- Você não acha que a sua camiseta ta curta demais? - comenta chuck, observando a forma que a regata vermelha e gasta de Lyra, deixava a pele embaixo de seu umbigo exposta conforme ela movimentava seu corpo com um machado, enquanto cortava a raiz de uma árvore. - E velha?
- Bem observado! Quem sabe a caixa não manda uma roupa nova, ou melhor ainda, por que você não me empresta a suas roupas? - Com tom de deboche e um sorrisinho acompanhando, chuck é respondido.
- Ah sim, como não pensei nisso! - Chuck, entrando na brincadeira, responde com as mãos no rosto e de boca aberta.
Newt, que até então mantinha a concentração em outra parte da árvore, levantou o facão apontando na direção de Lyra.
- Mas sabe, concordo com Chuck. Você, de algum modo, conseguiu encolher todas as suas roupas. Principalmente as que compõem a parte de cima. - O olhar de Newt se demorou pouco na região do tronco de Lyra, que ameaçou com o próprio facão o garoto. Este apenas deu um sorrisinho e voltou atenção a árvore.
- Por acaso, vocês não repararam nos meus músculos? - A garota olhou de um para o outro. - Vejam! Olhem! - Lyra soltou o seu facão e começou a fazer poses engraçadas, arrancando algumas risadas. - O treinamento com Ben e Minho está fazendo efeito. No labirinto, vou fazer jus ao que lutei tanto para conseguir! - Entusiasmo a percorreu, e com isso, voltou a tarefa de cortar aquela raiz.
- Isso se você se tornar corredora.- Newt mais uma vez aponta o facão. - Sabe que é impossível, não sei por que ainda essa ideia é tão presente na sua cabeça. Alby...
- Alby irá reconhecer o meu esforço! Ele sabe e me deu a sua palavra! - A raiz finalmente se parte. - Ele me prometeu.
- Você tá aqui há cinco meses Lyra, cinco meses. - Newt chuta a árvore que cai facilmente, depois crava seu facão na terra. - Sei que você não pensa em outra coisa e que não vai desistir, mesmo que Alby te prenda no amansador e passe os piores castigos. - O olhar de Newt era de quase pena, pela ideia ridícula da garota. Ele sabia que determinação e teimosia a rondavam.
Aquilo começou uma semana depois de Lyra ter chegado à clareira, quando ela viu Ben e Minho correrem para dentro do labirinto e voltarem ao fim do dia, e com eles, histórias e curiosidades. Além daquela cabana, em que o acesso era restrito para todos os clareanos, exceto para os próprios corredores, Alby e Newt. Lyra os seguia até a cabana, tentava escutar as conversas lá dentro e negava até a morte quando era pega xeretando.
Ninguém, entre os clareanos demonstrava interesse em se tornar um corretor, por isso, foi surpresa para os líderes e motivo de piada para os demais, quando a garota - a única da clareira, que estava no lugar até então um pouco mais de uma semana - chegou e perguntou se havia vaga para corredores.
- Eu consigo! Sei que consigo! Sua falta de crença em mim, assim como todo o resto, não é novidade. Mas, vou mostrar do que sou capaz, e claro, calar todos vocês.
- Eu acredito em você! - chuck parou de entalhar um pedaço de madeira e olhou para Lyra, e repetiu. - Eu acredito! Você, assim como todos nós, merece escolher e assumir o que quer fazer. E é uma das regras! Cada um faz a sua parte.
- Ela é boa como retalhadora! Já faz a parte dela cortando lenha para fogueira. - Em resposta a provocação de Newt, Lyra revira os olhos e se senta na terra ao lado de Chuck. E, ao fazê-lo, percebe que realmente sua regata estava mais curta do que quando chegara à clareira. Devido ao treinamento intenso que recebia sem reclamar, as roubas já pequenas, ficaram menores com a forma física que a garota adquirira.
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Havia cinco meses que Lyra tinha chegado à clareira e como todos, levou dois ou três dias para lembrar de seu nome e achar a sua função. Corredora. Era isso o que queria, gostava da maneira como Ben era respeitado, assim como Minho. Queria ser vista como alguém importante, que fazia um grande bem a todos. Só que no fundo, ela sabia que a curiosidade era o que a matava. Não saber o por que de estar ali e de memórias apagadas, além de estar farta das respostas de Gally e Alby, o que a deixavam impotente, decepcionada. A garota não sabia se era a falta das memórias que a fazia ser muito enxerida as vezes ou se já era assim antes de estar ali. Queria saber, e desejava que as respostas caíssem do céu todas as noites antes de dormir.
Tinha uma boa relação com todos da clareira e apesar da timidez, já falara e interagira com todos os garotos, e ouvira de chuck uma vez que os clareanos tinham medo de chegar muito perto de Lyra ou de ao menos falar com ela. Quando questionado por ela o porque, chuck disse que os meninos tinham respostas diferentes. Diziam que era por causa de Alby, pois tinham medo de levarem castigos por ser mal interpretados ou algo do tipo. Outro motivo era que, segundo as palavras do próprio chuck, Lyra era quieta e reclusa demais, e...bonita, do tipo que os clareanos gostavam de admirar, já que não era um rosto comum.
Não se importava muito quando Chuck vinha com essas conversas pra cima dela, corava quando ouvia tais absurdos e não os levava a sério, pois como era a única garota, pensava que só diziam isso por esse ponto em especial.
Chuck a fazia elogios também, como exemplo, a longa trança de cabelos pretos que a garota possuia, que ia até acima do bumbum, e quando alguns fios de cabelos curtos ficavam soltos, contornando o rosto da jovem, Chuck dizia que gostava do modo como o cabelo a deixava bela. O garoto gostava de reforçar a última parte, pois era o que supostamente Gally comentara em uma noite, tonto com aquela bebida forte que o próprio tinha feito.
Gally. Lyra não conversava, olhava ou ficava muito tempo no mesmo lugar que ele. O achava irritante, teimoso, o chato que sabe tudo e blá blá blá, um pé no saco. Dois dias depois de Lyra chegar, Gally estava em uma roda com outros clareanos, todos disputavam para ver quem permanecia mais tempo dentro do círculo ou derrotasse o garoto. Por má sorte, a garota foi desafiada para a brincadeira e reuniu a grosseria e a inferioridade que fora tratada, principalmente por Gally quando chegou a clareira, e entrou confiante na roda.
Talvez fosse 5 minutos, ou menos, não sabia realmente, só sabia que desviara de dois golpes de Gally e avançou contra o garoto com uma rasteira. Com ele ao chão, rapidamente Lyra ficou sentada na cintura do garoto que a olhara confuso e avermelhado, e ao tentar levantar, a garota lhe dera uma cabeçada forte, assim ganhando o desafio.
Euforia e perplexão total de quem assistia, até Alby comemorou, e Newt, ofereceu a bebida que carregava, e quando deu um belo gole, a garganta queimou e uma careta tomou conta das feições da clareana.
