o cirurgião - vegaspete

I. eu sei que você quer sentir isso

TW: Estupro, assédio e pedofilia.

Isso aqui não é uma romantização.

Se não se sente confortável com estes temas, não leia.

⁂

BNH Hospital, Bangkok

Vegas bebe um gole do café quente, sem tirar os olhos da tela do computador. Ele encontrou um jogo divertido em um site infantil aleatório da internet e isso tem sido seu único entretimento há uma hora. O barulho das teclas e os gráficos de péssima qualidade o deixam cada vez mais irritado com a partida. Seu nariz está congestionando aos poucos por conta do frio e Vegas sente que sua cabeça começará a doer se olhar para a tela por mais um minuto.

Ele bufa ao perder a partida e abandona o site de jogos. Vegas se espreguiça em sua cadeira, sentindo suas costas doerem pela péssima postura. Ele funga, pegando o controle do ar-condicionado para aumentar a temperatura. Seu nariz deveria estar acostumado com temperaturas baixas e a sinusite já deveria ter ido embora, afinal, Vegas trabalha naquele mesmo ambiente há três anos.

Vegas Theerapanyakul é um cirurgião com seus plenos trinta anos. Com sinceridade, ele não imaginava que fosse chegar tão longe. Terminou o ensino médio com dezessete anos e a mente estava em branco, não sabia qual direção seguir. Acabou seguindo o sonho do pai e cursou medicina, embora não possuísse as qualidades de um bom médico. Ele nunca foi uma pessoa tão empática e comunicativa, não se considerava competente o suficiente. Mas, ainda assim, cursou os seis anos de medicina e depois fez residência em cirurgia geral por três anos. Ele foi admitido por um dos melhores hospitais de Bangkok e Vegas tem quase certeza de que pode se dizer um bom profissional.

Seus trinta dias de recesso anual estão chegando, mas antes, ele precisa realizar uma última cirurgia. Em poucos minutos, seu paciente chegará para uma avaliação pré-operatória. Vegas deveria conhecê-lo, mas há uma explicação para nunca ter visto o paciente até então. O médico responsável pela cirurgia de Pete Phongsakorn era o doutor Kan, um colega de Vegas. Ele mandou Pete fazer vários exames para serem avaliados antes da operação, mas houve um imprevisto e o doutor Kan pediu para que Vegas ficasse responsável pela cirurgia. E Vegas aceitou por um único motivo: era uma pequena cirurgia no ombro. Ele até pode realizar a operação sozinho, sem ajuda de enfermeiros. Não é nada complicado.

Agora, Vegas se levanta e vai ao estreito banheiro em sua sala. Ele limpa os óculos de grau com um pedaço de papel higiênico e verifica o rosto no espelho. Nada mal. Seus cabelos escuros estão arrumados, macios. Ele olha para si mesmo, passando as mãos pela roupa. Vegas usa uma camiseta básica e calça flare na cor preta. Monocromático, se não fosse pelo jaleco branco.

Ele volta para a mesa e bebe o resto de café de uma vez, jogando o copo descartável na lixeira ao lado. No mesmo instante, ouve-se batidas na porta. Vegas endireita a postura e ajeita os óculos no rosto.

"Entre." Diz em voz alta e a porta se abre, revelando um rapaz e uma mulher.

A mulher aparenta estar na faixa dos sessenta anos. Seu cabelo é uma mistura de fios escuros e claros, as marcas da idade são visíveis em seu rosto. Ela usa um vestido florido e em suas mãos há uma pasta de arquivos. E logo atrás dela há um garoto.

Um garoto que faz Vegas separar os lábios e erguer as sobrancelhas, que o faz perder o fôlego por poucos minutos que parecem uma eternidade. Pete Phongsakorn é um menino tão bonito e gracioso. O olhar atento de Vegas analisa cada mínimo detalhe do paciente, deixando-o tímido sem perceber. Há uma presilha em seus cabelos lisos e brilhantes, a franja cobre a testa e as sobrancelhas, quase chegando aos olhos. Pequenos brincos enfeitam suas orelhas. A pele de seu lindo rosto parece tão macia e suas bochechas possuem um tom bonito de rosa alaranjado, cor de pêssego. Seus lábios rosados estão curvados num sorriso acanhado, formando covinhas em suas bochechas. Um rosto tão bonito. O corpo está coberto por uma camisa azul de botões com estampas de ursinhos coloridos, uma bermuda cujo comprimento não passa dos joelhos e tênis brancos. Além de, por fim, carregar uma bolsinha de lado.