Ás de Copas

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Abrindo os olhos mais uma vez durante a madrugada, Yutaka, observava o relógio na mesa ao lado de sua cama, os minutos se passavam lentamente, e o sono não alcançava o garoto.

Alguns segundos depois, já acostumado com o escuro quarto, podia ver mais claramente por trás do relógio o maior motivo de seu ódio, yuu, seu gêmeo que dormia tranquilamente no outro lado do quarto. Yutaka odiava a facilidade com que o irmão dormia, bastava beber um copo d'água todas as noites após o jantar e era o suficiente para desmaiar por horas.

Tudo incomodava o gêmeo mais velho, o calor que o fazia suar, o copo com água que sempre era deixado no quarto como se ele fosse yuu, mesmo que o mais velho nunca tomasse, a respiração calma do irmão, os insetos que cantarolavam, quase ironizando sua insônia, a sensação de estar sendo observado ou talvez o simples fato que esses eventos aconteciam a semanas.

Mesmo com a diferença de minutos yutaka se sentia anos mais velho, já tinha sido aprovado por uma faculdade, tinha uma namorada, planos, e o fim das férias marcavam o fim de sua antiga vida na sombra do irmão, que por sua vez desejava apenas voltar para o os dias do jardim de infância onde podia dormir o quanto quisesse e tinha toda a atenção dos mais velhos por não ser parecido com aquele que um dia compartilhou a barriga da mãe.

Cansado dos pensamentos odiosos em relação ao irmão que amava, e pensando em se livrar do calor, yutaka decidiu tomar a bebida que permanecia sendo renovada na sua mesa de apoio e tentar dormir novamente.

Talvez isso não tenha sido uma boa idéia, mas o irmão nunca percebeu a pessoa que entrou pela sua janela, aproveitando que o garoto finalmente tinha tomado seu sonífero depois te tantas tentativas, diferente de seus antecessores os jovens foram poupados por uma misericórdia meramente simbólica, que os fez se despedir do mundo unidos por doses de eutanásia, não se pode dizer que foi uma morte indolor, porém, as expressões pacíficas dos gêmeos não foram o suficiente para calar a mãe que era segurada por polícias, impedida de ver o ás de copas dividido perfeitamente ao meio que era segurado por ambos os irmãos.

Se você esperava uma solução ou uma moral infelizmente eu ainda não as tenho, talvez as vítimas não as tenham, talvez o causador de tudo não tenha, talvez eles nem mesmo se encontraram e estão no inferno rindo da nossa curiosidade.



Quem sabe?



Talvez eu só precise dormir e essa sensação de estar sendo observada vá embora.



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