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Becky encerrou a live com um sorriso forçado. Fingiu mexer no celular para não ter que conversar com Freen, que dirigia despreocupada.

- O que foi, por que está com essa cara? - a mais velha perguntou, trocando a marcha.

Becky pensou em ficar fechada até o final do trajeto, mas foi só Freen demonstrar interesse que foi logo abrindo o jogo.

- Essas garotas se atirando pra você nos comentários! - exclamou cruzando os braços depois de bloquear o celular. - Tá chato já.

Freen riu, negando com a cabeça, e Becky a fitou.

- Você deve adorar isso, né? - perguntou e Freen deu de ombros. - Mas quando sou eu...

Freen parou de sorrir imediatamente; pigarreou, endireitando-se no banco.

- Eu sou mais velha que você.

- Eu já sou de maior!

- Mas eu tenho que cuidar de você. - Freen retrucou como se fosse óbvio.

- Pelo amor de Deus, Freen, fica tranquila, isso é besteira!

- Não tem lógica ficar tranquila com pessoas bem mais velhas dando em cima de você. Você só tem vinte anos!

Apesar da fala parecer equivocada, Becky sorriu de lado, feliz com a resposta; admirou o perfil de Freen e suspirou. Não era segredo que tinha um verdadeiro penhasco pela mais velha e se tinha uma coisa que contribuía para isso era o jeito protetor e "cavalheiro" dela.

Como agora, por exemplo. Não havia necessidade de Freen, sempre quando podia, levá-la ao local onde praticava boxe, mas ainda assim a mais velha não só a levava como também buscava.

- Você fala como se fosse minha mãe. - resmungou, mas não aparentou estar com raiva.

- Por falar nisso... esse short não está um pouco curto não? - Freen olhou de esguelha para o tecido.

Se tinha uma coisa que Becky fazia de melhor era provocá-la, afinal Freen não reagia do mesmo jeito.

- Está com ciúmes? - Becky perguntou, fazendo um biquinho o qual julgou ser fofo.

Porém, para Freen, foi um tanto sensual.

Procurando um jeito de refrear o que queria dizer, Freen a olhou de canto e sorriu de lado.

- Ciúmes? Quem foi que estava com a cara emburrada porque leu comentários sobre mim?

Becky revirou os olhos.

- Eu não estava emburrada!

- Eu acho que quem está com ciúmes é você. - Freen parou o carro por causa do semáforo e encostou a cabeça, olhando o bico que se formou na boca de Becky. - Qual é, Becky, eu nem falo nada quando você posta foto treinando e meio monte de gente flerta contigo nos comentários.

Becky descruzou os braços lentamente. Não era coisa da sua cabeça, teve certeza que havia um pingo de ciúme na voz de Freen. Aos poucos foi virando a cabeça para olhá-la; ela fitava suas pernas descobertas pelo short de algodão preto. Automaticamente, Becky desceu mais a camisa do Manchester United, que era grande em seu corpo, até o ponto onde Freen olhava - conseguiu a atenção dela de imediato.

A mais velha empurrou a língua contra a parte interna da bochecha, gesto que era sua marca e deixava Becky mexida. Não havia palavras para descrever o quanto Freen ficava atraente fazendo isso.

- É diferente. - disse devagar, perdida. Daria qualquer coisa para saber o que se passava na cabeça de Freen.

- Diferente? - Freen murmurou, voltando a dirigir. Uma sombra de riso passou pelo seu rosto. - Acho que estamos quites na verdade. Pelo menos, você tem o privilégio de me ver dirigindo de perto, e eu? Que não tenho nenhum privilégio?

- Quer mais privilégio que isso? - Becky se inclinou e deu um beijo na bochecha de Freen; na verdade, foi bem perto do canto da boca. Permaneceu na mesma posição, observando Freen ficar nervosa.

- Becky... eu tô dirigindo. - Freen reclamou e a mais nova riu.

Boa parte do caminho foi escutando Freen reclamando de algumas pessoas que frequentemente pediam o seu número para ela. Foi engraçado e fofo; pôde concluir que a mais alta é quem tinha mais ciúmes dela - porém não ficava muito atrás. Uma coisa era elogiarem Freen, outra coisa era desejarem ter os mesmos privilégios que somente Becky tinha.

- Olha pelo lado bom. - brincou após uma discussão sobre um amigo do set de gravações dar em cima de Becky na cara dura ser iniciada por Freen. - Pelo menos ele nunca me viu e nunca vai me ver sem roupa.

Becky notou Freen apertar o volante com força; sabia que tinha instigado uma lembrança de alguns dias atrás quando estavam atrasadas para um compromisso e Becky teve que trocar de roupa na frente da mais alta, que fingiu mexer no celular mas estava atenta ao corpo da mais nova, quase hipnotizada por cada curva.

 Becky lembrou da sensação do seu corpo queimar com o olhar de desejo da mais velha e odiou o pouco tempo que tiveram naquele dia, pois era a oportunidade perfeita para saber se Freen a desejava tanto quanto imaginava.

Para sua surpresa, a mais alta não ficou envergonhada com o comentário.

- Espero que eu seja a única a ter esse privilégio por um bom tempo.

Becky mordeu o lábio, refreando um sorriso. Faltava pouco para chegarem na Academia de Boxing, então aproveitou o tempo para observar sua melhor amiga. Nunca pensou que alguém dirigindo com apenas um mão fosse tão atraente; talvez porque se tratava de Freen Sarocha, logo tudo que não fosse fofo era sexy demais.

Antes de sair, Freen tocou sua coxa, apertando um pouco a região.

- Cuidado, tá?

Dessa vez, Becky riu.

- Você já viu algum vídeo meu treinando?!

Freen sorriu e acariciou a perna.

- Eu sei que você é forte, bebê, mas é sempre bom ter cuidado.

Becky revirou os olhos e sorriu também.

- Tá bom, mamãe.

Freen abriu a boca para falar algo, mas desistiu. Sorriu de lado, negando com a cabeça, trocou a marcha e olhou para frente.

Becky se deu por vitoriosa; a mais velha nao retrucou. Esperou o carro virar na esquina para continuar assistindo, mesmo que de longe, Freen dirigindo. Ela sabia ter tido um grande parcela naquele gesto, conhecia aquele sorriso de lado; não era qualquer um, era específico, o qual Freen só dava quando estava irritada. Soube de imediato que ela iria descontar as provocações de alguma forma e ficou ansiosa para que acontecesse logo.

Drive. | FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora