DEGUSTAÇÃO/ Prólogo

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Ela desceu do carro e abraçou a Brenda que entrou assim que as crianças saíram, eu não entendi porque entrou. Talvez quisesse ver a Nacha que possivelmente estaria.. Não..
Olho para o carro todo, senti o cheiro da Nacha inundar o corredor da casa carro, ou carro casa, como muitos chamam, provavelmente, não existe diferença.
Pelo visto, a Uyara chatonilda conseguiu fazer a Nacha acordar, ela e a Brenda se abraçavam agora, eu podia detectar isso. Me aproximo mais um pouco para ver a chatonilda.
Uyara parecia estar mais bonita, o cabelo bem mais volumoso e grande, a pele tinha ficado mais clara.. pálida? Eu não me lembro uma única vez de tê-la visto sem uma cor avermelhada nas bochechas. Estava doente?
— Essa é a Uyara? — pergunta a Alaine ao meu lado, ela olhava para a bruxa chatonilda como se fosse a coisa mais maravilhosa que já viu. — Ela é linda..
— Não tanto assim.. Nem acho. — digo ao notar que Uyara se aproxima de nós.
— Alaine.. então é você? — por que não falou comigo? Uyara olhou e se comunicou diretamente com a Alaine, será que arranjou outro cara? Ergueu a mão para tocar a da Alaine e a mesma a pega. — O rabugento aqui já me falou muito de você..
— Ah, é? — As duas se cumprimentam e Alaine me encara, tinha um tipo de tensão no ar, podia senti-lo. — Ele falou um pouco sobre você..
— Um pouco? — Ergue a sobrancelha a chatonilda.
— Sim.. bem pouquinho.. — Por que a Alaine sorria daquele jeito? Que tensão era essa? Afastei as mãos das duas e franzo o cenho ao tocar na mão da Uyara.. o pulso dela estava frio..
— Você não está bem.. — Digo colocando as mãos no rosto dela, sua pele parecia tão fria.
— Gutherie.. Eu estou ótima.
— Seu corpo está febril.. — isso não podia acontecer. Uma bruxa como ela não fica doente. — O que você tem?
— Já falei que não é nada..
— Uma maldição talvez? — negou e a puxei para sairmos dali.
— Aonde está me levando? — disse tropeçando e quase caindo.
— Você precisa ver um médico, há uma ótima aqui nos Holy Hunters.. — Encaro seus sapatos, — se ficar tropeçando eu vou te levar carregada.
— Mas é claro que não! — se soltou de mim. — estou ótima.. — ergueu as mãos, — não ver? — E seu corpo ficou balançante de repente, como se ficasse fraca, consegui carregá-la antes que caísse de cara no chão.
— Uyara.. — A Ophélia se aproximou a olhando no meu colo. — chamem a médica.
As pessoas se afastaram e eu andei praticamente correndo, o rosto dela ficava ainda mais frio. Que espécie de doença era essa que atingia as bruxas?
Depois de mais ou menos uns dez minutos chegamos à tenda médica, a mulher que cuidava dela dormia em uma cadeira de ferro. Eu não queria incomodá-la, mas o bem-estar da Uyara era mais importante do que pensar em não irritar uma mulher.
Afinal, eu mesmo já irritei várias. A médica foi acordada pelos gritos da Ophélia. Depois de quase cair da cadeira ela se aproximou apressada para ver a Uyara.

UYARA
Sinto algo espetar a minha veia no antebraço e encaro a mulher ao lado, ela devia ter uns quarenta anos, um rosto cansado e um pouco suado. Ela se afastou e observei a coisa espetada em mim.
Era uma flor chamada Rosa-Maria, dentro de uma seringa feita de plástico transparente e redondo, a flor começava a ficar azul. Me ergui, mas percebi que estava presa a cama. Olho ao redor não vendo ninguém além da médica que logo me notou acordada.
— Acalme-se.. — pediu movendo os meus ombros para trás. Eu ainda tinha náuseas, meu enjoo parecia pior agora. — Você.. bem, eu já desconfiava. — disse ao afastar a seringa de mim. 
A flor do tamanho da ponta de um dedo normalmente é amarela, mas assim que é colocada em contato com o sangue de uma mulher grávida, fica azul.
A seringa foi posta em cima de uma vasilha de prata a vários metros. Quem me amarrou aqui? De repente, o rosto do Gutherie se forma na minha mente.
— Por que me amarraram? — pergunto para ela em sussurro, conhecendo bem ele, pode ser que esteja por perto.
— Nacha contou que você não estava bem já fazia alguns dias, e mesmo contra a vontade de muitas pessoas, Gutherie disse que você faria uma avaliação sim, pois não é porque é doida que não mereça uma chance de se cuidar, — aquele rabugento me chamou de doida? — e a Nacha ajudou ele a amarrar você.. — Disse sorrindo, por que ela sorria?
— Eles dois?! — falo com firmeza.
"Ela acordou.." Ouvi a voz do Gutherie do outro lado da porta.
— Que lugar é esse? Não pode me esconder deles?
— Tudo bem.. — Ela saiu pela porta e não ouvi mais o que dizia. Após uns dois minutos retornou fechando a porta atrás de si. — Eles ficarão afastados um pouco, falei que precisava repousar por algumas horas, que dei um remédio para lhe devolver a saúde. — Respiro com força e solto o ar.
— Ótimo.. terei um tempo de paz.. — A Nacha ajudou aquele maluco, dois malucos, por que fui me cercar de malucos..? Qual é o meu problema? Ergo a cabeça para olhar a doutora que fitava os meus pés. — Tudo bem aí? Quer beijar eles?
— Ah.. não, sinto muito, eu..
— Relaxa.. — Seus olhos se arregalaram. — é difícil resistir aos meus pés, eles são lindos.. Até o Gutherie ama..
— Gutherie..? Ele é o pai? — perguntou de repente, e foi aí que percebi o que eu tinha dito.
— Xiii..  Fala baixo.. — peço quase em sussurro. — ele não sabe.
— Mas ele é um Atalaia. Quero dizer, e você uma bruxa..
— Eu sei..
— Como é possível? — dou de ombros e ela me desamarra os pés.
— Não faço ideia.. — eu não me cuidei, ele nunca se importou porque não achava que era possível, nem eu.
Depois de quatro anos de relações escondidas, é estranho vê-lo na frente de muitas pessoas. Normalmente, estamos sozinhos e em lugares diferentes, só quem sabe de tudo isso é o Teobaldo, aquele pássaro jamais me trairia.
Observo a mulher que terminava de desprender o meu braço, ela era bonita, mas tinha aquela expressão de infelicidade e cansaço.
— Quando descobriu?
— Descobri o quê? — perguntou e ergui as sobrancelhas.
— Eu sou uma bruxa, sabe.. — Ela franziu o cenho.. — sei que você prefere mulheres. — Seus olhos ficaram graúdos. — Eu gosto dos dois.. — A doutora parecia tão assustada.
Balançou a cabeça. Negando algo, mas sorriu.
— Nunca contei isso pra ninguém.. sabe.. ninguém entenderia, — Hum.. ainda mais nesse clã. — Quando eu tinha quatorze anos, e já havia começado a fazer as aulas para ser uma médica dos Holy Hunters, tinha uma menina na mesma turma que eu. Ela era esforçada e muito bonita, enquanto as outras garotas ficavam babando ao ver os meninos, eu babava por ela. Eu nunca olhei para os garotos, não conseguia ver eles daquele jeito, como se.. Fossem atraentes pra mim. Eu não entendia direito o que era aquilo, e me tornei amiga dela.
— E depois se confessou?
— Não exatamente.. — soltou o cabelo negro e comprido, ela tinha olhos de águia também pretinhos, e sua pele era bronzeada, virou-se de costas, amarrando seus cabelos em um coque. — Nos tornamos dupla em uma prova de procurar alguma erva para fazer um remédio, as duplas tinham que se separar. Ela andava muito feliz naquele dia, mas eu não entendia o porquê. Quando nos metemos no meio da floresta para procurar a erva, ela se afastou dizendo que queria fazer algo antes. Eu não liguei, ela era sempre muito decidida, firme, fazia o que queria. Foi então que minutos depois ouvi os risos dos rapazes do nosso clã. Corri para lá e vi dois deles atrás de uma moita, escondidos, olhando algo.. e virei para ver, ela se beijava com um garoto.
— Ah.. droga..
— Sim.. Ela lutou para ficar com ele, mesmo que fosse impossível, no final, deu tudo certo, o amor deles venceu e tiveram dois bebês.. — de quem será que ela falava? A doutora ficou em silêncio e resolveu mexer alguma coisa na prateleira, eu entendia que só não queria mais falar sobre o passado.
Após uns minutos a porta é aberta e a Ophélia entra.
— A sua porta trancada? — pergunta Ophélia para a médica e coloca a mão no braço dela, — parece cansada.
— A Uyara queria privacidade.. Sra. Ophélia.. — hum... — tenho que ir..
— Tudo bem.. Pode descansar agora. — Ophélia abre a porta para ela e fecha em seguida. Encara a flor em cima da vasilha cor prata e depois a mim, espero que não entenda o significado. — Eu desconfiava da sua gravidez logo de cara.
— Como descobriu?
— A flor me deu certeza.. — Ah.. — também possuo experiência com a medicina dos Holy Hunters, mas não cheguei a me formar, fugi com o Frost antes disso.
— Frost.. — Agora tenho certeza. Ophélia partiu o coração da doutora sem nem perceber. — não quero que conte para ninguém sobre a.. — aponto para a minha barriga.
— Por quê? — A encaro, a mesma sorriu, — medo? A famosa bruxa Uyara? Isso é impossível.. Como assim? Você é temida em várias partes desse mun..
— Não zomba de mim, estou te pedindo algo sério.. — digo firme.
— Pare com isso, sabe muito bem que será uma boa mãe.. Um pouco superprotetora, talvez rebelde, mas uma boa.. — a interrompo.
— É do Gutherie.. — Ela tira o sorriso do rosto.
— Mas.. ele não pode ter.. Eu.. achei que.. — colocou a mão em cima da minha. — eu entendi a sua preocupação.. — respirou fundo, pensou por um tempo ainda me fitando. Eu não tinha nada para dizer, — há pessoas idosas e sábias nesse clã, alguns deles podem ter algo a dizer sobre isso que nós ainda não saibamos.
— Não estou preocupada só com isso.. ele é.. o Gutherie não é.. — não sei nem o que dizer.
— Gutherie é um homem bom, todos depois que o conhecem sabem disso.. — Assinto.
— Ele é bom e eu sou mal..
— Quem disse isso? — a voz dela estava meiga. E eu com vontade de chorar.
— Eu sei que sou.. — Não posso negar minhas origens, serei uma péssima mãe. — eu sou um monstro.. — começo a chorar, ela me puxa para o seu colo e me abraça.

LOGAN
— E foi assim que a gente se conheceu.. — Disse a tal de Lyra sobre a Brenda, ela era bonita. O River não parava de olhar pra ela, dei uma cotovelada na barriga dele.
— Aii..  filho de uma quen..
— Que tu ia dizendo? — minha irmã se aproximou e ele ergueu as mãos. — Tu tá doido por um sacode. — apontou pra ele.
— Só estou me expressando, não pode mais?
— Lyra está noiva.. — sussurro.
Todos estávamos em volta de um carro pequeno e velho que fora abandonado anos atrás aqui, o pessoal queria conhecer os amigos da Brenda. O tal de Kendrick conhecia a Brenda desde menina, talvez fosse legal eu me aproximar dele.
— Logan.. — Brenda se debruça sobre o carro, eu estava sentado em cima dele e do lado do River. — eu preciso de você..
— Aiee..  Logan, Loguinho.. — zomba o River. — queridinho Loguinho.. amor, aah..
— Eu vou te decepar a língua, River, — ela o ameaça. — não me atormenta não.
— Corta mesmo.. aproveita e corta outras coisas que ele não vai mais utilizar.. — Diz Théa e o pessoal cai na gargalhada. Desço do carro aos risos e River não conseguia nem mais se defender.
— Não se esquece da minha rede, vocês esquecem da minha rede.. — Disse o mesmo. — Não tem garota que me resista, fala aí, Brenda.. Eu não sou gatinho? — piscou pra ela que só fez rir.

ATALAIA (LIVRO 2)/ DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora