MARY
Ela sempre acreditou no Universo e nos sinais que ele dá, sempre acreditou em destino, almas gêmeas, signos, vidas passadas. Mary sempre acreditou em tudo, absolutamente tudo e ela tem que agradecer a avó por isso.
Mary foi criada pela avó e pela mãe, as duas mulheres mais fortes que ela já conheceu na vida. A mãe era enfermeira, a avó, cartomante. Mary se acostumou a ter a casa cheia, desde pequena. Pessoas de todas as partes da Irlanda iam até a sua casa, para se consultar com a sua avó. Sra. Nina Walsh, a melhor do país, a que tem as previsões mais certeiras e as visões mais claras.
Mary cresceu sabendo sobre o seu destino. A avó sempre lhe disse que ela estava destinada a algo grande, que ela nasceu para ser uma estrela... E que iria encontrar seu amor da vida passada, o mesmo amor que tem a seguido há séculos, vida após vida.
-Você vai saber que é a pessoa certa quando o céu chorar. -A avó diz, lembrando a ela da profecia. -Quando a pessoa te falar as três palavras, vai ser tão intenso que vai chover, passarinha!
Mary sempre acreditou nisso, uma fé cega, em um provável Deus falso. Ela nunca teve religião, mas sempre se agarrou ao Universo como se ele tivesse todas as respostas.
E talvez ele tenha.
Ela é uma estrela, afinal. Tem uma carreira consolidada na TV e no cinema, é um nome grande na indústria... mas ainda falta algo.
Mary já ouviu "eu te amo" de tantas pessoas que perdeu a conta, mas nenhuma delas foi a certa. E ela já desistiu de procurar.
Foi essa merda toda que fez ela deixar Lana, quatro anos atrás. E é essa merda toda que faz ela se sentir sozinha e miserável.
Mas ela não consegue deixar de acreditar.
Mary se lembra daquela noite como se fosse ontem. Ela tinha acabado de chegar da reunião com o tio Saul, ele tinha contado sobre o papel que conseguiu para ela, em uma série adolescente sobre lobisomens. Lana precisaria passar dois anos na Califórnia, gravando. O salário era incrível, um valor exorbitante para alguém que tinha acabado de começar e o apartamento que Saul alugou para ela ficava perto da praia de Santa Mônica.
Não existia a opção de não ir. Ela iria, óbvio, só não sabia como contar para Lana ainda.
A namorada estava preparando o jantar, tinha enfeitado a mesa de plástico com velas e flores murchas, mas estava lindo. Lana sempre foi muito dedicada a tudo o que se propôs a fazer, elas se conheceram na época da escola, quando Lana ainda namorava Rick, um amigo de Mary. Logo se tornaram melhores amigas e depois, algo mais. Já faz três meses que elas estão nesse algo mais, que ainda não foi definido.
Mary a arrastou para a Inglaterra, convencendo Lana com a possibilidade de estudar psicologia em uma das melhores universidades do país e ela foi seduzida pela ideia. Lana fez as malas e não olhou para trás, ela segurou a mão de Mary durante todo o voo.
Como Mary pode ser egoísta?
Ela foi ensinada a amar e apoiar as pessoas, acima de tudo, mas o que ela faz quando precisa se apoiar? O que ela faz quando precisa pensar em si mesma, em primeiro lugar? Como ela lida com a culpa?
Mary contou a Lana sobre o papel, mas não disse que era na Califórnia, ela chegaria nesse assunto mais tarde, depois do jantar.
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Invisible String
Teen FictionClarissa Mary Walsh sempre acreditou nos sinais do Universo. A vida toda, sua avó lhe dizia que ela iria encontrar seu amor da vida passada e ela tem acreditado nisso como se fosse sua salvação, com uma fé cega. Dacre Montgomery sempre foi do tipo r...