Existe um poema de Poe que sempre me identifiquei, pela dor solitária, pela honestidade dolorosa.
"E tudo o que amei, amei sozinho".
Talvez no fim, talvez entre alucinações de felicidade, isto seja o que resta: a solidão.
A solidão em si é algo libertador, saber caminhar para casa depois de um dia cansativo ouvindo música com um cigarro barato na mão, observar a metrópole caótica tomando um café numa manhã preguiçosa, a poesia do céu nublado após um dia ruim... Saber aproveitar a própria companhia é uma dádiva.
Entretanto, para quem foi sozinha por tantos anos, por toda uma vida, sem sentir-se digna de qualquer tipo de afeto, uma simples companhia pode ser libertadora, assim como descobrir que a solidão não é algo ruim.
Muitas vezes me vejo sozinha, até mesmo numa multidão de pessoas, à ponto de sequer me chamarem para sair mais, pois sempre me isolo. Seria esta uma enfermidade? Uma doença? Estar no meio de tantas pessoas e ainda assim preferir o silêncio da própria companhia?
Não sei se, em uma suposição, se pudesse escolher seria da mesma forma, talvez fosse mais fácil, menos doloroso, ser como todos os outros. Seria mais fácil se fosse algo convencional? Não falo isto por pensar que sou importante ou diferente, não, não sou, existem milhares de pessoas com o mesmo pensamento: Seria mais conveniente se eu fosse alguém diferente?
Fazem três semanas que meus amigos saem sem me chamar, talvez porque durante a noite caótica de São Paulo, no meio de baladas e surpresas, eu precise me isolar. Talvez eles não queiram minha presença, já que literalmente não os faz diferença alguma, porém não sinto a necessidade de mudar quem sou.
Talvez eu seja entediante e medíocre demais, talvez eu não consiga ser nada além disto, mas sou real, sou direta, sou verdadeira, quem pode realmente admitir tais coisas? Admitir autenticidade sem apimentar com mentiras?
Me sinto como a metrópole preguiçosa de uma madrugada, durante o dia caótica, durante a noite melancólica, até mesmo os sons parecem cantar algo indecifrável.
Isto irá mudar um dia? Poderia fingir o suficiente para agradar a presença alheia? E se eu precisar ficar distante para conseguir ter algum tipo de serenidade? Poderiam suportar?
Eu não sei.
Sinto que não sabem também. Não vale a pena, todas as pessoas são diferentes e singulares entre si, cada cérebro é um mundo de experiências distintas que criam o que está diante de ti hoje.
Deveria eu mudar minha própria essência para sentir que faço parte de algo? E se meu destino for exatamente a solidão? Deveria machucar? Não sei, mas machuca.
Não sou algo inédito, não sou especial, não faço diferença alguma e sei disto, até mesmo meus pais deixaram isto claro desde o início, não é culpa deles, embora seja extremamente inteligente, não sou algo a qual almejar.
Eu sou uma merda. Não falo isso para me rebaixar ou pedir por simpatia, todos nós somos uma merda, todos temos falhas, todos nos vemos como algo menores do que somos, todos buscamos aprovação alheia, não? Mas sim, eu sou. Nada além de uma poeta melancólica buscando razão em um mundo moderno que não se encaixa.
Talvez, no fim de tudo, morrerei sozinha.
Isso não me entristece, não me diminui, me traz paz.
Ao menos, no fim, nunca abdiquei de quem sou.
Ao menos, no fim, compreendi minha própria existência.
Ao menos, no fim.
