twenty eight;

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Well, you do enough talk
My little hawk, why do you cry?
Tell me, what did you learn from the Tillamook burn?
Or the Fourth of July?
We're all gonna die
- Fourth of July, Sufjan Stevens

Antes de receber alta de forma definitiva, Emma ainda foi mantida por alguns dias no hospital para ter um acompanhamento direto de sua desintoxicação, um processo que não se provou nada fácil em seu desenrolar.

Por sorte, Eric apareceu bem a tempo e se revelou de grande ajuda.

"Está tudo bem, querida, tudo bem...", Emma estava encolhida contra ele, os cabelos castanhos caídos sobre seu rosto, e sua aparência soando magricela e frágil dentro da larga bata azul entregue pelo hospital; suas crises de tremores pioraram de forma rápida e logo mais sintomas foram se agregando, incluindo uma terrível náusea que removeu todo o seu apetite num rompante.

"Vamos, pegue um pouco..."

"Por favor", ela murmurou, tentando se desvencilhar. "Me deixe em paz."

Os dois estavam sentados à beira da cama, e ele tentava ao máximo convencê-la a comer um pouco do jantar. Saoirse se encontrava na poltrona diante deles observando o extremo cuidado do homem ao apoiar a bandeja em seu colo e segurar Emma ao mesmo tempo, a sussurrando baixo alguma coisa em francês, tendo a resposta no mesmo idioma, porém com o tom vacilante e trêmulo dela.

"Je veux être seul" (Eu quero estar sozinha), disse Emma num tom baixo e petulante, porém sem forças para se soltar do abraço do pai, que àquela altura tinha os óculos perigosamente equilibrados na ponte de seu nariz tentando apaziguar a filha. As mudanças de humor dela eram naturais diante do processo, segundo os médicos, mas havia algo a mais que eles não conseguiam entender, que era sua extrema relutância em receber ajuda, principalmente física.

Eric e Saoirse foram os únicos a conseguir ao menos tocá-la sem serem rechaçados.

"Você tem que estar forte, se não como irá dançar?", disse ele, dessa vez em inglês mesmo ainda segurando um garfo com vegetais em sua ponta. "Por favor, vamos..."

No fim, ele conseguiu convencer Emma a comer algumas pequenas porções, e então a deixou em paz no seu leito, protegida por um verdadeiro escudo formado pelos lençóis, os olhos cerrados, porém o sono não lhe vinha.

Nessas noites de insônia, Saoirse ficava ao seu lado na cama, sussurrando histórias da época da academia de dança, e Emma as ouvia com um certo fascínio.

"...você lembra de quando foi suspensa das aulas da Madame Ivanova?"

"E como lembro...", ela sorriu nostálgica. "Foi minha melhor performance daquele solo de Hamlet até hoje."

"Acho que ela deve ter traumas com essa peça mesmo depois de tanto tempo", as duas riram, e por um breve instante Emma pareceu ter de volta aquele seu vigor natural, sorrindo levemente ao se encostar contra o travesseiro, sem sua comum expressão de dor.

"Ele ainda está ali?", Emma sussurrou, indicando a porta com a cabeça, e Saoirse concordou em silêncio. "Que bom... uma pena que ele tenha aparecido justo quando estou desse jeito."

Saoirse mordeu seu lábio, apreensiva pela pergunta que teria de fazer.

"Por que vocês-", ela começou e Emma voltou os olhos em sua direção, atenta e um tanto surpresa. "Quer dizer, vocês eram próximos antes, mas... o que houve?"

Emma balançou a cabeça, tentando desconversar sobre o assunto e disse:

"Coisas do tempo...", ela baixou os olhos e estreitou as sobrancelhas. "Estava muito ocupada com a dança e ele... bem, eu não sei, só acabou acontecendo."

Looking For Juliet || Watsonan ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora