Inevitável

O início II

O início parte 2

P.O.V Amanda

O primeiro dia de confinamento era sempre similar em todos os realitys. As pessoas conversam, trocam informações superficiais sobre si e sondam os ambientes e concorrentes.
Assim como os demais participantes, Amanda se questionava como funcionaria a dinâmica das duplas. Seriam considerados como um só? Disputariam as provas em duplas? Amanda se sentia um pouco acuada, como se não conseguisse terminar uma frase no meio de tantas personalidades fortes, enquanto estava algemada a Antônio que impõe sua presença só com sua forma física.
A única pessoa com quem Amanda conseguiu dialogar de forma mais efetiva foi com seu parceiro. Cara de sapato como era conhecido, se mostrava presente nas conversas, sempre tentando incluir a médica nos diálogos.

Após um dia de conversas, os participantes foram informados que em breve entrariam ao vivo. Todos se arrumaram para uma dinâmica de prova de resistência. Embora ninguém tivesse certeza se realmente seria isso, estar preparado era sempre a melhor opção.
Após a introdução do apresentador Tadeu a dinâmica da prova que valia uma imunidade a dupla vencedora, todos se dirigiram ao jardim para o início da prova. Amanda que já havia demonstrado para Antônio sua insegurança quanto ao seu desemprenho nesse tipo de prova, encontrava-se ainda mais nervosa sabendo que a prova estaria prestes a começar e além de uma imunidade para ela na primeira semana, que é essencial, ela precisava ultrapassar seus limites para acompanhar Antônio.

A alguns segundos do início da prova, Antônio olhou para sua dupla e disse:

- Confia em você, vai dar tudo certo e vamos vencer. Se concentra.

Embora parecessem palavras de incentivo para Amanda, Antônio repetia internamente aquela frase para ele mesmo. A ansiedade que sempre o acompanhou já dava sinais de que poderia prejudicar o lutador na prova. E o que ele menos queria era se prejudicar e prejudicar sua dupla, que parecia ser alguém com quem Antônio teria uma boa relação na casa.

No decorrer da prova as duplas foram saindo, restando apenas alguns concorrentes. Por ser uma prova em que eles tinham que ficar de pé em uma plataforma, sendo atingidos por água, vento, gosmas e confetes, o cansaço físico, o frio e o sono foram deixando algumas duplas para trás.
Amanda sentia muito frio, se mexia dentro de um pequeno espaço afim de se aquecer. Respirava fundo e buscava se desconcentrar das adversidades para resistir na prova e vencer com Antônio. A médica acreditava que o cansaço físico não estava nem perto de ser um empecilho para o atleta, então Amanda acreditava que dependeria exclusivamente dela o quão longe eles poderiam ir. Era um fardo pesado para se carregar, mas Amanda tinha receio de externar esses pensamentos e sapato achar que ela queria desistir, o que definitivamente não era o caso. A restrição de sono, muitas horas de pé, estresse emocional e físico eram rotina na vida de Amanda, que trabalha em U.T.I e trabalhou na linha de frente ao combate do Corona Vírus. Ela era boa em se concentrar e dar o seu melhor por outras pessoas. Mas ao lado de Antônio a sensação de insegurança parecia se intensificar.

Antônio analisava a postura focada de sua dupla e pensava no quanto Amanda estava se demonstrando forte e equilibrada. A médica sempre proferia palavras de incentivo ao lutador, ainda que nem percebesse, e tal ajuda estava sendo fundamental para que a dupla permanecesse na prova. Ambos acreditavam ser o elo fraco da dupla, e estavam dispostos a irem longe para não desapontar seu colega.

P.O.V Antônio

Antônio respirava fundo de olhos fechados. O frio que sentia o fazia bater os dentes, os tremores pelo corpo eram visíveis. Na sua perspectiva já deveria ser por volta de 04 da manhã. O atleta buscava foco e concentração a cada respiração, pensando que ele tinha que vencer a prova, garantir mais uma semana na casa e levar sua dupla junto. O cansaço físico agora não era seu maior adversário, sapato precisava enfrentar um adversário que muitas vezes venceu lutas contra ele, seu emocional. Embora seja um atleta focado, Antônio lida com a ansiedade a muitos anos. Em meio a crises, apenas medicamentos podem auxiliar para a recuperação de seu autocontrole. Expor essa situação em rede nacional era algo que o preocupava, e mais ainda expor já na primeira prova. Embora se sentisse inseguro em relatar isso para outra pessoa, o atleta sabia que não iria muito longe se seguisse sem informar Amanda sobre a situação.

E, se existia alguém poderia lhe auxiliar naquele momento, seria Amanda. Que além de médica, possuía uma calma ao falar e demonstrava empatia com todos. Antônio respirou fundo novamente e se dirigiu a Amanda, criando coragem:

- Preciso te falar uma coisa.

Amanda prontamente olhou para sua dupla, apreensiva com o que ele diria.
Ao perceber o nervosismo de Amanda, o lutador tratou de tranquiliza-la.

- Calma Amandinha, só preciso te dizer que tenho ansiedade. Me sinto meio exposto em admitir isso, mas estou me sentindo muito ansioso no momento e tenho medo que isso possa nos atrapalhar.

Amanda soltou a respiração que nem tinha percebido que prendia e sorriu para Antônio. Apesar da circunstância, era bom saber que até alguém como ele poderia ter suas fraquezas. A médica também percebeu o apelido e guardou para si o quanto soava fofo ouvi-lo dizer "Amandinha".

- Sapato estou aqui com você. Estamos juntos ok? Respira fundo e tenta se acalmar. Sempre que você precisar, estou aqui ok?

Amanda se dirigiu a sua dupla e segurou sua mão, fazendo uma espécie de carinho para demonstrar de fato que estaria ali, por ele.

Ouvir aquelas palavras de alguma forma acalmou o coração do lutador. No fundo ele sabia que Amanda estaria ali por ele, para que ambos fossem o mais longe possível.  As palavras da médica somadas ao carinho em sua mão trouxeram uma tranquilidade que nem ele mesmo acreditava. O lutador sorriu para Amanda, como se estivesse concordando com ela e retomou os exercícios de respiração, enquanto colocou sua mão sobre a da médica, e ambos seguiram juntos por longas horas de prova. A
segurança que a médica transmitia ao lutador lhe trouxe uma sensação de que tudo ficaria bem, mesmo que tal sensação nem fizesse sentido no momento.