2009
Era manhã de domingo e mamãe me acordava para ir à missa das 9:00, ela entrou no quarto e logo abriu as cortinas onde me deparei com a bela vista da torre da catedral da cidade, logo me levantei sentido o cheiro de panquecas vindo da cozinha. Papai estava sentado na mesa saboreando seu delicioso café preto enquanto revisava algumas das músicas que iria tocar com o coral, fui correndo lhe dar um beijo no rosto e ele logo retribuiu com um aperto na ponta do nariz. Logo mamãe preparou uma caneca de achocolatado pra eu beber, o relógio logo marcou 8:30 então eu saí da mesa e fui me arrumar, coloquei um vestidinho azul e mamãe prendeu uma fitinha da mesma cor no meu cabelo, não demorou muito para que o sino da igreja tocasse anunciando que o início da celebração estava próximo.
Logo chegamos à igreja, entramos e nos sentamos no segundo banco da lateral onde ficava o coral, papai logo foi montar o equipamento de som que usariam na celebração do dia. Era dia de formação de novos coroinhas, eu amava aquilo, logo me tornaria uma assim que completasse sete anos visto que eu tinha apenas quatro no momento, minutos antes do comentarista iniciar sua fala uma família sentou-se no banco detrás, eu não os conhecia, mamãe sim, eram os Carter com seus filhos John e William, Sr. Alex Carter havia trabalhado com mamãe no colégio Senhor Bom Jesus em 2001. Seu filho mais novo, William me chamou atenção, não sei explicar bem o porquê, ele tinha um rosto simpático, me peguei virada para trás o encarando até que mamãe me repreendeu para que eu virasse meu corpo para frente, Will logo ficou sem jeito visto que John tinha o zoado pelo fato de eu o ficar encarando, a missa prosseguiu normalmente e eu não virei para trás novamente e daquele dia em diante eu os via todo domingo na missa da manhã.
8 anos depois...
Eu estava com 12 anos, havia me tornado coroinha e sempre servia nas missas do domingo e a primeira coisa que fazia todas as vezes que chegava à igreja era procurar por Will, nunca entendi quando essa atenção sobre ele se iniciou e nem o porque, mas Will sempre me atraiu inexplicavelmente, durante as celebrações eu tinha uma visão ampla da igreja por sempre ficar no presbitério, e meus olhos sempre encontravam Will no canto da igreja junto aos pais, ele agora com seus 16 anos era muito diferente do Will de sete, ele usava óculos e tinha os cabelos cortados baixo, era calado e bastante introvertido, nosso diálogo nunca passou de um Oi discreto quando eu passava ao seu lado para ir a cabine dos sinos, ele fazia Crisma no sábado de tarde junto com Louise, minha prima, eu sempre os via quando saia da catequese infantil, mas ele nunca me viu. Sempre tive dificuldades de me relacionar com o pessoal mais velho, talvez pelo fato de ser a prima mais jovem, Louise era dois anos mais velha, mesmo que pareça pouco a diferença é visível, meus primos mais velhos não gostavam que eu participasse das atividades com eles por ser “nova demais” e sempre davam o jeito de me desvencilhar das brincadeiras ou aproveitavam da inocência pra trapaças como por exemplo eu contar em todas as rodadas de pique esconde, pegar sempre no pega-pega, nunca pegar a bola no bobinho...enfim essas coisas que são fáceis de fazer com as crianças mais jovem e talvez mais inocentes eu podia até desconfiar que estava sendo passada pra trás mas aceitava por medo de ficar sozinha nas brincadeiras. O medo disso acontecer de novo era grande, claro que eu não tinha mais 6 anos, mas ainda me sentia deslocada e muito criança para frequentar o ambiente dos adolescentes eles eram assustadores, tinham olhar de julgamento como se tudo a sua volta fossem incorreto na visão deles, uma coisa era muito vergonhoso, outra coisa era brega, outra era infantil nunca entendi esse padrão todo de conduta. Louise constantemente fingia minha existência como se eu fosse uma desconhecida, cumprimentava discretamente como se tivesse vergonha de dizer que me conhecia, eu tinha um comportamento agitado e espontâneo, sempre alegre e brincalhona talvez isso seja proibido no código de ética dos adolescentes mas é melhor não testar, Lou e eu sempre fomos muito grudadas na infância até que do nada ela resolveu crescer e me deixou pra trás, começou a ter outros interesses, outros passa-tempo e eu não me encaixava em mais nenhum. Provavelmente esse receio todo de me aproximar dos adolescentes dificulte minha possível amizade com o Will e talvez nossa relação não passe de um Oi.

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Quando o sino toca!
RomanceMaya, uma adolescênte de 17 anos que vê sua vida virar de ponta cabeça enquanto aprende a lidar com o primeiro amor de infância.