"Infelizmente, alguns são portadores de uma desgraça da qual eles não são merecedores."ܟ𝐍𝐈𝐂𝐊މ
07/01 — Manhã⸝⸝Um quarto escuro e bagunçado, cortinas fechadas, com a luz do monitor servindo como única fonte de iluminação do cômodo. Me dou conta de que a manhã já chegou após de uma madrugada inteira acordado, ouvindo músicas, jogando alguns jogos e coisas que adolescentes normais fazem quando não querem fazer nada minimamente importante.
Minha mãe e única família, Roxanne, já não está mais em casa. Ela sai cedo para trabalhar durante nove horas em um emprego que não paga o salário que ela merece. Meu pai foi embora há mais ou menos um ano. Quando acordamos em uma manhã, o desgraçado havia sumido com tudo que era dele, inclusive o carro. Desde então, a vida não tem sido nada fácil, principalmente porque a minha mãe dependia financeiramente dele."Porra de vida" — penso, abandonando o computador.
Me levantou da cadeira, deixando o monitor no descanso de tela. Passar tantas horas sentado no mesmo lugar, faz com que o meu corpo pareça que vá desmontar a qualquer momento, juntamente de uma breve queda de pressão. As pernas sensíveis mal parecem saber como manter o meu peso e uma sensação desconfortável de formigamento sobe — eu odeio sentir isso.
Dou um passo para longe da mesa, acabando por não enxergar uma pilha de livros velhos da escola naquela escuridão do quarto e tropeçar em cima deles. Eu me esqueci de que havia os abandonado bem no início das férias de inverno e sequer cheguei a os tocar uma única vez desde então.— Puta merda, quem foi que botou isso aqui?
Sem paciência, dou um chute na pilha, em um pow bem alto, derrubando e espalhando os livros pelo chão do quarto. Como eu quem iria arrumar tudo depois, me sinto à vontade para bagunçar o quanto eu quiser e quando eu quiser.
Após descontar a minha raiva em objetos inanimados, me sento na cama para me calçar. A cama estava extremamente bagunçada, os lençóis estavam espalhados e o travesseiro de alguma maneira havia caído no chão. Pego as minhas botas pretas velhas e desgastadas, e calço os pés, cobertos por meias — que precisavam de uma lavagem — pretas. Ao levantar, troco apenas de blusa, vestindo uma de manga comprida com uma estampa do Linkin Park, uma das minhas bandas de rock favoritas.
Já trocado, abandono o meu quarto e passo pelo corredor vazio, atravessando rapidamente o quarto da minha mãe, o qual estava com a porta aberta. Regrido alguns passos, voltando até a porta para olhar o cômodo vazio por alguns instantes. Era incrível imaginar que um cômodo tão arrumado, organizado e com um aroma agradável de lavanda, poderia estar na mesma casa que um buraco do inferno, mais conhecido como: meu quarto. Sem demora, fecho a porta e continuo o meu trajeto
No momento em que descia as escadas, diversas memórias vinham na minha cabeça. Lembrava de quando a minha família era unida e completa, quando tudo parecia certo e fazia sentido. Quando as coisas funcionavam.
"Não adianta pensar no passado. Nada vai voltar" — pondero, dando um tapa na minha própria testa em uma tentativa de afastar aqueles pensamentos que me atormentavam todos os dias.Caminho até a cozinha por estar sentindo um pouco de fome, já que não como nada desde a noite passada. Abro a geladeira e vejo uma jarra de vidro cheio com vitamina de morango, minha vitamina favorita depois da de banana. Juntamente à jarra, havia um post-it verde neon com o desenho de um coração, feito com uma caneta rosa. Mamãe havia feito aquilo especialmente para mim.
Agarro o recipiente gelado e úmido de dentro da geladeira, fechando a porta e o levando comigo até a bancada da cozinha. Removo o adesivo da jarra com cuidado, revelando uma pequena mensagem no verso."Para o meu aniversariante favorito."
Aquilo, algo tão simples e singelo, faz com que o meu coração se aqueça em um sentimento tão bom e gostoso de se sentir, como um abraço depois de um dia ruim. Ela é a única pessoa que eu tenho no mundo inteiro por mim e eu tenho muita sorte de tê-la comigo.
Pego uma das minhas garrafas térmicas, uma azul, em um armário de parece acima da bancada. A lavo rapidamente na pia e a encho com a vitamina de morango. Logo depois, a tampo e guardo novamente o jarro na geladeira, que ainda mantinha um boa quantidade da bebida.
Levando a garrafa comigo, eu deixo a cozinha, caminhando lentamente até a vazia e silenciosa sala de estar, apenas eu, o sofá-cama e ela. Eu não tinha nenhum animal barulhento, apenas Pérola, a nossa gata preta que some durante dias e volta quando sente vontade. Às vezes, sinto que ela não gosta de mim. Digo isso porque ela me encara como se soubesse de todos os pecados que eu cometi em todas as minhas vidas antes dessa. Minha mãe a adotou no meu aniversário de treze anos, então ela vive com a gente desde então.— O que foi? — digo para Pérola, que está em cima do rack, abaixo da TV pendurada na parede.
Ela mia para mim e boceja, acho que foi um insulto na língua dos gatos.
— Vai dormir, anda! — espanto-a para sair do móvel, e assim ela faz, indo para a sua caixa de papelão no canto da sala.
Eu não pretendia me manter em casa, então pego a cópia das chaves na mesa de centro da sala de estar e saio na direção da porta de entrada. Preciso de um pouco de força para conseguir abrir, já que estava frequentemente emperrando e travando. Após finalmente conseguir sair, tranco a porta com as chaves e sigo com o seu caminho pela rua que havia sido limpa recentemente por um daqueles caminhões limpadores de neve. Talvez não fosse uma boa ideia ir para onde eu estava indo, considerando o clima nada favorável, mas o que mais poderia acontecer comigo?
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𖥻 Winter ❄️⸼ ࣪ ۰
Romance︶︶︶︶︶︶︶︶︶︶︶ ⸝⸝ ❞Os amores de inverno são mais puros do que os de verão.❞ 〰︎ Harry Steinfield e Nick Rutherford são dois estudantes que sempre estudaram na mesma turma durante anos, mas nunca foram próximos um do outro. No último ano da escola...