Em outras, perco a mão e estrago a massa

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Assustado.
É como Kim Namjoon se sente, os dedos gélidos do medo tocando sua pele e arrepiando seus pêlos, a risada maligna e cruel do desconhecido em seus ouvidos, o cheiro desagradável da dúvida em seu nariz, o gosto amargo da impotência em sua língua e a ardência em seus olhos causado pelas lágrimas contidas.

Só queria fugir, correr para o quarto dos pais, se enfiar debaixo das cobertas e esperar que a tempestade passe. No entanto, o barulho estridente dos trovões ainda ecoava em sua alma.

E tempestades sempre trazem histórias e a convicção que batia aflita em seu coração era que havia encontrado seu lar e agora descoberto, o medo descomunal de perdê-lo.

Depois de anos se escondendo a sombra de palavras, perdido em significados, se equilibrando desajeitadamente sobre uma linha reta, ora ou outra tropeçando em vírgulas e pontuação, vivendo vidas que não eram dele ou em casas que não eram a sua. Isso, até aquele exato momento, até vê-lo chorar e perceber que nunca fora alguém de lugares, mas de pessoas.

Em especial, de uma só.

Justo ele, um escritor que contava histórias de pessoas, se apaixonava por elas, por conexões profundas de amizade e amor.

Seu lugar favorito no mundo deixara de ser uma cafeteria vinte e quatro horas que servia bolos de laranja e café com canela para ser alguém, ser Kim Seokjin.

Mirou-o, os olhinhos inchados e o rosto corado pelo choro recente, mas ainda com um sorriso leve nos lábios. Por longos minutos, seu mundo esteve desmoronando a sua frente, em seus braços, lhe apertando mais forte a cada vez que sussurrava um pedido de desculpas, mesmo que não houvesse condenação nenhuma sobre seus ombros. Tudo que queria fazer era arrancar dele a angústia e colocar sobre si, para ele, lidar com a dor era fácil e até familiar.

Quieto, Seokjin mordiscava o lábio inferior enquanto encarava o moreno de volta, querendo saber o que se passava em sua cabeça. E bom, tinham tempo de sobra, precisariam esperar que Jungkook acabasse seu expediente na cafeteria para vir socorrê-los. Se remexeu no banco ficando de lado, apoiando a cabeça no encosto, inclinado em sua direção.

— No que está pensando? — Perguntou dispensando o silêncio incômodo entre eles.

— A verdade? — Estendeu a mão tocando seus dedos, atraído como imã.

— Por favor. — Assentiu.

— Acabei de entender que você é o meu lar e não faço a menor ideia do que fazer com essa informação. — Soltou com um suspiro pesado — Aqui, parado no meio da estrada, preso dentro de um carro conversando com você, me sinto em casa e não iria querer estar em outro lugar.

— Nossa. — Foi a única palavra que consegui dizer perto de tanta intensidade.

— É, nossa. — Concordou com uma risadinha depreciativa.

— Não. — Negou balançando a cabeça e entrelaçando seus dedos — Sou péssimo com palavras, mas o que quis dizer com esse nossa é que acho que nunca fui visto ou amado assim.

Suas sobrancelhas se estreitaram em confusão e se remexeu no banco, virando para ele, ficando cara a cara.

— Como? — Questionou verdadeiramente incrédulo.

— Ai, vamos mesmo entrar nesse assunto no nosso primeiro encontro? — Bateu com a mão na própria testa e respirou fundo — Ok. Vamos lá, história sobre ex vindo aí, então, se prepare!

— Conheci meu ex na faculdade, éramos os melhores da turma e vivíamos competindo pelo primeiro lugar, o melhor chefe — Riu com as lembranças pipocando em sua mente e passando por seus olhos como um filme — Acho que era tesão acumulado ou alguma coisa assim, porque acabamos em um relacionamento esquisito, mas acabei perdendo a mão e estragando a massa, o tempo passou e não percebi, quando caí em mim já estava apaixonado e fazia de tudo pra sustentar o que quer que tivéssemos! — Sua voz vacilou um pouco e arranhou a garganta antes de continuar — Era extremamente possessivo e ciumento, ele podia fazer joguinhos comigo, mas se eu fizesse o mesmo, o mundo acabava, chegou ao ponto dele me sabotar nos dias de prova prática, trocava meus temperos de lugar ou os escondia, mexia no fogão sem que eu visse e perdi a conta de quantas receitas minhas perdi, quase reprovei. Mas, uma coisa é certa, eu sempre fui e sempre serei o número um, o melhor. — Riu debochado e orgulhoso — No final, ele ainda me acusou de trapaça e disse que eu não merecia ser amado, que não merecia os sentimentos que ele tinha por mim, que eu era ingrato e não o ajudava, não lutava por ele tanto quanto lutava pelos meus sonhos e que ele não me enxergava mais como o namorado dele e terminou comigo. Fim. — Terminou batendo palminhas com um sorriso forçado.

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⏰ Última atualização: Feb 13, 2023 ⏰

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