Latte Boy

Butterfly Girl

Era um belo dia de primavera. O sol brilhava forte e os agradáveis 26 graus vinham acompanhados com uma suave brisa que esvoaçava levemente a barra dos vestidos de todas as moças que passavam pela rua, dando um belo movimento e deixando tudo parecendo a paisagem de um quadro.

Sooyoung fazia aquele trajeto tão conhecido da faculdade até seu café favorito quase saltitando. Todos os alunos do curso de literatura deveriam escrever artigos sobre composições literárias, gêneros e outras especificidades e, claro, a Park aproveitaria a oportunidade para escrever sobre aquilo que mais gostava em toda literatura: contos de fada! A felicidade era tamanha que, se não fosse pela pilha de livros pegos emprestados na biblioteca da faculdade que carregava consigo, estaria literalmente saltitando pelas ruas.

Vestia sua roupa favorita: um belíssimo e confortável vestido veranil branco com saia rodada e estampada com várias Diaethria anna. A leve mochila que levava em suas costas também era avermelhada, quase no mesmo tom do vestido. De quebra, ainda vestia sua linda sapatilha preta pra lá de confortável. Pra terminar, o cabelo preto, liso e longo voava livre com o vento, lhe dando uma aparência ainda mais primaveril.

Cruzou a Alameda tão conhecida, abrigando-se na sombra das ameixeiras. Dez minutos de caminhada depois, cruzou mais uma esquina e finalmente chegou ao Lattestation. Com um sorriso do tamanho do mundo, adentrou a cafeteria pronta para aquela tradição que se repetia todos os dias.

Sentou-se à primeira mesa ao lado da porta, que era também ao lado da janela e cruzou confortavelmente as pernas. Posicionou os livros em cima da mesa na ordem em que os leria e nem sequer precisou levantar a mão e pedir que um dos garçons fosse até si, pois, como todos os dias, o latte boy foi até ela.

O barista moreno com seu sorriso característico pelas belas covinhas ostentava uma placa com o nome "Jaehyun", mas Sooyoung havia o apelidado para lá de carinhosamente de latte boy. A razão? Bem, o barista todas as tardes vinha sorridente até sua mesa anotar pessoalmente o pedido, sem a necessidade de garçom. Todas as tardes, Sooyoung pedia latte — em dias quentes como aquele, latte gelado. —, o especial da casa. Jaehyun anotava o pedido e voltava poucos minutos depois, com o latte e um sorriso doce. Todas as tardes desde o primeiro semestre da faculdade vinham sendo assim, consagrando um pequeno ritual entre eles.

Era pouco, mas a presença do barista e seus sorrisos cordiais eram presença marcada em seu dia-a-dia e, de certa forma, eram um conforto em seu dia. Ela esperava todos os dias encontrar o latte boy e tinha certeza que de um dia ela não fosse até a cafeteria acompanhada de um livro — ou uma pilha deles, como era mais comum — ele estranharia, assim como ela estranharia se um dia ele estivesse ausente no café.

Entretanto, a estudante parecia não notar que, por trás do sorriso doce havia algo a mais. Todos os dias uma fagulha de interesse brilhava nos olhos do barista, sempre confundidos com simpatia por Sooyoung, ou melhor, pela butterfly girl.

Isso mesmo, butterfly girl. Jaehyun também tinha um apelido carinhoso especial para a estudante de literatura.

Ele não sabia se era algo que ela fazia questão, mas quase tudo da garota tinha ou era sobre borboletas. Desde as estampas das roupas, como o vestido daquele dia, até as canetas, especialmente enfeitadas, as quais ele já havia espiado num dia em que ela fazia anotações numa caderneta — que também tinha uma borboleta na capa. Se Jaehyun não a visse todos os dias com os mais diferentes livros sobre literatura, poderia jurar que ela era estudante de biologia e que se especializaria naqueles insetinhos voadores.

Ele não podia mentir, era fofo como todas as coisas dela tinham a ver com essa paixão, mas ainda era pavoroso pensar naqueles insetos. E por mais irônico que fosse, Jaehyun era apaixonado pela garota borboleta, mas tinha pavor de borboletas. Claro, ele sempre se esforçava para não o demonstrar perto dela, afinal, ainda não tinha tido a coragem de lhe pedir o número do telefone e tinha certeza de que levaria um belo fora se ela soubesse que ele morre de medo de uma das coisas que ela mais ama.