PRÓLOGO

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Éramos sobreviventes

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Éramos sobreviventes. Eu e ele. Ambos.

Na verdade, temo que eu não saiba respirar desde que seu par de olhos negros colidiram com os meus. Eu tinha tantas perguntas, mas, a principal, continuava sempre sendo: por que raios eu estava tão sufocada apenas por estar em sua presença?

Sempre esteve tão óbvio, ele nunca mediu esforços para acreditar em possibilidades que existiam apenas em minha cabeça. Acreditar em minhas capacidades nunca foi um problema, e talvez seja por isto que ele não seja o herói de capa que eu sempre esperei que me resgatasse. Talvez eu fosse resgatada de um pesadelo por um príncipe gentil e bondoso que faria qualquer coisa para me manter em segurança.

Ou talvez, príncipes encantados não existam. Ele nunca foi o meu herói, nunca esteve aqui para me proteger e me manter escondida nas sombras de sua figura.

Ele acreditava que eu era capaz de proteger a mim mesma sem esperar algum tipo de socorro divino.

Ele arrancou do meu peito o medo que dominava o meu ser, a repulsa, a hesitação, a preocupação do que aconteceria em seguida. Ele fez com que eu me sentisse capaz, e não como uma mera peça insignificante em um jogo de xadrez. Eu era a peça importante, aquela capaz de derrubar todas as outras como a prova de que eles não eram nada.

Eu sempre soube que ele era diferente, havia algo no abismo de seus olhos que nem mesmo o azul resplandecente dos mais belos olhos fossem capazes de fazer com que eu me sentisse em casa.

Nós éramos iguais. Ambos não tivemos amor suficiente para enfrentar todos os empecilhos que a vida nos entregava em bandejas. Estávamos sempre alerta. Sempre com medo do que viria a seguir. A diferença é que eu nunca soube reprimir os meus sentimentos tão bem quanto ele.

Sua frieza me assustava.

Acho que nunca me senti verdadeiramente em casa. Não após a morte dela. Não antes de vê-lo e me afundar em seu abraço quente e reconfortante.

Nós somos almas quebradas, almas que lutam para encontrar uma saída em tanta escuridão, sem um caminho, sem luz. Não tivemos uma boa vida. Não tivemos a quem recorrer quando o mundo desmoronava. Quando tudo parecia querer cair em nossos ombros, e sempre, sempre, tínhamos a obrigação de suportar todo o peso. Por algo. Por alguém.

Corremos por tanto tempo e nos apressamos para encontrar a liberdade. Para sobreviver.

Acho que eu nunca estive viva de verdade. Acho que eu apenas andava por aí, como se fosse invisível para tudo e para todos, querendo ser algo ou alguém. Querendo me livrar do gosto amargo em minha boca. Querendo mais.

Eu queria poder acabar com a tortura que ecoava pela minha mente, queria acabar com as vozes, aquelas que dizem que não sou capaz. Que jamais serei alguém. Que estou arruinada e que não há uma saída deste inferno pessoal.

Sim.

Ele é a minha saída.

O nosso próprio inferno pessoal não é capaz de fazer com que tememos os nossos demônios, porque de alguma forma, somos piores do que jamais serão. Eu e ele. Ambos.

SURVIVORS (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora