"Ansiedade (s.f.)
1 Desconforto físico e psíquico. 2 Agonia. 3 aflição. 4 Angústia.
Preocupação intensa, excessiva e persistente. Apreensão e medo de situações cotidianas, mesmo sem motivo aparente."Ela remexeu na cama inquieta. Uma, duas, três vezes. Fitou Paul que dormia serenamente e sentiu inveja. Esfregou a testa. Mordeu o lábio inferior. Suspirou. Enterrou a mão no cabelo e pressionou os olhos inspirando fundo. Sentiu aquela sensação de angústia conhecida.
— Tudo bem, Georgia! Não surta...— sussurrou para si mesma, receosa.
As lembranças invadiram sua mente em bombardeio. Gil. Gil a ameaçando. Gil a machucando. Gil a torturando. Ela caindo sobre a mesa, tentando pegar a faca, sendo jogada contra a prateleira. Tiro.
Tentou afastar esses pensamentos. Sacodiu a cabeça. Mudou de posição de novo. O grito de desespero dos filhos. As memórias e o sentimento de ter novamente vinte anos e se sentir refém dele. Os olhos azuis mais escuros e ameaçadores. A submissão. Sensação de despersonalização. Dor tórax.
Ela arfou sufocada. Sentou na cama ansiosa. Pressionou o peito com a mão. Tentou reprimir. Sem sucesso. Levantou, pegou o celular de qualquer jeito no criado mudo e saiu para o corredor. A cabeça latejava apesar do remédio, a garganta ardia, os olhos lacrimejavam e o peito doía. Uma dor aguda, sufocante. Soluçou alto. Tapou a boca com a mão. Sem barulho.
Encontrou o topo da escada. A visão embaçada pelas lágrimas. O cérebro a atacando com ofensas. Ela era uma péssima mãe. Ela traumatizou os filhos. Ela não conseguia protege-los. Ela não era normal. Não merecia ser feliz. Não valia a pena. Não era digna.
Com esforço, desceu os degraus. O mundo parecia lento, giratório. Ofegou. A dor no peito intensificando, as mãos estavam trêmulas, as pernas bambas, o coração acelerado. Ela sentia que não tinha ninguém, não podia demonstrar fraqueza. Não podiam a ver assim. Não podia trazer mais traumas, mais falhas.
Parou em meio a sala perdida. Sentiu medo, solidão, insegurança. Ar. Oxigênio. Tentou respirar fundo. Sem êxito. Apertou o peito com força, incomodada. O choro a dominando. O corpo trêmulo. Machucado. Dolorido.
"Mãe!"
Ouviu a pronúncia, mas parecia longe. Desconexa.
"Mãe, tudo bem?"
Passos rápidos na escada.
— Mãe!
Ginny a tocou com os olhos assustados. Voltou a realidade.
— Aí meu Deus, é um ataque de pânico? — estava familiarizada com a sensação —Respira, mãe! Você consegue.
Segurou em seus dois braços firmes e olhou fundo em seus olhos, preocupada.
— Eu... — tentou falar entre dentes, mas em vão.
Esforçava-se para respirar. Inutilmente. Seus olhos castanhos arregalados, amedrontados.
— Vem, mãe. Senta aqui! Você tá gelada.
Ginny a guiou para o sofá e agachou em sua frente. Depositou as mãos sobre sua coxa. Olhou profundamente em seus olhos.
— Respira comigo... — inspirou e expirou.
Nada.
— Pode chorar, está tudo bem! — aluiu.
Georgia negou com um aceno. Precisava se controlar, afastar essa crise. Ginny já tinha traumas demais para vê-la assim. Já não bastava o que tinha acontecido mais cedo, ela descobrir que sofria violência. Não. Ela era a mãe. Ela deveria demonstrar força, resistência. Havia conseguido esconder suas crises e ansiedades tantas vezes. Não queria que a filha a visse assim. Exposta, vulnerável.
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Me and You Against The Word - Ginny & Georgia
FanfictionEla estava tendo uma crise de pânico sozinha. Até Ginny aparecer e perceber que a mãe não era sempre uma força. Baseado no ep. 2x9.