Eu grito.
Era um desastre.
Como eu fui ser tão burra? minha vida está acabada.
—Cora?—Liz, minha colega de quarto e melhor amiga, me chama de dentro do quarto—Esse grito tem algum motivo?
—Liz, você sabe que eu sempre quis ser cremada né, providencie isso por favor, não quero q a Stephanie vá pra cerimônia de cremação. Esses são meus últimos pedidos, minha vida acabou—Eu me sinto cada vez mais atraída a enfiar minha cabeça na privada e me afogar aqui mesmo.
—Mostra o cabelo—Pede Liz já adivinhando o motivo da minha melancolia.
Eu faço como ela pede.
—Quero todos chorando no meu funeral—Brinco choramingando.
—Coraline—Diz Liz naquele tom sério de repreensão, que só significa que ela está escondendo todos os tipos de risada. deus as risadas—Que tipo de merda passou na sua cabeça pra fazer isso?
—Eu tava entediada o que você acha que eu ia fazer?!
—Flor, se você tá entediada vai jogar pou porra, não foda com seu cabelo por tédio—Diz Liz entre risadas.
—Que carinhosa, melhorou muito minha situação—Ironizo.
O motivo dessa discussão é um tufo torto de cabelos cacheados no meio da minha testa. Uma franja. Deus como eu odiei.
—Calma Cor,—ela ri—eu te ajudo a arrumar essa lindeza.
—Obrigada, obrigada, obrigada!
—Mas se eu te pegar cortando o meu cabelo de novo eu te degolo—Ameaça ela se referindo ao meu cabelo.
—Possessiva.
Liz vai até o banheiro e volta com a tesoura que eu usei para cortar meu cabelo momentos atrás.
—Não é possível Coraline—Liz está incrédula—Uma tesoura das princesas? Da pra ver a merda do ferrugem nessa porra.
—Veja bem,—digo tentando me explicar—eu não achei nada melhor que cortasse qualquer coisa! Você preferiria que eu pegasse uma gilete pra cortar o cabelo?
—A esse ponto sim. Mas foda-se. senta aqui na privada.
Liz com a tesoura na mão começa a separar cuidadosamente o que ela precisa cortar pra fazer a franja ficar menos desastrosa.
Ela aproxima mais o rosto, perto demais, e sua expressão de concentrada me quebra ao meio, ela tá com a linguinha pra fora, eu quero morrer. Me imagino atravessando a tampa do sanitário e caindo direto no esgoto, pra se eu não me afogar, eu no mínimo morrer por alguma intoxicação.
—Para de se mexer Cora—Pede a ruiva que está na minha frente, me tirando de um devaneio de idealização suicida.
—Foi mal—digo aérea.
Seu rosto fica cada vez mais perto do meu, sua boca fica cada vez mais perto da minha.
O olhar dela muda de alvo, ela fixa o olhar na minha boca por uma fração de segundo e volta para meu cabelo como se nada tivesse acontecido.
—Minhas pernas tão doendo—Diz ela como um aviso antes de se sentar no. meu. colo.
—Folgada—digo em um tom de brincadeira, desviando o olhar dela, rezando pra que ela não perceba o tom de carmesim que brotou no meu rosto.
Cada parte dela que me toca está explodindo em chamas.
Como eu vou esquecer esses olhos tão dourados, essa pele tão escura e esses cabelos acobreados tão macios se ela continua sendo ela mesma? Deus, ela é perfeita, mas essa mania dela de contato físico me mata por dentro todos os dias.
Cada abraço, cada vez que ela joga as pernas por cima das minhas quando estudamos, cada vez que ela põe a cabeça no meu colo, faz com que meu corpo inteiro entre em combustão, e isso me mata cada vez mais, e é uma morte lenta e dolorosa.
—To quase acabando—diz ela em um tom monótono, o tom que ela faz quando quer esconder alguma coisa. Liz nunca foi boa em fingir, pelo menos não pra mim, eu consigo ler ela como se lesse um romance.
Liz chega mais perto, perto demais—não perto o suficiente—se isso ainda for possível. Ela segura meu pescoço e continua a cortar, deus meu pescoço tá em chamas.
Ela abaixa a mão que segura a tesoura e atira seus olhos novamente em direção à minha minha boca.
Para a minha surpresa ela puxa meu pescoço e planta um beijo em meus lábios.
Deus.
E para aumentar a minha surpresa, eu retribuo o beijo.
Somos uma supernova prestes a colapsar, cada movimento dela me faz querer derreter, me faz querer congelar, me faz querer ser a melhor pessoa que ela já viu.
Minutos—ou seriam horas?
—escorregam pelo ralo do chuveiro enquanto nos beijamos, e por fim nos distanciamos, apenas pela falta de ar—maldito seja o corpo humano.
—Elizabeth Mcgrace. Eu espero do fundo do meu coração que você não tenha me deixado careca, porque você não tirou a mão dessa tesoura o tempo todo que nos beijamos—eu digo em tom sério, mas claramente brincando.
Liz vira minha cabeça abruptamente para checar.
—Não é hoje que você ficou careca—diz ela dando um beijinho afetuoso nos meus lábios.
—Eu te amo Lizzy—eu admito, depois de anos com esse peso ancorado no meu coração eu posso finalmente zarpar.
—E eu te adoro Coral, cada pedacinho de você. Eu amo você, e isso vai muito além do amor romântico que eu sinto por você, eu amo você inteira, seus cachinhos dourados, seus olhos verdes, sus voz, sua personalidade, seu humor, tudo. Eu simplesmente te adoro. E como é bom tirar esse peso do meu peito, porque eu sinto que se eu guardasse esse segredo por muito mais tempo eu iria me dissolver por completo.
Eu estou com lágrimas nos olhos.
Eu só a beijo novamente e capturo cada momento na minha memória.
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Quase sem querer
RomanceO internato de Goldenwood tem muitas histórias para contar, a de Coraline e Elizabeth é apenas mais uma delas. Um corte de cabelo desastroso consegue unir duas melhores amigas apaixonadas? Um conto curto sobre o amor da forma mais simples.