Capítulo Único

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|𝟏𝟗𝟗𝟔|

- Woah, James, já?

Jason é sempre o primeiro a notar algo novo, nunca deixa de pegar James desprevenido com suas observações. De qualquer modo, não se pode chamar isso de uma pequena mudança, visto que o Hetfield juntou forças para finalmente cortar o cabelo. Apesar da negatividade inicial de Jason em relação à escolha estilística, ele sabia que mudanças são sempre bem-vindas. Assim como a totalidade desse álbum, era tudo experimental, embora James não concordasse totalmente com todas as músicas, ele confiava na sugestão de Lars de cortar o cabelo de todos para as promoções. Ontem ele disse à gerência para fazer isso de uma só vez.

James não discutiu, ele achou que a ideia parecia muito boa. Por mais empolgante que fosse aquele experimento, ele nunca teve cabelo curto antes. Pelo que conseguia se lembrar, era sempre abaixo da altura dos ombros, agora estava praticamente grudado em seu crânio, as madeixas loiras reapareceram, claramente definidas e naturais. Era estranho não ter mais um penteado atrapalhando sua visão.

- Sim, já. Eu só queria fazer isso logo. - James suspirou aliviado fazendo Lars o olhar por cima de seus papéis.

- Mais covarde do que eu. Eu odiaria largar essas mechas deliciosas.

- Não foi você que fez a sugestão? - A pergunta de Jason ficou sem resposta enquanto James tirava sua guitarra do rack e a pendurava no ombro.

- Você escreveu alguma coisa ontem à noite? - Lars voltou a pergunta ao loiro. Ele equilibrou a caneta entre o nariz e o lábio superior. - Estou ficando sem ideias.

- Um pouquinho. Essa merda de conceito sem conceito é mais difícil do que você pensa. - James calibrou a distorção em sua guitarra, afinando conforme necessário. - Mas não o suficiente, honestamente, estou começando a ficar frustrado.

- Não é o suficiente, Hetfield. - O baterista bufou e rolou os olhos para trás.

- Também não vejo nada de novo vindo de você, então cale a boca.

- Vai se foder. - Disse Lars, largando um sorrisinho debochado.

James mostrou-lhe o dedo do meio. Ulrich devolveu o gesto gentil.

- Vamos descobrir isso na cabine. - Impaciente, Jason ofereceu a ideia de agilizar os treinos.

Newsted arrastou os dois para a próxima sala: o estúdio. Havia um riff que James tinha em mente, estava na ponta dos dedos, mas, de alguma maneira idiota, não era nítido o suficiente para colocar na guitarra. Certamente havia escutado ontem à tardia da noite. Soava como um vulto, uma lembrança embaçada, estava certo de que não fora tocada numa gravação. James invadiu um canto específico do estúdio e avançou ansiosamente nas gavetas em busca de lápis e papel, mas quando finalmente decidiu rabiscar alguma coisa, a composição escapou de sua memória musical como areia escorrendo por entre seus dedos.

De um jeito bom ou não, ele iria encontrá-lo. Era alto e pesado. Para sua felicidade parcial, ele se lembrou de ter ouvido o som peculiar de Kirk sobre as notas do riff: distorcida e distinta à sua maneira. Porra! Estava incrível! Bastava reproduzir o vago ruído wah em sua mente que o riff nascia. As façanhas de Kirk com a guitarra eram estranhamente simples e fantásticas sem por e nem tirar. Hammett mais uma vez havia desenrolado um som impecável.

James conectou um Marshall e começou imediatamente.

- Onde está o Kirk? - Hetfield ouviu Lars perguntar vagamente.

- Não faço ideia - Veio a resposta do baixista. - O vi ontem de manhã, mas isso foi tudo.

James relevou o papo que se seguiu e continuou tocando, forçando a mente a construir o pedal wah em seus ouvidos.

Metallica | 𝐂𝐇𝐀𝐌𝐀𝐒 𝐕𝐄𝐑𝐌𝐄𝐋𝐇𝐀𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora