Interlude

Notícias

Quando Suga cruzou o corredor dos estúdios na manhã fria em Seul, sabia que algo estava diferente. Os últimos dias tinham sido cansativos para o rapaz, que revezava seu trabalho na produção de músicas e na produção de conteúdo para os fãs, o que consistia em fazer comerciais, gravar episódios novos do Run BTS e dar entrevistas. No entanto, sabia que seu sentimento de exaustão não se comparava ao de Jiyoung, que, todas as noites, dormia com sua avó no hospital e, pela manhã, vinha trabalhar, sempre com um sorriso no rosto e iluminando os corredores da empresa com sua alegria.

Quando adentrou ao estúdio, deu de cara com Pdogg e Jiyoung, que conversavam seriamente, mas o que chamou a atenção do rapaz, foi o assunto que os dois conversavam: algo sobre um trabalho nos Estados Unidos.

-Aí está ele. - Pdogg disse se levantando. - Sabe das novidades?

-O que? - O rapaz perguntou curioso.

-Jiyoung recebeu uma proposta... Muito boa, por sinal. - Ele falou animado. - Universal Music quer ela.

-Isso é sério? - Foi inevitável não sorrir com a notícia. - Jiyoung!

A garota sorriu, mas algo estava diferente nela. Jiyoung, com seu sorriso fraco, encolheu-se no sofá de couro.

-O que foi dessa vez? - Perguntei.

-Não é nada. - Ela disse. - Estou feliz com a notícia, só não sei se vou aceitar.

-Você só pode estar de brincadeira, não é?

-Está acontecendo muitas coisas, Yoongi. - Ela suspirou. - Não posso simplesmente me mudar para outro país e deixar o caos aqui. Eu também tenho uma família, se você não se lembra.

-Eu também tenho uma família, Jiyoung. Mas eu abri mão de certas coisas, em Daegu, para poder viver minha vida aqui em Seul.

Jiyoung ignorou o rapaz. Sabia que ele estava sendo incompreensivo naquele momento. Ao invés de discutir com ele, observou Pdogg dizer:

-De qualquer forma, pense com carinho. Você tem até o final do ano, não se preocupe muito com isso. - O homem sorriu para a garota e fez uma mesura rápida para os dois, logo saindo do estúdio.

Então os dois se viram sozinhos. Jiyoung não sabia o que dizer para Suga e vice-versa. Yoongi deu de ombros e ignorou a pequena discussão que tiveram. Puxou a cadeira para si e se concentrou na mesa de mixagem, enquanto produzia algumas batidas. Depois de quase 1 hora de silêncio total no ambiente, ele decidiu que deveria pedir ajuda da produtora sobre a música que ele produzia para um álbum solo novo.

-Jiyoung, estava pensando... - Ele girou a cadeira para ver a produtora e se surpreendeu com o estado em que ela se encontrava.

A garota estava encolhida, vestida com seu moletom rosa de orelhinhas e com meias combinando. No rosto, usava uma máscara descartável, que escondia uma boa parte de sua face, sendo possível apenas notar os pequenos olhos fechados. Ela tinha caído no sono.

Suga, não queria acordá-la, mas precisava que ela fizesse o seu trabalho. Sentiu um pouco de pena quando a cutucou, fazendo ela acordar no susto.

-Desculpe, por isso.

-Eu dormi? Sinto muito. - Sua voz estava rouca.

-Você está bem? Parece exausta.

A garota se endireitou na poltrona e voltou a olhar para a pilha de papeis que tinha no seu colo. Muitas letras a serem estudadas a fim de produzir uma melodia.

-Talvez eu esteja um pouco resfriada. Não chegue muito perto, não quero que fique doente.

Ignorando o que ela tinha dito, Suga estendeu sua mão e tocou a testa da garota, que parecia estar pegando fogo. Ela se retraiu com seu toque.

-Você está quente...

-Vamos trabalhar, eu vou ficar bem.

-Jiyoung...

-Você queria me perguntar algo? - Ela disse mudando de assunto.

-Não mude de assunto. Você está mal. - Ele se sentou ao lado da garota. - Está cuidando tanto de sua avó que não tem tempo para cuidar de si.

-Eu vou ficar bem, já disse.

-Porque não vai para casa e descansa?

-Não vou para casa. Daqui irei para o hospital.

-Porque você é tão cabeça dura? - Ele indagou. - Vamos subir.

-O que?

-Venha, não pergunte muito.

E assim ela fez. Os dois pegaram o elevador e subiram em silêncio até um andar que Jiyoung mal percebeu. Ela estava tão fraca com a febre e o corpo pesado que apenas foi guiada pelo rapaz. A única coisa que percebeu, foi que o andar parecia mais como um apartamento do que a própria empresa.

-Aqui fica os nossos dormitórios, não repare na bagunça. - Ele disse destrancando uma das portas com um cartão magnético e guiando Jiyoung para dentro.

No entanto, nenhuma bagunça foi detectada. O dormitório parecia silencioso e escuro, mas ainda assim estava bem arrumado e, para a conclusão da garota, era como se fosse um grande apartamento, lotado de cômodos.

Suga a guiou até um enorme sofá na sala de estar e fez com que ela se deitasse lá. Jiyoung caiu como uma pedra. O rapaz, então, foi até o banheiro e tirou de lá alguns remédios.

-Você não precisa se preocupar comigo. - Ela disse. Sua voz saía tão baixa que era quase um sussurro.

Suga diminuiu as luzes do cômodo e sentou-se ao lado da garota, fazendo compressas com água fria e álcool, passando na testa da garota.

-Yoon... - A garota insistiu.

-Está tudo bem, Jiyoung, eu não me incomodo.

-Volte para o estúdio, eu vou melhorar.

-Escute... - Ele começou enquanto procurava pelo remédio certo. - Não quis dizer aquilo mais cedo. Eu sei que nós vivemos vidas diferentes. Você cuida muito de sua avó, é uma neta exemplar.

A garota escutou aquilo calada.

-Ir para os Estados Unidos é um empreendimento muito grande e você deve pensar com calma.

-Obrigada por entender.

-Agora descanse. Vejo você depois.

Ele entregou o remédio a garota junto com um copo de água e então, com um sorriso fraco, deixou-a no dormitório para se recuperar.