Capítulo Único

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O silêncio era perturbador, havia novamente se acostumado com as falas incontroláveis de Poliana, as conversas que tinha com Glória, porém o que mais lhe intrigava era que o vazio que sentia em sua alma estava voltando a ser preenchido naqueles últimos dias, algo que foi deixado pelo amor de sua vida e que estava retornando por alguém cujo seus sentimentos já não eram tão certeiros. Abraçando o próprio corpo Luísa olhava o escritório que compartilhou com Otto enquanto ele viveu ali com Poliana e não podia deixar de pensar em tudo o que os dois tinham passado ao largo dos anos.

Fechando os olhos Luísa lambe os próprios lábios apertando seus dedos contra sua própria pele, um dia tinha amado viver solitária na casa que tinha sido de seus pais, mas agora a solidão já não lhe era uma boa companheira, fazia com que seus pensamentos fluíssem para lugares que não deveriam, que fossem para uma pessoa que não poderia olhar. O gosto amargo era sentido em sua boca, era tão metafórico dizer que o amargor vinha quando as lembranças que queria oprimir e esquecer se apoderavam de Luísa, assim como era metafórico falar que a tia de Poliana sentia certas borboletas no estomago quando estava perto de seu ex-cunhado. As metáforas faziam parte do dia a dia de Luísa, principalmente quando se perdia olhando o céu noturno e deixava sua mente vagando ao passado.

Podia recordar de quando viveu na casa de Otto e como seus sentimentos ficaram abalados e foi ali que percebeu que talvez o amor de adolescência que guardava para sua vida não fosse aquele com quem desejasse ter um amor para toda a vida. Uma linha tênue separava o amor do passado com aquele sentimento que começava a nutrir pelo pai de sua sobrinha, não conseguia distinguir se era ódio ou amor, apenas sabia que havia algo e quanto mais se afastava mais perto estava e queria estar.

Um riso fraco aparece em seus lábios ao pensar que por duas vezes Otto tinha sido seu cunhado e por duas vezes reprimiu através de ofensas e um ódio descabido sentimentos que não sabia conciliar. Voltando a olhar pela janela do escritório se afasta, caminhando até a mesa pegando a foto que ela deixava ali, estava ela junto de Marcelo, tocando a imagem de seu falecido marido abraça a foto, porém a sua mente retorna para dança com Otto, tão singela, tão significativa, havia se sentido protegida e deixado transparecer mais do que deveria, sentimentos que lutou para guardar por todo aquele tempo.

Voltando a olhar a foto dela com Marcelo a leva contra sua testa por alguns segundos para em seguida dar um beijo, sentia uma lágrima escorrer por sua face, o quão difícil era enfrentar aqueles sentimentos, como era cruel se dar conta que o amor de sua vida e que acreditou que duraria para sempre se foi e a deixou sozinha, mas que principalmente que ela tinha falhado com ele no momento em permitiu que sua mente começasse a pensar em Otto, porque seu sentimentos não estavam sendo despertos de maneira supérfluas, Marcelo sabia e Luísa tinha certeza de que aquele foi o motivo dele pedir para que o irmão cuidasse dela.

— Me perdoe. — Luísa sussurra abraçando com força a fotos dos dois, como ela tinha amado Marcelo, mas não como ele merecia nos últimos anos e a necessidade de querer provar que o amava sempre esteve ali, a reafirmação existia a todo momento, não eram vazias, porém menos ainda eram totalmente completas, existia outro a quem ela apenas necessitava esquecer e nunca esqueceu e que ela se casou sob o olhar dele, um olhar que nunca deixaria de relembrar.

Colocando a foto no lugar Luísa limpa as lágrimas que caiam, no passado deixou que sua cegueira falasse mais alto que seus pré-julgamentos a guiassem, nunca acreditou que Otto pudesse ser uma bom pai, uma boa pessoa, quando ela também sabia que sua irmã tinha sido tão egoísta quanto. O conheceu de outra forma com a aproximação pelo tratamento de Poliana e sentia-se bem com a sua presença, gostava de seus toques por mais sutis que fossem em um cumprimento ou outro, porém Tânia entrou na vida de todos.

Endurecendo o olhar Luísa olhava para a porta, ela realmente queria que Otto fosse feliz finalmente, mas existia uma fagulha egoísta dentro dela e nunca gostou de Tânia. Não estava errada sobre seu julgamento, porém os motivos de não gostar dela eram errados principalmente por ser casada com o irmão de Otto.

Seus olhos recaem para a mesa que Otto trabalhava, se aproxima tocando o local, sentiria falta das brigas e a maneira que ele queria cuidar dela, mesmo que tivesse sido um pedido de Marcelo antes de morrer, algo dentro dela a fazia sentir que não estava sozinha com toda aquela agonia sentimental.

É retirada de seus pensamentos pela campainha tocando, respirando fundo Luísa arruma sua postura limpando os resquícios de lagrimas que haviam em sua face, caminhando em direção a porta vê Otto. — O que faz aqui? — Pergunta surpresa, principalmente após irem embora no dia anterior.

— Esqueci de devolver a chave de sua casa Luísa e acredito que seja melhor você ficar com ela. — Vai entregar para Luísa, porém a olha sério vendo as marcas avermelhadas envolta de seus olhos. — Por que estava chorando? — Pergunta preocupado.

Desviando o olhar sem pegar a chave Luísa apenas entra em direção a sala escutando a porta ser fechada atrás dela e os passos de Otto a seguirem. — Apenas estava me recordando de Marcelo. — Força um sorriso, não era de todo uma mentira, porém não podia dizer para Otto o que realmente estava a fazendo ficar daquela forma.

Se aproximando de Luísa, Otto leva a mão em seu ombro apertando suavemente olhando de maneira fixa em seus olhos. — Luísa eu sei que a perda de alguém querido é difícil, eu não sou a melhor pessoa para te aconselhar, porém quero que saiba que eu e Poliana mesmo não vivendo mais dentro dessa casa estaremos aqui por você.

Um pequeno sorriso aparece nos lábios da mulher que leva a mão sobre a de Otto olhando para ele com um olhar intenso. — Obrigada Otto, vocês me ajudaram muito nesses últimos dias e não posso negar que vou sentir falta de Poliana... Vou sentir falta de você. — Mantinha sua mão sobre a dele sentindo-o arrumar sua postura, porém não se afastava de Luísa.

— Eu sei que você presa por seu espaço, porém mantenho o convite de que vá morar conosco Luísa, com Tânia solta e depois de tudo o que aconteceu com Poliana tenho receio que a próxima a ser alvo dela seja você. — Diz sério acariciando a pele da mão de Luísa com o seu polegar.

— Otto, não se preocupe comigo, Tânia quer lesionar apenas pessoas que você ama, então deveria estar temendo mais pela segurança de Gloria... — Para de falar quando o vê se afastar um pouco, seu olhar era o mesmo do passado, sua memória retornava para a conversa que tinham compartilhado naquele café da manhã que ele não tinha se envolvido com ninguém porque não tinha encontrado a pessoa ideal e a olhou "até agora".

Luísa sente sua boca secar, Otto estava desconcertado diante dela e ela havia compreendido tudo apenas com um olhar, porque já tinha o presenciado antes em diversos momentos e ignorou em todos. Os seus batimentos cardíacos não estavam em ritmo normal, mas não perdia a postura se aproxima do homem tocando seu peito o encarando. — Eu vou me sentir mais seguro se você for morar conosco e Poliana também. — Otto já tinha se machucado demais para que se abrisse novamente de uma maneira honesta para os sentimentos e aquela era sua forma de amar, cuidando.

— E prometo que vou pensar Otto, eu prometo. — Luísa naquele momento sentia-se totalmente à mercê de uma vulnerabilidade que nem ao menos ela sabia que existia, a confusão em sua mente estava a enlouquecendo, leva testa contra o peito do ex-cunhado segurando no pulôver azul que usava inalando o cheiro de seu perfume.

— Luísa... — Fecha os olhos por alguns segundo entreabrindo os lábios olhando para a mulher que o abraçava.

— Só me deixe ficar assim por algum momento. — Pede segurando com mais firmeza o tecido azul.

Levando a mão no cabelo de Luísa, Otto apenas respeitava o momento dela curvando-se um pouco e de maneira singela permite que seus lábios toquem os fios castanhos de Luísa, acariciando de forma suave, não era o momento de declamar amor ou menos ainda de atos bruscos, era respeito pelos sentimentos que ambos percebiam que nutriam e que desejavam respeitar seus limites.




**** Faziam anos que não escrevia nada de LuOtto e ontem me senti inspirada, uma pequena one sentimental sobre amor e os sentimentos incertos, como Romo sou "Honey" de "Querida" em homenagem a uma música de Juan Gabriel, aqui vim em homenagem ao Ursinho Pooh hahahaha.

De Mí EnamorateOnde histórias criam vida. Descubra agora