Capítulo Único

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 Chuva, oh chuva… 

  Era uma chuva agradável de se sentir presente, porém bastante cheia. Não parecia acabar nunca, e não se sabia dizer se isso era necessariamente ruim ou não. Ao menos não para Kaiser, que parecia odiar aquele momento com todas as forças que tinha em si.

  Estava deitado na cama de casal, bagunçada, se escondendo do clima de frio com um cobertor quente e vestindo um moletom preto. Era acolhedor, ainda mais na presença de seu segundo travesseiro, que abraçava fortemente. Sentia o seu cheiro várias vezes, a fragrância suave de cereja que Joui usava, impregnada ao item. " Ah… " suspirou, " Será que ele vai demorar?... "

  Joui havia saído de casa para comprar algo no supermercado, já que era quatro horas da tarde e as geladeiras estavam quase que vazias, e estava demorando mais do que Kaiser pudesse suportar. A solidão que o amargurava naquele dia de chuva era tanta que havia pegado o travesseiro do Jouki, lhe perfumou com a colônia que usava, o vestiu com seu suéter vermelho e, como se não fosse suficiente, riscou um "X" em seu topo esquerdo e um smile face no centro. Parecia exagerado? Parecia, mas sentia ser o necessário. Não gostava nem um pouco de passar por esses dias frios sozinho e aquele "Joui" parecia ser a única coisa na qual podia o acalmar. Uma hora ou outra, pegava o celular e ligava para o namorado.

  Zzzzz… Zzzzz… Zzzzz…

  "Alô? Kai? Tá tudo bem aí?" Se escutava do outro lado da linha de chamada, era ele.

  — Joui, vai demorar muito? - Perguntava num tom de voz carente, era a quinta vez que ligava para perguntar isso.

  "Acho que não! Desculpa a demora, anjo, tinha uma senhora precisando de ajuda para atravessar a rua e eu tive que ajudar ela… Mas já to indo, o mais rápido que eu puder! Você tá bem, querido?"

  — Não 'tô não, vem logo. - Disse, manhoso, se dramatizando como sempre. - Comprou a minha pipoca?

  "..." Não se escutava nada do outro lado da chamada, e Kaiser sabia o que isso significava.

  — JouiiiiiiIIIIIIIIIIIII! - Resmungou, alto.

  "Já já eu to em casa! Te amo, fica bem!"

  — … Também te amo, idiota. - E desligou a chamada.

  O Cohen resmungava em completa agonia ao saber que seu amado demoraria mais do que era esperado, enquanto agarrava seu "Joui de travesseiro" e o girava pra lá e prá cá.

   — Maldita seja a pipoca! - Reclamou por último, parecendo amaldiçoar o alimento pela eternidade. Parou de balançar o travesseiro e se virou de barriga para cima, encarando o telhado com cansaço, refletivo. - Ah… - Suspirou.

  Joui quase nunca saia de casa nesses dias de chuva pois sabe como Kaiser busca por sua companhia mais do que ninguém. Era infeliz ter que passar por um cenário que leva à tona tantos traumas, sozinho. Ligou o celular e buscou ver algumas fotos que havia tirado do namorado, perceptíveis ou não. 

  Passava por uma, passava por outra… Ah, como odiava sentir aquilo! Como odiava amar demais! Desligou e se virou para ele: o travesseiro, que continuava o mesmo. O abraçou e o cheirava delicadamente, tentando imaginar a presença do Jouki ali, consigo. Sentia a fragrância o acalmar e todas as lembranças o preencher. Tantas risadas, carícias, momentos tão curtos mas tão longos que o fazia feliz, naquela cama, naquela chuva que caía… E quando menos percebia, sentiu um toque de amor no topo de sua cabeça; um beijo. Quando Kaiser se virou para ver quem era, viu Joui sorrindo, enquanto levantava a sacola do supermercado.

  — Bem, na verdade… Eu tinha comprado a pipoca, sim. Desculpa.

  — … Obrigado, Jo. 

  — Mais importante, o que é isso? - Apontava pro travesseiro ao lado do Oliveira, que sentia seu rosto queimar como brasa viva. Não podia se sentir mais envergonhado como agora por ter literalmente feito um travesseiro do seu namorado, sem contexto algum… ?

  — Uh… - Parecia tentar encontrar respostas e justificativas, enquanto gaguejava com o nervosismo, mas não encontrava nada que fosse minimamente "normal" na visão do mesmo. - É que… Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeh…

  — Kai, você tava me traindo com um travesseiro farsante?! - Dizia com uma expressão intencionalmente irritada, mas no fundo sabia dos motivos que o namorado tinha. Decidiu zoar um pouco com a situação. - Não acredito!

 — Mas Jojo, trinta minutos são mortais pra mim! - Dramatizava mais, participando da atuação. 

  — Humph! Sem pipoca pra você. 

  — Joui! Isso é maldade!

  — Maldade é você encher esse travesseiro de beijos e não me dar nenhum! - Se sentou na cama, ao seu lado, procurando pelo o que queria.

  — … Besta. - Kaiser, aceitando a derrota hipotética com infelicidade, se aproximou do amado e lhe deu um selinho na bochecha. - Tá bom, cadê a pipoca?

  — Só isso? - Pediu por mais, com uma feição manhosa que era muito mais forte que a resistência do Cohen.

  E por ali ficaram a se embrulhar naqueles cobertores de inverno, se enchendo de amores e matando a saudade de trinta minutos. Parecia exagerado? Parecia, tudo na vida deles é exagerado. Mas qual a graça do equilíbrio no amor eterno?

Damp Pillow - AU JoaiserOnde histórias criam vida. Descubra agora