Eve
Os dias transcorriam de maneira arrastada, como se eu estivesse imersa em uma realidade paralela. Uma rotina peculiar se estabeleceu entre Magnus e eu. Cada manhã, despertava com a luz do dia invadindo o quarto que agora compartilhávamos, não mais na torre. Passamos a dormir juntos, adotando uma dinâmica de casal. Ao me virar na cama, sempre encontrava o lado dele vazio, pois ele se levantava antes de mim para se exercitar do lado de fora do mosteiro. Mesmo diante do frio intenso, ele treinava sem camisa, usando apenas uma calça de moletom.
As vezes eu ficava observado-o através da janela fosca, o homem parecia uma máquina, seus músculos vistosos tensionavam enquanto ele pegava os pesos. Eu ficava impressionada com a disciplina dele. Ele se exercitava todos os dias, sem exceção, independente das condições climáticas. A ferida no braço dele havia melhorado bastante, agora havia apenas uma cicatriz quase imperceptível. Mas sempre que ele podia, me lembrava o que eu havia feito e me fazia sentir culpada.
Enquanto ele estava lá fora, eu me levantava e seguia para a cozinha preparar o café da manhã que ele nunca comia. Contudo eu não podia deixar de fazer, se ele voltasse e não visse o café pronto, me obrigava a fazer, mesmo que ele não comesse. Então, passei a cozinhar todos os dias, todas as refeições, mas eu sempre as comia sozinha. Ele apenas sentava à mesa e me fazia rezar antes de comer. Logo após levantava e saia me deixando sozinha. Seu prato ficava intocável, mas eu não podia deixar de prepara-lo.
Ele costumava afirmar que qualquer prato que eu preparasse estava terrível nas raras ocasiões em que experimentava, fazendo-me temer que ele decidisse comer. Agradecia sinceramente a Deus quando ele optava por não fazê-lo, tornando cada refeição uma tormenta.
Aquela manhã não era diferente, acordei e não o vi na cama. Eu estava deitada e os eventos da noite passada ainda permaneciam na minha mente tão cedo de manhã. Movi-me e fiquei de barriga para cima. Meu corpo nu mostrava as marcas que ele deixou na minha pele alva. Hematomas azuis, tão qual a safira do meu anel de casamento que brilhava no meu dedo. Decidi me levantar e cobri meu corpo com um robe.
Enquanto arrumava a nossa cama, orei em pensamento para que ele estivesse de bom humor essa manhã, não que ele fizesse questão de se mostrar agradável, mesmo que eu fizesse tudo certo ele sempre encontrava um jeito de me maltratar. Suspirei profundamente enquanto pegava um travesseiro e afofava. Bati algumas vezes, mas do que era necessário como se quisesse descontar minha frustração no objeto. Balancei a cabeça negativamente e arrumei o travesseiro no lugar. Nada adiantaria, eu tenho consciência que tudo que ele fez é puramente por vingança, ele está me punindo.
Entrei no banheiro e me olhei no espelho. Tirei o robe e observei-me. Meus olhos verdes encheram de lágrimas, eu parecia um zumbi, uma sombra do que já fui. Estava mais magra do que já era, podia perceber os ossos sobressaindo, meus seios já não produziram leite como antes, no entanto parecida mais vistosos em contraste com o resto do meu corpo. Lembrei que padre Magnus adorava se perder neles com a boca, ele os sugava como se fosse um filhote. Isso era tão dolorido para mim, porque era para meu filho se alimentar e não ele.
Imaginei o Henry, já deve estar tão grande, no entanto eu não consigo fazer uma imagem dele na cabeça. Meu sangue esfriou no corpo, eu lutei contra isso, mas penso que padre Magnus está conseguindo o que queria, me fazendo esquecer meu filho. Claro que meu coração ainda doía, mas eu não sei, é como se meu cérebro simplesmente tivesse criado um mecanismo de defesa. Eu sentia falta do meu filho, mas já não sofria mais como antes, é como se ele estivesse se distanciando a cada dia de mim, não só fisicamente, mas nas lembranças. O fato de eu ter convivido com ele tão pouco deve contribuir para isso também. Eu só me sinto culpada por tudo.
Virei-me para ligar o chuveiro, buscando a tranquilidade que só a água quente podia me proporcionar. Os momentos matinais de banho eram preciosos para mim, oferecendo a única oportunidade de privacidade que eu tinha. Perdido na névoa quente, sentia que a pessoa que eu fui um dia se dissipava. Respirei fundo, absorvendo o vapor enquanto expirava as tragédias passadas. O sabonete se dissolvia em uma espuma cremosa, acariciando meu peito e escorrendo preguiçosamente pelas minhas coxas.
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Perverso - O padre e eu
RomanceSinopse: Pensei que encontraria a felicidade casando com o homem que eu amo, afinal de contas ele deixou o sacerdócio para se casar comigo, ele jurou isso em nosso casamento. Quer uma prova de amor maior que essa? Eu acreditei, pelo nosso filho, p...