Nostalgia

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Era nostálgico voltar a Paris depois de tantos anos. Tudo era familiar, tudo estava igual, e ao mesmo tempo tudo era diferente, eu era diferente, não era mais a garota alegre e cheia de sonhos bobos. Casar com o príncipe encantado, ser uma estilista mundialmente reconhecida. casa dos sonhos, família dos sonhos, emprego dos sonhos. O maior problema dos sonhos é que alguns se realizam.

Não que eu esteja reclamando, longe disso, eu até gosto da minha vida, acho que posso dizer com certeza que sou feliz, na medida em que uma pessoa, um adulto pelo menos, pode ser feliz. Claro que eu teria tomado algumas decisões diferentes, mas não mudaria tanta coisa, afinal, cada ato, cada momento, faz parte de quem eu sou, e cada decisão colocou minhas crianças na minha vida. Mesmo que às vezes seja exaustivo, não era o suficiente para nos impedir de adotar um terceiro filho, então não podia ser tão ruim assim.

Meu maior problema era meu trabalho. Ser uma estilista sempre foi meu sonho, mas é como dizem, "trabalhe com o que você ama, e você nunca mais amará nada", era praticamente assim que eu me sentia, o trabalho me consumia a tal ponto que tinha perdido grande parte do desenvolvimento de meus filhos, assim como tinha perdido o afeto de meu marido.

Era exatamente por isso que eu estava ali hoje, caminhando pela sombra de um telhado para não ser vista, depois de deixar meus filhos na casa de meus pais. Precisava espairecer um pouco, e não podia ser como Marinette, já que mesmo ali eu era constantemente reconhecida na rua. Então me transformei, como não fazia a mais de dez anos, e tomei cuidado para não ser vista, já que minha presença poderia causar pânico à população, caso alguém pensasse que minha presença significava o retorno de Gabriel Agreste.

Era ótimo estar novamente sobre a cidade, me dava a sensação de ser poderosa, determinada e ao mesmo tempo insignificante e pequena. Meus pés me levaram até a torre, quase sem querer, um lugar que eu tinha evitado por tanto tempo, mas agora, parecia o destino óbvio para a noite.

Pousei no chão de ferro com pouco mais de um baque silencioso, a iluminação externa mal clareava a parte coberta da torre, e lançava sombras longas pelos pilares.

Procurei a sombra mais escura e me deitei nela, a cabeça voltada para as grades, de modo que pudesse olhar o céu, por mais que estivesse apagado, em decorrência da inúmera quantidade de luzes abaixo.

Quantas vezes tinha passado a noite sozinha naquele lugar? Fugindo de casa na madrugada para vagar na escuridão. Colocar os pensamentos em ordem, esquecer os problemas, sonhar com Adrien. Quantas vezes tinha passado horas acordada ali com Chat, jogando conversa fora, aturando piadas idiotas, trocando beijos. Até que tudo acabou, tão de repente quanto tinha começado, uma luta qualquer e de alguma forma acabou com a derrota do meu maior inimigo, lançando caos e incerteza em minha vida, quando de repente Chat desapareceu após uma discussão boba, Adrien se mudou após o escândalo de seu pai, e meses depois fui para New York estudar e trabalhar com Audrey.

Tinha voltado a Paris nas férias durante os quatro anos da faculdade, e em nenhuma das visitas tinha visto ChatNoir, por fim desisti de encontrá-lo, e assim que arrumei um trabalho no ramo da moda parei de voltar para casa. Depois de tantos anos tinha voltado a cidade onde cresci, apenas por alguns dias, e como da ultima vez, não resisti a vagar pelos telhados, embora esta fosse a primeira vez que tive coragem de vir na torre.

Fechei os olhos, coberta pela escuridão da noite, e aos poucos deixei que a sensação de nostalgia me dominasse, me levando para os anos em que as coisas eram mais fáceis e não sabíamos, e com a lembrança dos dias de ouro, fechei os olhos, prestando atenção nos sons distantes da cidade semi-adormecida.

Acordei de meus devaneios com a sensação conhecida de não estar sozinha, graças aos sentidos aprimorados da transformação. Fiquei em silêncio, alerta a qualquer movimento próximo. Permaneci estática quando a forma negra cruzou o espaço escuro, caminhando direto para o beiral iluminado.

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