24.1. Feira do livro

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Oi

Oi

Vc vai p feira do livro cm a escl?

Sim, eu vou

A gnt pode conversar lá?

Claro, sem problemas

[...]

A primeira coisa que faço ao subir no ônibus enquanto estou carregando a mochila nas costas e preparada para viajar a caminho da feira do livro, é procurar Adora.

A encontro sentada em uma das poltronas mais fundas, ao lado do seu amigo Bow, com um par de fones brancos nos ouvidos e com os cabelos loiros curtos umedecidos, como se tivesse acabado de sair do banho.

Posso sentir seu cheiro mesmo a distancia e com a mistura de odores diferentes dentro do ônibus. É uma fragrância imaginária, apenas minha memória olfativa lembrando do cheiro amadeirado dos seus cremes e perfumes.

Ou melhor, apenas uma forma dolorida de sentir saudades da Glenn.

ㅡ Ô guria, desata a rede. ㅡ diz um aluno querendo ultrapassar.

ㅡ Foi mal! ㅡ dou passagem, caminhando depressa para a primeira poltrona vazia que avisto, por conta da vergonha de ficar estática encarando Adora por sabe lá Deus quanto tempo.

Solto um suspiro e encosto minha cabeça na poltrona. A pessoa ao lado de mim me encara de cima a baixo. Não conheço.

Lhe encaro de volta e tento um meio sorriso. Me ignora e volta a prestar atenção num livro sobre seu colo.

Alguma coisa sobre autoajuda.

Reviro os olhos e começo a caçar meus próprios fones de ouvidos. Por isso não tento ser simpática.

E com alguns minutos ouvindo Radiohead, tenho o impulso de olhar para trás fingindo caçar alguma coisa ou outra pessoa que não seja Aurora pela visão periférica, mesmo que no fundo tudo que eu queira saber é se ela estar a minha procura também.

E coincidentemente está. Com a mão na boca e os olhos um pouco mais fundos que o seu natural. Engulo em seco e de repente me acho com uma pulga atrás da orelha.

Mas Adora permanece quieta, com o cotovelo sobre o braço do seu lado da poltrona e os dedos de sua mão deslizando vagarosamente, para lá e para cá pelos lábios, enquanto me observa profundamente. Sem piscar, sem sussurros ou sorrisos.

Somente um olhar que não sei decifrar seu significado.

Mordo o lábio de baixo e volto a minha vanguarda. Por hora, a música na playlist muda para alguma da legião urbana, tento não prestar muito atenção no fato de que Adora está algumas poltronas atrás de mim e na fileira oposta. Ou seja, péssima para eu notar qualquer movimento dela.

Ainda se estende por longos minutos o ônibus parado no estaciomento da escola até tomar partida e seguir para a cidade vizinha.

Quando começa a tocar AnaVitoria no meu fone de ouvido, se torna um pouco mais difícil não querer dar nenhuma espiadinha a mais no fundo do corredor.

E talvez eu esteja pensando em ir até o fundo do ônibus, onde está o cooler da escola com garrafas d'água ㅡ mesmo que eu tenha trago a minha ㅡ, apenas para vê-la por breves segundos ao som de Dói sem tanto.

E bem, talvez eu esteja caminhando agora mesmo para o fundo do ônibus unicamente para isso.

Me agacho perto do cooler e retiro de dentro uma garrafa d'água e uma latinha de coca cola. Totalmente chocada por terem comprado alguma coisa para os alunos que não fosse água.

Rivais - Catradora +18Onde histórias criam vida. Descubra agora