Único.

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O café estava parcialmente cheio, Rody andava para lá e para cá com as bandejas cheias de xícaras, ele serve o grupo de idosos e retorna ao balcão para pegar o restante dos pedidos.

Suspirou ao ser chamado, rapidamente foi até ao homem de cabelo azul fraco e anotou seu pedido, seus pés estavam lhe matando; A exaustão tomava conta de todo seu ser e ele implorava para Deus por um descanso.

Há meses atrás se viu em uma situação de vida e morte, quase indo para o além se não fosse por alguns centímetros de distância, antes pensava que a frase "sua vida passa por seus olhos" fosse apenas algo clichê de falar para causar mais impacto nas histórias de quase morte; Contudo naquele momento com uma bala passando bem ao lado de seu peito ele percebeu que era verdade, viu todos os momentos com seus irmãos e tudo o que já sofreu para conseguir dar o que comer a eles.

O susto foi grande, Rody fugiu daquele lugar e prometeu a si mesmo que não se colocaria numa situação daquela novamente, seus irmãos precisavam de si. Jogou fora a peruca que costumava usar — uma coisa boa no meio de tanta bagunça, odiava olhar no espelho e se ver loiro, achava horrível — e jogou também a roupa e lentes que costumava usar sempre.

No primeiro mês foi difícil ao extremo, só tinha roupas que eram totalmente remendadas e um sapato gasto, muitos achavam que era um vagabundo e não lhe deram oportunidade se trabalhar, felizmente arranjou uns bicos por vários lugares e aos poucos foi se estabilizando; Juntou o dinheiro sujo, que não se livrou porque dinheiro é dinheiro de qualquer modo, com os pagamentos atuais e comprou algumas roupas novas.

Mais apresentável procurou empregos, foi chamado numa cafeteria local bem movimentada, estavam loucos por mais funcionários para sua alegria. No começo foi um tanto difícil se acostumar, pessoas chamando, tinha que escrever rápido de uma forma legível e saber equilibrar tudo sem derramar uma gota.

Suportar velhos falantes era o pior de tudo.

— Estou indo — Anunciou — Já deu meu horário.

— Cuidado na rua!

Ao chegar em casa foi recebido alegremente pelos irmãos, tinham arrumado a casa no máximo que conseguiam e seguravam dois papéis desenhados. Lala tinha os desenhado em um parque de diversão, igual aos que via na televisão, os dois garotos tinham pernas compridas e magrelas enquanto ela nem pernas tinham, apenas um vestido no lugar do corpo. No desenho de Roro; eles estavam na frente de uma casa azul, ao lado de uma mesa enorme cheio de comidas que ele já viu algumas pessoas comerem e outras que nem sabia se existia ou não, todos sorriam abertamente com suas pernas e braços tão grossos quanto o tronco de uma árvore.

Rody suprimiu um suspiro, sorrindo para as crianças e elogiando os desenhos, logo uma casa boa para morar e não teriam mais que passar fome por não ter o que comer, tudo melhoraria.

— Vou fazer a janta — Disse.

— Ok! — Eles exclamam, correndo para frente da televisão antiga assistir.

Abriu a geladeira, pegando as sobras de comida e o resto de legumes que tinha, colocou tudo na panela e esquentou, não tinham muitas opções afinal teve que comprar roupas de inverno para não morrerem congelados. Logo receberia e então teriam uma pequena fartura, poderia até mesmo comprar alguns brinquedos.

Serviu em porções iguais nas bacias de ursinhos e o pouco que sobrou na panela deixou para si, ele coloca as bacias na mesa e chama seus irmãos para jantar. Eles contam sobre o que fizeram durante o dia, Rody ouve tudo atentamente e comenta vez ou outra, amava essa parte do dia onde podiam conversar tranquilamente como a pequena família que eram.

— Eu vi na televisão uma boneca parecida comigo — Lala comenta — Mas a moça só falava coisas ruins sobre ela... Disse que era feia — Murmurou —  Eu sou feia?

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⏰ Última atualização: Feb 09, 2023 ⏰

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