Sentado na cadeira de seu escritório, Stenio encara a tela do computador lendo pela 3 vez o mesmo e-mail.
Receberá naquela manhã uma proposta de um amigo para expandir seus negócios. Uma sociedade em um escritório de advocacia na Europa, em Portugal. Já tinha alguns negócios por lá, porém agora seria algo maior e mais lucrativo.
O advogado respirou fundo, esfregou o rosto com as duas mãos, se curvou e apoiou a testa sobre a mesa.
Flashs dos momentos com a amada desde que se reencontram surgem em sua mente. Sabia que se, talvez, insistisse por mais alguns meses a delegada poderia ceder e dar mais uma chance ao relacionamento deles, pelo menos era o que achava. Porém a dúvida era, queria passar a vida insistindo, implorando pelo mínimo de atenção da delegada? Já não estaria velho de mais para isso?
Sempre soube que Helô era difícil, uma mulher de enlouquecer até o mais paciente dos santos. E mesmo assim amava aquela mulher mais que tudo na vida. Tinha consciência de todos os erros que cometerá principalmente durante o primeiro casamento e se odiava por isso, mas não era justo que tivesse que pagar por seus erros de anos atrás eternamente, era?Durante o segundo casamento se esforçou de todas as formas para ser o melhor marido possível, e ainda assim, desavenças profissionais os levaram ao segundo divórcio e afastamento por mais de 2 anos.
Ele vinha tentando chamar atenção dela novamente após o reencontro, desta vez tentado fazê-la sentir saudade dele. Aparecia no apartamento dela, a convencia a terem momentos de carinho e até mesmo momento mais quentes, e depois sumia, mas a cada dia percebia que a tática não estava funcionando, já que Helô parecia lidar bem com a distância.
Suspirou mais uma vez lembrando-se do último encontro que tiveram. O dia do show da marrom.Dançaram coladinhos, entre mordidinhas e beijos no pescoço um do outro. Se cheiraram sem pudor na frente de quem quisesse olhar. Sorriu lembrando do jeito desengonçado como a delegada dançava. Ela era de fato uma mulher maravilhosa, mas dançar realmente não estava entre os tantos talentos de Helô.
Achou que aquela noite terminaria com os dois suados e ofegantes na cama de um dos dois , porém bastou Alcione anunciar a última música para que o celular da delegada tocasse e para que ela corresse para parte externa no bar para atender.•FLASHBACK ON•
- Volta aqui, Helô. _ eu disse correndo atrás dela.
- Volta lá para dentro, Xxtenio.
- É da delegacia? Você está de folga, Helô. Não precisa atender.
- Shiuuu. Calado. _ Gritou me repreendendo e atendeu a chamada. _ Iae, Yone. Fala comigo. Aham... Aham. Entendi, tô indo. Tô indo.
- Não acredito nisso. _ digo resmungando e ela me fuzila com os olhos antes de encerrar a ligação. _ Sério isso, Helô?
- Trabalho, meu querido. Trabalho!
- Estamos aqui curtindo, Helô, e é sua folga. Não vou deixar você ir.
- Acho que você não decora, não assimila que não somos um casal e que eu não tenho que te dar satisfação.Paralisei, à encarando. Não era a primeira vez que me dizia aquilo, mas sempre doía da mesma forma.
Mas o que eu poderia fazer? Se não tinha lugar de fala nem quando éramos casado.- Tô começando a decorar. _ digo e respiro fundo. _ Avisa a Creusa que estamos indo. Vou chamando o uber e te deixo na delegacia. _ já não a encarava mais, me ocupava em pegar o celular para pedir o carro no aplicativo.
Helô bufou e saiu marchando para dentro do bar novamente.
Quando voltou o carro já esperava na calçada.
Abri a porta para ela e então seguimos até a delegacia. Em silêncio, cada um em uma ponta, olhando para janela.O que tinha tudo para ser uma noite maravilhosa se tornou uma porcaria.
Ao chegamos à delegacia, ela disse um "boa noite" seco e saiu do carro.
E eu, sem ter o que fazer, segui para minha casa. Desde então não nos vimos mais. Exatos 10 dias.