Capítulo Único

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Simone Tebet

Eu estava estressada por mais um dia árduo de trabalho. Tarde da noite, muito tarde da noite. O cansaço ultimamente vinha me consumindo aos poucos e em longa escala. Antes de me tornar a chefe de todo o império que meu pai conquistou em nossa fazenda de família, eu não sabia que seria tão difícil mantê-la em uma média exemplar e em um nível que todos esperavam dos Tebet's. E com a chegada repentina da herdeira Thronicke, minha vida profissional havia se tornado um inferno. Pois a mulher loira sempre deixava explícito seu desejo de consumo à ter minha fazenda em seu nome. Patético a loira mimada achar que eu, Simone Tebet, venderia minha fazenda mesmo que por um preço exorbitante, para ela. Era o meu legado, o legado Tebet, e eu jamais lhe daria isso. Jamais. A mimadinha só quer fuder com a minha dignidade. Absurdo. Esses acontecimentos me faziam sentir um ódio absurdo pela loira, que em época de nossa infância, era minha melhor amiga. Olhei para a pulseira que carregava em meu pulso a anos e anos. O símbolo que por tantos anos representou nossa amizade. O desgaste já mostrava que estava ali, presa em meu pulso à tempos. O juramento de uma eterna amizade rolava por minha mente. As promessas que fizemos de não nos odiarmos como nossos pais se odiavam. Éramos boas amigas. Na realidade éramos inseparáveis. Na escola vivíamos grudadas. E quando a pressão era grande dentro de casa, sempre o destino fazia-nos encontrarmos no mesmo riacho afastado de ambas as fazendas. Sempre que um sentimento ruim se apossava de mim sem motivo, eu sabia que tinha de ir lá, pois Soraya estaria lá. E sempre que eu estava por lá chorando, Soraya era quem chegava. Mas com o tempo essa conexão foi se apagando, até que agora se tornou inexistente. Principalmente com a tentativa de Soraya de comprar a fazenda Tebet.

Nesse exato momento eu me encontrava deitada em minha cama, a visão perdida entre as escritas daquele papel de venda. Não sei de onde essa loira oxigenada achou que seria uma boa ideia fazer-me uma proposta tão descabida como essa. Eu estava encarando o papel, sua escrita, e os detalhes puxados de cada palavra que ali tinha escrita. Formato das letras impecáveis, como no ensino médio. E agora eu me pego pensando em como desde o último ano de ensino médio até esse momento, nos distanciamos tanto. Não éramos mais as mesmas, de fato. Mas em menos de dez anos, uma amizade de infância se tornar ódio e repulsa?. Era meio impossível de acreditar as vezes que ainda não éramos as mesmas crianças que tinham uma amizade tão pura e verdadeira. De repente esse sentimento de saudades invadem com tudo o meu ser. Junto a uma dor inexplicável, avassaladora. É ela. Meu cérebro repetia isso diversas vezes para mim. Era ela. A mesma dor que eu sentia quando ela não estava bem. A mesma dor que me fazia voltar naquele riacho por diversas vezes durante a infância e adolescência.

— Ela precisa de mim.. — falei para mim mesma, enquanto me recompunha e levantava para ir ao seu encontro.

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Soraya Thronicke

A ansiedade estava me consumindo desde que meu advogado disse que enviou a maldita carta de venda para a Tebet. Ele se achou no direito de mexer em minhas coisas, e enviar algo que eu não queria que fosse enviado. Puta merda, eu queria me reaproximar de Simone, não fazê-la me odiar mais do que já odeia. Burra, é isso que eu sou, burra. Eu devia ter queimado aquela carta quando houve chances. Mas não, eu lhe deixei guardada em meu escritório. Óbvio que alguém ia achar Soraya!. Meu consciente brigava comigo mesma nesse momento. O ódio que eu sentia de mim competia com a dor que eu sentia em meu peito causada pela ansiedade. O grito que sufocava-se em minha garganta. Minha mente apenas me levava para um lugar onde eu estaria segura. Aquele riacho. O mesmo que por tanto tempo significou nossa amizade e companheirismo. O mesmo que trazia tantas lembranças amáveis e doces. Minha mente não raciocinava direito sobre mais nada ao redor. Apenas selei meu cavalo, e fui até o único local que me traria paz nessa noite. Os minutos foram se passando e nada daquela dor diminuir, não era a mesma coisa sem a Simone ao meu lado. Não era como em nossa adolescência onde ela fazia suas palhaçadas para me distrair e me fazer esquecer do mundo ao nosso redor. Não demorou muito para que eu sentisse um corpo sentando-se atrás de mim e me abraçando. Sua voz logo sussurrando em meu ouvido com o tom calmo e rouco.

Naquele Riacho - One Shot - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora