Alice acordou na manhã nublada se sentindo gelada mesmo com os cobertores amontoados em cima de si e só então se deu conta que tinha adormecido no chão do quarto sobre o notebook e não na cama onde provavelmente acordaria quentinha. Rindo de si mesma salvou o trabalho no notebook e o fechou para trocar de roupa e comer algo antes de sair para o trabalho
Com o vestido xadrez de vermelho e preto, a longa meia calça cor de pele e o cabelo em um coque Alice caminhava com seu notebook e alguns livros apoiados na cintura sorrindo para as pessoas por quem passava ocasionalmente naquela manhã a caminho da empresa de designer no centro da cidade, pegou o metrô das 7 e aproveitou para desfrutar do clímax do livro que tinha em mãos ate chegar. Estava tão curiosa em saber quem seria o culpado que só voltou a realidade ao seu redor quando a senhora sentada ao seu lado a cutucou gentilmente no ombro:
-Garotinha, esta é a parada para a faculdade-falou a mulher sorrindo
Alice olhou para a estação do lado de fora da porta aberta e reconheceu, se aquela era a parada para a faculdade também era a sua para o trabalho pensou levantando de presa:
-Ah, seu notebook-avisou a senhora
-Obrigada- respondeu pegando o aparelho e sorrindo para a mulher ao sair
Subiu as escadas de volta ao dia nublado que fazia na movimentada rua do centro e se apressou em ir para o prédio alto cheio de grafites artísticos do lado de fora, o lugar onde trabalhava. Cumprimentou a recepcionista e correu para o elevador enquanto as folhas com suas observações caiam de dentro do livro, abaixou para pega-las e deu o mesmo impulso para correr batendo de frente com alguém:
-Alice?-o homem com quem ela tinha trombado falou
Alice esfregou a testa enquanto olhava pra cima:
-Lucas
Lucas, o homem alto de cabelos escuros e terno cinza riu e bateu um dedo contra a testa dela:
-Tome mais cuidado, ate quando terei que vigiar você?
-Eu não preciso ser vigiada-retrucou ela
Ele entrou dentro do elevador que se abriu e segurou a porta para Alice, que também entrou insatisfeita:
-Como esta seu ultimo projeto?-perguntou ele
-Muito bem-ela respondeu desviando o olhar para o livro que tinha em mãos e adoraria acabar de ler mas teria de esperar ate o almoço. O amigo reconheceu a mentira, tinham feito faculdade juntos e ele sabia que Alice nunca era capaz de olhar nos olhos quando mentia
-O que acha de irmos ao parque de botânica no fim de semana? Você gosta de ir a esses lugares quando chove pra te dar inspiração não é?
-E sua noiva?
-Amélia ira junto claro-falou de forma convencida
-Esta bem, por mais que queira me ajudar não quero que você e Amélia fiquem andando pra cima e pra baixo comigo
-Tem certeza?-ele perguntou quando as portas do elevador se abriram
Alice saiu primeiro e confirmou com a cabeça:
-Diga a Amélia que mandei um oi certo?-Lucas concordou antes de ir para a direita e deixar a amiga ir para a esquerda
Ela então cumprimentou todos da sala e sentou-se em sua mesa de trabalho, a empresa apreciava deixar os funcionários o mais a vontade possível para terem ideias então o ambiente era amplo, com vista para rua, as mesas cheias de bolos e café e alguns sofás e pufes pelo lugar. O uniforme também era opcional por isso ternos e roupas casuais se misturavam na sala entre as mesas desorganizadamente criativas como eles chamavam:
-Alice!
Alice ergueu o olhar da caneta a qual estava mirando os últimos .... quanto tempo?:
-Algum problema Mirela?-a mulher de terno a frente dela sorriu
-Esta na hora do almoço, todos já saíram mas você pareceu absorvida no trabalho, quis saber se deveria trazer algo
-Não, eu já vou-juntou os papeis no canto da mesa, levantou pegando o livro e olhou para sua colega de trabalho-Vamos?
-Sim
As duas almoçaram juntas e quando acabaram Alice logo se pôs a abrir o livro para continuar a perseguir o suspeito por entre as paginas ate que foi cutucada de novo, por Evan, outro colega de trabalho que sentou em frente elas:
-Alice, esta linda hoje
-Obrigada Evan-ela agradeceu querendo voltar a leitura
-Estive pensando se essa linda dama teria algum compromisso para essa noite?
-Claro que ela tem-interrompeu Mirela-Não esta vendo que ela esta prestes a acabar uma leitura?
-Você trocaria minha companhia por um livro?
-Não é bem assim,- tentou argumentar Alice-apenas...
-Ah, estou de coração partido. Quem beberia comigo esta noite para esquentar o gelo que a bela dama colocou em meu coração?
As mulheres riram, Evan sempre era exagerado ao pedir algo e nunca ia direto ao ponto, ele e Alice não tinham muita afinidade o que só poderia querer dizer que ele queria sair com Mirela desde o inicio:
-Esta bem, eu irei-falou Mirela levantando da mesa
-An? Você faria isso?-Evan perguntou levantando e indo atrás dela
-Você ira pagar a conta-respondeu Mirela conforme eles se afastavam
Alice viu o relógio no braço e também voltou ao trabalho. A tarde correu sem tantos problemas e as 6 em ponto ela estava na estação de metrô observando sua respiração condensar enquanto subia sob seus olhos. Quando o trem chegou Alice tratou logo de pegar um cantinho para si e abrir o livro.
15 minutos depois estava chorando pelo fim da historia, para disfarçar apoiou o livro no colo e observou a janela, estava começando a chover ela sabia pelo barulho e devia faltar pouco para sua estação. Bom, nada melhor que um pouco de agua para lavar a tristeza da morte de seu personagem favorito pensou ao erguer os olhos para o metrô que parava do outro lado, onde um rapaz sentando a janela estava absorvido em uma leitura, no mesmo livro que ela percebeu. E ao olhar para a cara teve certeza, era o amigo de chuva.
Alice tentou ver melhor seu rosto e gastou preciosos minutos nisso ate ver ele se levantar e sair, então apanhou os livros do colo correndo ao ver que seu metrô também tinha parado, talvez conseguisse apanha-lo na rua, ela se jogou entre as portas quase fechando e suspirou de alivio ao perceber que a barra de seu vestido não tinha sido pega pela porta.
Antes correu para dar a volta e sair pela saída da direita, onde ele estaria, no caminho acotovelou algumas pessoas, pediu desculpa apressadamente e continuou correndo ate as escadas, sua respiração ofegante quase fazia uma nevoa em frente ao seu rosto conforme saiu da segurança do metrô para a chuva fria do lado de fora. Olhou para os lados na esperança de ver aquela blusa azul escura entre a multidão, aquele que ele estava.
Sem sucesso em encontra-lo Alice entrou em uma cafeteria para pedir uma sacola para os livros e notebook não molharem. Durante todo o caminho ate em casa seu coração batia forte e não tinha nada haver com a corrida de pouco tempo atrás mas sim com a esperança de vê-lo.
A esperança foi embora junto a chuva conforme ela chegou em casa e abriu as cortinas para ver as elegantes cortinas beges fechadas do outro lado
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Por culpa da chuva
Short StoryAquelas cortinas sempre estavam abertas em dia de chuva, era isso que Alice mais admirava, ter alguém que compartilhasse da sensação da chuva ao seu lado ainda que longe. Ela ansiava por algum dia poder conhecer seu vizinho, aquele do apartamento d...