Two

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- Shoto acorda! - chamou.

Balançava de leve o ombro do caçula. Eram por volta das quatro e meia da manhã, e a chuva não havia passado. Aos poucos o bicolor ia acordando.

- Nii-san? Onde estamos? - perguntou olhando ao redor, não lembrando de ter entrado ali.

- Não importa agora. - pegou sua bolsa retirando duas toalhas, um sabonete, uma muda de roupa e duas caixas de tinta de cabelo da cor preta - Pega uma roupa e leva pro banheiro, vamos tomar banho.

Toya havia explorado a casa a noite antes de dormir - era uma casa pequena com poucos cômodos; um banheiro mediano, dois quartos de solteiro, uma cozinha minúscula e uma sala improvisada. Ficou extremamente surpreso em descobrir que ainda possuía água nas torneiras e chuveiro, mesmo que fria e levemente enferrujada.

Retirou o pijama ficando completamente nu, indo para debaixo do chuveiro onde a água estava demais fria. Pegou o sabonete ensaboando todo o corpo na esperança de aliviar a temperatura congelante, olhou para a porta onde Shoto esperava sua vez de tomar banho.

- Entre logo se não vamos nos atrasar.

O bicolor não questionou apenas obedeceu, foi ensinando a não questionar, então em sua mente isso se aplicava em Toya também. Não que gostasse de seguir ordens, para ele elas eram frustrante e causavam dor, as seguindo ou não. Como estava sendo tomando aquele banho horrivelmente gelado.

Sentado de frente para um espelho, o bicolor observava o irmão pintando as madeixas de seus cabelos com uma substância preta de cheiro desagradável e sufocante, chegando a da dor de cabeça ao inalar. A toalha azul em volta do pescoço impedia que o produto químico suja-se sua roupa, com uma última pincelada de preto Toya cobriu o que antes era vermelho e branco, deixando o ex-bicolor agora moreno.

O mais velho sorriu pela trabalho bem feito, não havia ficado tão ruim para um garoto de onze anos, e reparando melhor, não foi uma ideia tão ruim deixar o cabelo de ambos crescer. Afinal Enji só possuía fotos dos dois de cabelo curto e quando ainda eram bem novos. Só faltava uma coisa para ficar ainda mais perfeito.

- Shoto fique de frente para mim. - disse Toya abrindo uma pequena caixa. - Isso pode incomodar um pouco mas você se acostumar.

- O que é isso? - perguntou desconfiado olhando as duas formas ovais de cor acinzentada. - E por que a maquiagem? Onde conseguiu isso?

- Não acha que está fazendo perguntas demais? - disse seco com a testa franzida, Shoto calou-se. - Isso são lentes de contato vai ajudar a não reconhecerem a gente, e a maquiagem é para cobrir o presente que Rei de deu. - respondeu indiferente colocando as próprias lentes de cor castanho claro sem se importar com a melancolia no olhar do caçula.

Toya não se importava com o irmão mais novo apenas fingia se importar, para ele Shoto não era nada além de um brinquedo que roubou do pai.

Admitia que o plano original era matar o principezinho, mas então pensou, por que não usá-lo? Afinal foi para isso que ele foi feito, para ser usado.

Terminou de tirar a tinta do próprio cabelo o secando em seguida fazendo o mesmo nos de Shoto que permaneceu em silêncio durante todo o processo, desde do colocar das lentes até o passar da maquiagem. Toya decidiu que ele ficava melhor assim, quieto. Entretanto precisava que Shoto acredita-se que ele era o único que o queria, o único que o amava e o via como uma pessoa.

Do lado de fora da casa a rua continuava deserta, com exceção dos carros mais a frente que passavam em uma velocidade alta de mais, que Toya julgou não ser a correta.

Abaixou-se ficando de frente para Shoto.

- A partir de agora somos só você e eu. - disse Toya acariciando o rosto de Shoto que o olhou. - Vamos ser uma família de dois daqui pra frente. Você está feliz com isso?

O ex-bicolor ficou em silêncio, então perguntou:

- Você... você vai me machucar? - Shoto perguntou pegando o moreno de surpresa. - Vai me ferri como ela fez? - Toya sentiu um leve incômodo no peito.

Pegou o caçula no colo que o encarava, contornou o cicatriz camuflada pela maquiagem pensando no que dizer, temendo que seu silêncio desse outro significado para Shoto. Apressou-se em responder.

- Nunca. Não sou igual a eles.

- Então prometa, prometa pra mim. - seu rosto continha seriedade, mas sua voz soava em suplico.

- Eu prometo. - Shoto sorriu e em seguida o abraçou.

Com o caçula no colo Toya andou se afastado da velha casa sem se importar com o peso extra. O céu começava a clarear, avisando que possuía apenas três horas para chegar na estação.

- Caso alguém pergunte, diga que se chama Haku.

- E você?

- Me chame de Dabi.

The hell of every day   Onde histórias criam vida. Descubra agora