Quando te vi pela primeira vez

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    As pessoas costumam dizer que só percebemos o verdadeiro valor das coisas quando as perdemos. Eu costumava não acreditar nisso, mas aí eu perdi você… Meu ceticismo quanto a isso foi posto à prova quando você partiu sem olhar para trás, me deixando só junto de meu coração partido.

    Eu ainda me lembro com riqueza de detalhes o exato momento em que a vi pela primeira vez. Era um dia frio de inverno, começo de agosto. Fazia pouco mais de oito graus.

    Eu estava tomando um delicioso café quente em minha cafeteria predileta enquanto lia o segundo livro de Os Bridgertons, O Visconde Que Me Amava, quando você adentrou o estabelecimento vestindo um elegante sobretudo azul índigo e botas pretas de cano alto.

    Você não percebeu minha presença de primeira, mas eu não conseguia tirar os olhos de você nem ao menos por um mísero segundo. Era como se, sem qualquer esforço, você houvesse me hipnotizado.

    Pouco antes de você ir embora, em uma jogada perfeita do destino, o céu, antes coberto por um azul límpido, fora tomado por uma pintura cinza e pouco depois uma forte chuva começou a cair.

    Eu me aproximei de você, parada próxima a porta de entrada da cafeteria, observando através do vidro o tempo lá fora e pude ouvir alguns de seus resmungos, baixinhos, quase inaudíveis.

    — Creio que não é o seu dia de sorte — disse, atraindo sua atenção.

    Você ergueu seu olhar, tão negro e tão profundo como a noite que foi inevitável não me perder em sua imensidão. Quando ele se encontrou com o meu senti que poderia passar horas e mais horas apenas o admirando sem me cansar.

    Um singelo, mas doce sorriso surgiu em seus lábios naquele exato momento fazendo com que um sorriso surgisse nos meus também.

    — Alguns dias a gente se dá bem, em outros a gente tem que se virar. — Foi o que me respondeu, logo voltando sua atenção aos grossos pingos de chuva que se chocavam contra o vidro do lado de fora. No instante em que ouvi claramente sua voz pela primeira vez, senti algo vibrar dentro de mim, como se sua voz fosse a música mais bela de todas e eu clamasse para escutá-la mais uma vez.

    — Quer uma carona? — ofereci, as palavras praticamente pularam de minha boca e eu nem ao menos havia raciocinado o que havia dito até dizer. Mas confesso que, no fundo, esperava  que aceitasse.

    — Nós nem sequer nos conhecemos — rebateu, semicerrando os olhos em minha direção enquanto a sombra de um sorriso tomava forma em seus lábios.

    — Então vamos mudar essa situação agora mesmo — disse e você sorriu, revelando duas covinhas em suas bochechas.

    Ergui minha mão direita, apresentando-me. Você aceitou o cumprimento e, ao sentir o seu toque, quente e macio, contra minha pele, foi como se uma corrente elétrica percorresse por cada pequeno poro de minha pele.

    — Sou Ana Clara — proferiu. — É um prazer te conhecer.

    — O prazer é todo meu.

Quando Eu Te Perdi [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora