Capítulo Único

7K 768 908
                                    

As aulas eram monótonas, eu já olhava para a porta aberta, e encarava meu amigo da sala ao lado. Química nunca foi minha matéria preferida e por isso, eu não a entendia. O que, claro, resultou que tive de recorrer a ele.

O sinal bateu, anunciando o término das longas seis aulas do dia. Colegial sofre mesmo. O refeitório lotado, almoço na escola sempre era a mesma droga, o mesmo inferno de fila, o mesmo cardápio e a mesma atendente que fazia questão de me cantar.

Sei que não era saudável pegar um salgado em vez de uma refeição, mas a fila era de desencorajar até um deus.

- Vai acabar engordando com tanta porcaria. - eu ouvi a voz de Sasuke me dizer. Como se eu já não soubesse disso. - Consigo o almoço para você em dois minutos. - ele sorriu, olhando a fila.

- Você vai pagá-lo também? - perguntei irônico.

- Pego o almoço e ainda vai me dever cinco reais. - ele finalizou indo em direção ao começo da fila e o vi cumprimentar uma garota do primeiro ano, já enlaçando sua cintura e discretamente furando a fila. Ele era um maldito cretino, girou a garota devagar, enquanto sussurrava algo em seu ouvido e olhava para mim com um sorriso cafajeste.

Resolvi pegar já uma mesa e deixei minha mochila cair, desabar na cadeira. Sentei-me enquanto esperava meu plantonista.


Como assim, vocês devem perguntar.

Plantonistas são pessoas escolhidas pelos professores para ajudar alunos com dificuldades. São os queridinhos dos professores, e nós não podemos reclamar de seus métodos ou tempo.

Sasuke não era um mau plantonista. Ficávamos toda segunda, quarta e sexta depois das aulas até às quatro da tarde. Duas horas de plantão no mínimo, na sala de vídeo no quinto andar. Ajudava-me em física e química, e eu nem podia reclamar, ele me ensinava mais do que eu precisava, acho até que essas aulas estavam por fim. Não que eu tivesse aprendido tudo, mas pelo menos a matéria do ano eu havia conseguido aprender.

Não deu cinco minutos e ele já estava de volta à mesa com meu prato e, obviamente, seu sorriso malditamente presunçoso.

- Parabéns. - eu disse. - Provou ser um perfeito cafajeste. - acrescentei enquanto botava sal na minha batata frita.

- Não posso fazer nada se elas me amam. Ficou com ciúmes? - ele questionou enquanto se inclinava para frente e roubava uma de minhas batatas.

- Inveja seria melhor. - respondi. Odiava quando ele começava com frases de duplo sentido. - Sakura realmente é afim de você, não devia fazer isso com ela. - ele olhou sério para mim e bufou enquanto voltava a encostar-se à cadeira.

- Ela não faz meu tipo.

- Qual seu tipo? - perguntei sarcástico pela resposta que ele SEMPRE dava a QUALQUER garota.

- Gosto de cabelos loiros. - ele me encarou sorrindo.

- Loiras? - perguntei surpreso, nunca o havia visto com uma.

- Não exatamente. - ele disse sorrindo e me encarando. Aqueles olhos negros, tão escuros, profundos. Um olhar malicioso e sacana, cheio de cinismo e prepotência. O vi morder o lábio enquanto sorria - Não vai comer? - ele perguntou roubando mais uma de minhas batatas.

- Ah... Vou, claro. - e voltei a comer sob o seu olhar atento, atento demais. Dava até mesmo uma insegurança sobre os meus próprios atos, constrangia, sabe?

- Agora que parei para pensar... Nossas aulas estão acabando...

- Huhum... Você tem que me falar quanto vai me cobrar. - eu disse e o vi sorri - Nem vem! Não vou pagar mais que quinhentos, ouviu? - eu reclamei limpando a boca com o guardanapo. Mas ele sabia que não era sério, o valor girava em torno de R$500,00 mesmo. Ora, foram três dias por semana, durante três semanas, mais ou menos três horas cada e o preço da hora era 20,00... Façam a conta.

Aulas ParticularesOnde histórias criam vida. Descubra agora