ao ouvir o barulho do motor do carro de aplicativo se afastar, pensou na grande lista de coisas que deveria fazer dali por diante. 

Sabia claramente que o seu futuro salário não daria para pagar todos os gastos que a casa parecia querer dar, pelo menos não de imediato. Porém, graças ao seu montinho que vinha juntando faziam-se alguns anos, poderia deixar a casa ao menos aconchegante. Ele então suspirou novamente, carregando suas coisas até a frente da casa. Quando abriu a porta principal foi atendido por uma rajada de ar misturado com o odor forte de mofo e de madeira em seu estado de decomposição. 

“Essa mudança vai ser longa…” pensou, dando um longo suspiro.

(...)

Após deixar suas coisas na sala de estar decadente, pegou o molho de chaves para que pudesse abrir e explorar a casa nova sem proibições. Abriu seu futuro quarto, o seu novo escritório, dentre os outros cômodos que já conhecia pelas visitas anteriores ao imóvel. Por fim, deixou todas as janelas abertas para, ao menos, deixar o ar mais límpido e com o cheiro das roseiras que vinham da sua nova vizinha. Ainda que um pouco longe, as rosas deixaram um radar de odor agradável. A senhora, dona do casarão, cuidava das belas flores com esplendor e Taehyung nunca esteve mais grato por morar perto de uma amante de rosas.

Mas ainda lhe faltava explorar um cômodo, um quarto que nunca havia sido aberto desde que o proprietário da casa morrera, deixando-a do jeito que estava desde então. Ao tomar a coragem necessária, Taehyung subiu as escadas com o molho de chaves na mão. Pensava asneiras enquanto supunha o que poderia conter dentro do quarto em questão. Pessoas mortas? Um ninho de ratazanas? Itens de colecionador? bonecas amaldiçoadas? Um guarda-roupas mágico? Tantas suposições que transpareciam em sua cabeça, indo e vindo a cada passo dado pelo jovem.

Entrou – finalmente – no quarto escuro. O ambiente cheirava inteiramente a mofo, fazendo o Kim espirrar assim que arrastou a porta e deu o primeiro passo para dentro. A luz que iluminava o cômodo vinha apenas da pequena janela, antes de pintura branca mas que agora tinha um tom amarelado e com a madeira já craquelando devido ao tempo e ao local úmido. Estava completamente vazio, com alguns jornais velhos no chão, poeira aos montes e cascas de tinta da parede e do teto caídos na madeira que revestia o piso. O garoto foi direto para a janela e, com dificuldade, abriu para que o local pudesse ficar mais ventilado. De relance, se assustou ao perceber uma única decoração naquele local tão mórbido: Um grande quadro.

Se aproximou, curioso. Havia um homem pintado na imagem, estava sério e aparentava vestir roupagens militares. Tocou na moldura que resistia às ações cruéis do tempo com delicadeza, para que não ocorresse algum acidente e ela simplesmente se transformasse em pó. Era uma bela moldura, parecendo ter sido feita inteiramente à mão, cada mínimo detalhe. Correu os olhos até a parte de baixo, havendo um nome esculpido diretamente na madeira que rodeava a pintura, o hangul estava esculpido  impecavelmente, formando o nome do – provável – antigo proprietário daquela casa. Taehyung passou a dedilhar a escrita em relevo, nele estava escrito: 전정국.