Assim que kouyou saiu da cabine fria do elevador, pôde sentir que algo estava errado, o corredor que normalmente teria a presença de kai o corrigindo por ter se atrasado, agora estava vazio.
Dando alguns passos a frente para chegar à sala de prática, a porta que almejava foi batida com força, dela saiu kai, que não parecia nada contente, seguido do líder, reita também saiu da sala de prática apenas para agarrar o braço de Yutaka e sussurrar algo que Uruha não compreendeu.
Conforme se aproximava dos colegas, que agora tinham notado sua presença, notava que pareciam cada vez menores, reita sinalizou para que o guitarrista não passasse.
Kouyou notou sua expressão abatida e seu coração se apertou, "eu estou tão atrasado que diminuíram meu salário?" Foi o que o homem pensou para aliviar a tensão do corredor, que a cada segundo se tornava mais sufocante. O silêncio de ambos não ajudava e com tamanha curiosidade, o que uruha fez foi passar pelos artistas e entrar pela porta que tinha sido ferida por Yutaka segundos atrás.
O guitarrista percebeu ter sido seguido e quando viu o cenário a sua frente se sentiu pressionado a suprimir o seu alegre 'bom dia'. Aoi estava em pé apenas com um maço de cigarros na mão e a chave do seu carro em direção à porta preparado para sair e no outro lado da sala Ruki, que normalmente era o único puramente acordado junto do baterista, estava sentado, apoiado nos joelhos com as mãos tentando cobrir a face com lágrimas solitárias.
Uruha não sabia o que o deixava mais preocupado, ver takanori com um olhar vazio e vermelho ou ver aoi sair como se não enxergasse o vocalista naquele estado.
"Aoi, o que aconteceu com ruki? Ei-"
Akira que observava a confusão de uruha o disse com os olhos vermelhos "ele desistiu, dessa vez para sempre" kouyou não entendeu o que diabos reita havia dito.
"Como assim? Por que todos estão indo embora , que porra tá acontecendo?"
"Qual parte do 'ele desistiu' você não entendeu, uruha? Aoi está saindo da banda por que não quer pagar a merda de um psicólogo ou falar com a gente sobre os problemas dele" disse kai com a voz falha mas com a autoridade de um líder.
"Yuu, espera!" Uruha deixou seu instrumento no chão "isso só pode ser uma brincadeira, né? A gente tá preparando um álbum, você não pode simplesmente nos trair assim depois de vinte anos"
Aoi que se manteve calado esperando o elevador chegar, se virou rapidamente com o cigarro não aceso já em sua boca, apenas para o retirar. "Trair? Trair, kouyou? Depois de tudo o que a gente passou vocês acham que isso é Trair? Você por um segundo se colocou no meu lugar? Em como é não ser o queridinho dos fans, me preocupando em quando tudo iria acabar e eu ia acabar por aí fazendo entregas? Quando eu me import-...Isso não importa mais, eu mesmo estou acabando com isso e todos os meus problemas, mas ninguém liga não é? todos vocês estão chorando e se lamentando, mas em uma semana um garoto mais jovem que eu estará no mesmo lugar que eu estive, comendo da mesma comida que eu comi, com as mesmas pessoas, nós não somos mais adolescentes reita, nada se resolve com bebidas, kai, eu já tenho dinheiro o suficiente pra pagar o meu velório se me acharem na porra da sarjeta, ruki, não aja como se isso fosse a pior coisa que eu já disse, e uruha, não se esqueça, desde que nos saímos daquele empresa de merda você não precisa fingir que se importa comigo"
Uruha sentiu seu mundo desmoronar, estava extremamente decepcionado e sentia seus sonhos sendo esmagados, a idade não tinha o preparado para essas palavras, exatamente por não serem mais jovens ele sabia que essas palavras vinham do coração do mais velho. Como ele podia dizer tudo isso depois de todos esses anos juntos, a sua amizade não era real? Todas as experiências compartilhadas eram apenas profissionalismo? Todas as conversas profundas que tiveram nos piores momentos eram uma farsa? Seu sonho da banda eterna com seus amigos onde apenas se divertiram e criavam músicas estava sendo despedaçado por um dos próprios amigos? Era tanta tristeza que antes que kouyou pudesse refletir o que sentia ele fez o impensável.
"Eu não quis dizer dessa forma, mas vocês já tentaram uma vez, a dez anos atrás e bem, deu certo, mas eu não consigo mai-" a despedida de yuu foi interrompida pelo punho de kouyou acertando o rosto do ex guitarrista que foi impulsionado para o lado esquerdo do estreito corredor e colocou a mão sob o rosto.
Em um piscar de olhos os outros três se aproximaram para separar uma possível briga "você quer piorar as coisas, kouyou? Ele já se decidiu" disse ruki enquanto segurava o braço direito de uruha, que lentamente começava a sentir o que estava acontecendo, não queria perder seu amigo, mas não sabia o que fazer ou falar, queria ter a confiança do seu eu de 31 anos que confrontou yuu e disse tudo o que o seu coração sentia, mas só conseguiu derrubar uma lágrima e ir ao chão, não se lembrou de muito depois disso, apenas de encarar a sua mão machucada pelo próprio anel no impacto e se não estava alucinando de ouvir yuu dizer que sentia muito, mas o que tinha certeza é que yuu nunca mais entrou naquela cabine fria do elevador.
