Clockwork - jjk + pjm

Capítulo Único

Oneshot inspirada brevemente no mangá Marionette.

Capítulo Único

Abriu os olhos lentamente, saindo de um estado de torpor sem muitas dificuldades. Observou o teto branco, acinzentado por estar sem nenhuma luz além da proveniente da cidade, facilmente vista pelas janelas panorâmicas enormes que cobriam uma parede inteira do recinto. Piscou algumas vezes, aguardando o cérebro se livrar da névoa sonolenta em que estava, procurando entender onde estava. E o mais importante: quem era.

O prédio era bastante alto e a cidade brilhava lá fora, com diversos arranha-céus imponentes por onde sua visão alcançava. Mas nenhum era mais alto que aquele, onde ele parecia estar no último andar, possuindo uma visão privilegiada da noite ali. E por estar tão alto, nenhum som das ruas lá embaixo conseguia alcançar aquele lugar, permanecendo num silêncio quase sepulcral. Sua mão moveu pelos lençóis de seda da cama larga onde estava deitado, encontrando o tecido quase gelado, indicando que apenas ele dormira ali pelo menos nas últimas horas. Os dedos pequenos se fecharam com força sobre um punhado da trama macia, enquanto ele trincava os dentes.

Ele não deveria desejar. Nem querer. Marionetes não foram criadas para expressarem qualquer coisa.

Jimin era uma marionete. Uma espécie de protótipo humano, um clone, criado especialmente para servir de alimento para eles. Era o pouco que sabia sobre si, não possuía muita noção de quem era clone, nem porque ele se mantinha tão reticente e taciturno quando lhe perguntava sobre alguma informação do dono do DNA original. Na verdade parecia haver algo no olhar dele que lhe dava arrepios quando ainda ousava perguntar sobre. Jimin não entendia muito sobre emoções humanas e vontades, também ninguém lhe ensinara sobre, ele apenas tinha aprendido lendo e vendo alguns programas que passavam na enorme televisão da sala.

Um desses programas lhe explicou melhor sobre quem ele era, como aquilo funcionava, porque era tão revolucionário em uma época tão crítica. Eles eram chamados de vampiros, possuíam uma sede por sangue e poderiam viver por séculos sem mudar qualquer traço na aparência física. Com o passar do tempo, foram dominando a sociedade e a fonte de alimento se tornara escassa, existindo fazendas de criação para controlar melhor a população humana. A invenção de clones foi a melhor coisa nos últimos 20 anos, revolucionando até mesmo a forma que os humanos eram tratados. As fazendas perderam o controle rígido de antes e agora cada vampiro poderia ter a sua marionete, um clone de algum humano, uma casca vazia que poderia lhe fornecer sangue por um longo tempo sem secar.

Jimin aprendeu que sua medula fora modificada para regenerar seu sangue numa rapidez assombrosa, então ele poderia alimentar em si sem grandes preocupações. Doenças humanas comuns não poderiam lhe afetar e ele envelhecia de forma bem mais lenta que seu doador original. Jimin ficou surpreso por saber que humanos morriam ao chegar aos 70 anos, enquanto ele passava de 1200 anos de existência. Porém marionetes tinham uma idade estimada de 150 anos, o dobro da humana. A engenharia genética tivera um avanço de séculos em poucos anos, graças a Jeon Jungkook, ele. Jimin sempre via ele na TV e achava curioso como o mesmo parecia mais austero e frio ao vivo. Bem, uma coisa era vê-lo em programas através de uma tela, outra era vê-lo sobre si, se alimentando.

A imagem lhe provocou outra contração involuntária da mão, os dedos esbranquiçados pela força com que segurava o tecido. Jimin existia fazia cinco anos, marionetes eram uma coisa muito nova e sobre a qual havia apenas especulações sobre como seria no futuro. Porém eram sempre com teor positivo. Mas Jimin não sabia se os vampiros simpáticos dos programas continuariam sorrindo se soubessem que ele estava tendo vontades.

Suspirou e se sentou na cama, abraçando os joelhos, pouco se importando com sua nudez, nunca fora reprimido por ela. Já deveria passar de meia noite e ele sabia que não deveria comer fora dos horários estabelecidos para si, porém ele teve essa súbita vontade. Havia algo de perigoso e proibido em possuir um desejo que ia contra o que lhe foi ensinado sobre si, sobre como deveria agir. Seu coração bateu com força e rapidez dentro do peito e ele quase pulou da cama para correr até a cozinha, porém reprimiu aquele comportamento impulsivo. Era demais até para ele.