37: Porque eu preciso de justiça

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Em casa observando Lorena tomando um pouco do chá que minha mãe havia lhe feito

Ela estava sentada na cama e eu encostado na parede

─── Está melhor querida? ── mamãe perguntou a ela passando a mão em seus cabelos e ela assentiu

─── Muito obrigada, de coração ── ela diz a minha mãe que sorri para ela

─── Bom, vou deixar vocês dois conversarem, qualquer coisa, estarei em meu quarto

Ela então andou até mim

─── Cuide dela querido ── assenti e minha mãe saiu do quarto, fechando a porta assim que saiu

─── Quer me contar o que aconteceu? ── ela me olhou e abriu os braços

Entendi o que ela queria dizer e então andei rapidamente até a mesma e a puxei para os meus braços

─── Ele foi tão mal comigo Jun ── ela começou a contar enquanto eu me virava, encostando minhas costas na cabeceira da cama e ela se senta em meu colo

─── O que ele fez amor?

─── É muito difícil falar sobre isso ── ela disse e suas pequenas mãos pegam as minhas

─── Se não quiser, tudo bem

─── Eu preciso, eu preciso dizer, porque eu preciso de justiça ── ela diz e respira fundo, olhando em meus olhos

─── Estou te ouvindo

─── Bom, eu tinha 7 anos quando tudo começou, eu era uma garotinha alegre que amava estar com meus pais e com meu irmão mais velho ── ela funga e percebo que as lágrimas já começaram a rolar por seu rosto e levo minha mão até ela, secando algumas

─── E o que aconteceu para isso mudar?

─── Ele, aquele cara do restaurante, ele mudou

─── Ele é seu pai ── ela negou

─── Ele foi, ele foi meu pai, até meus sete anos de idade

─── Não estou entendendo amor

─── Quando completei 7 anos e dois dias o inferno começou, eu escutava gritos, brigas, tapas, socos, todos os dias, até que eu presenciei uma cena dele cortando o rosto da minha mãe ── ela solta um soluço ── Ela me olhou e disse "tá tudo bem filha, vai passar, ele não é assim", ela estava sangrando Jun, ela estava sangrando muito, mas ainda o defendia, ainda o queria por perto e eu não entendi o porquê

─── Se quiser parar ── ela negou

─── Eu me sentei de frente para ela enquanto via ele saindo pela porta, como se nada tivesse acontecido, eu segurei nas mãos dela e não consegui fazer nada, porque eu era uma criança, mas eu chorei, eu chorei muito, e o odiei, odiei pra caramba, e ainda o odeio

Ela parou de falar por um tempo e eu esperei ela continuar

─── Então, uma semana se passou, duas, três, meses e anos...Mamãe não estava bem, mas ele não ligava, batia nela todos os dias, quando completei 15, eu entrei na frente da minha mãe e ali, naquele dia, eu acho que nunca senti tanta dor Jun, lembro dos socos, da dor, dos chutes, dos xingamentos, do sangue escorrendo por meu corpo, dos dias que se sucederam, agora ele não batia só na minha mãe, eu era seu alvo também

─── E seu irmão? ── perguntei tentando demonstrar que estava calmo

Mas eu estava fritando de ódio, eu vou fazer ele pagar, eu vou matá-lo da forma mais dolorosa e demorada, para que ele sinta a vida se esvaindo do seu corpo aos poucos

─── Ele passava mais tempo estudando, ele queria cursar medicina e eu o ajudava no que podia, mesmo ele sendo mais velho, eu queria que pelo menos um de nós se salvasse e fiz de tudo para que esse alguém fosse ele

─── Você é a mulher mais incrível que já conheci ── digo com lágrimas nos olhos e a abraço forte contra mim ── Eu vou fazer ele sofrer amor, eu vou acabar com ele, vou fazer justiça por você, por nossos filhos, por nós

25.02.23 - 22:51
26.02.23 - 14:58

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