Como explicar o Sangue - ah, aquilo que corre em suas veias, aquele líquido carregando a cor do perigo e do amor, a qual cria histórias de dor e vingança, de traição e morte - essa, por sua vez, começa com dor.
Acostumado ao ódio, à raiva e à dor, estando dentro ou fora do ringue, não tinha um segundo de paz. Seu rosto inchado e seu olho direito coberto de sangue, coberto de ferimentos, ele tinha certeza de que algum osso tinha quebrado.
Mas aquilo não importava, não naquele momento. Sua glória permaneceria intacta e a mandíbula de seu adversário quebrada - era a única coisa que precisava naquele momento: somente mais um golpe.
-BAM!-
Seu punho acertou em cheio a mandíbula do garoto, que caiu de imediato. A adrenalina corria tão rápido por seu corpo que por alguns segundos nem percebeu o que aconteceu, até que ouviu os gritos da plateia.
— HENRY! HENRY! HENRY! — A plateia gritava repetidamente para a alegria do garoto; finalmente tinha vencido sua primeira luta oficial - tão oficial quanto uma luta clandestina amadora pode ser.
Mesmo voltando para sua casa não conseguia se acalmar. Todos os seus problemas pareciam ter se dissolvido, eles pareciam ser tão insignificantes quanto o sangue que havia manchado o ringue até alguns segundos atrás.
-BAM!-
Nem em casa conseguia escapar da luta, mas essa era uma que ele nunca conseguiria vencer.
— PORRA, lutas clandestinas… Sério, moleque? — Henry mal conseguia enxergar com seus olhos cheios de sangue, mas sabia que não escaparia dessa vez; de alguma forma ele descobriu aquele resto mal comido de lixo, que mal poderia se chamar de humano.
O seu padrasto. O garoto não conseguia nem gritar de dor ou chorar naquele momento; não tinha força para aquilo logo após sua primeira vitória.
Mas a sua dor não durou muito. Perdeu a consciência pouco tempo depois e quando acordou, já não estava mais em sua casa - e sim em um convento. Seu corpo inteiro ardia pelos arranhões e machucados; só não sabia dizer quais foram causados por seu padrasto e quais foram por seu oponente, mas isso não faria diferença no momento.
O quarto era pequeno, algumas paredes tinham rachaduras, e a mesinha que ficava ao lado da cama estava completamente empoeirada. A ansiedade crescia lentamente a cada batida de seu coração.
Após vários minutos lutando contra as milhares de péssimas ideias que preencheram sua mente, decidiu apenas erguer-se da cama e abrir a porta, e diferente de tudo que a mente do garoto poderia imaginar, era só um convento. Então começou a vagar pelos vastos corredores até achar alguém, o que aconteceu mais rápido do que esperava, já que quando foi passar por uma das portas,
-BAM!-
Foi acertado em cheio no rosto quando a porta se abriu sem aviso prévio.
— Desculpa, eu não esperava que tivesse alguém — Ela tinha uma voz doce e soava preocupada. Era uma freira, o que deixou o garoto ainda mais confuso.
— Você está bem, garoto?.
— Onde é que eu tô? — Henry já era bem velhinho. Com dezesseis anos, já não era uma pequena criança; mas acordar num lugar que nunca viu, sem ninguém… Ah, aquilo era uma situação desesperadora pela qual ele nunca tinha passado.
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proditoris sepulcrum
Paranormalo passado de um traidor, sua redenção, e decaimento, da série de histórias vindas da desordem criada por Magnos