I - Caio

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— O que você fez? — Stephanie berrou, o pescoço já avermelhado de raiva.

Pensei em ignorá-la, como sempre fazia, mas sabia que, naquele momento específico, o silêncio me renderia alguma forma de tortura psicológica — ou até física.

— Disse para os nossos pais que estou noivo. Mas que não poderia visitá-los porque minha noiva está grávida e não pode viajar — confessei de uma vez, soltando o ar que nem percebi estar prendendo.

Stephanie fechou os olhos, levou as mãos à cabeça e respirou fundo, como se estivesse processando a maior burrice do século. Após um longo silêncio, me lançou um olhar que fez o clima gelar.

— Isso é devido ao João e à Isabelle?

— Não! — respondi na hora.

— Tem certeza? Porque, se for, você precisa crescer e parar de remoer essa história. Já faz o quê? Nove, dez anos que eles se casaram?

— Dez anos e nove meses — murmurei, bufando.

— Você precisa se apaixonar de novo e esquecer esses dois! — explodiu, jogando uma caneca de porcelana na minha direção.

Desviei com agilidade.

— Você quer me matar? — zombei, rindo. — Ou realmente achou que essa pobre caneca seria incapaz de afundar meu crânio e me deixar agonizando até a morte neste belo chão imaculado?

— Você não tem moral nenhuma para brincar comigo — respondeu entre os dentes cerrados.

Fiquei em silêncio. Ainda sentia algo pela Isabelle, sim, mas era mais mágoa do que amor. O ressentimento, no fim das contas, era com o João. Ele sabia que eu era apaixonado por ela, era meu confidente — e me traiu. Por anos, cogitei reconquistá-la, mas essa mentira não foi por ela. Foi para escapar da humilhação natalina, do olhar de pena da minha mãe, das piadinhas ácidas do meu tio.

— E como vai sair dessa agora? — Stephanie me puxou de volta dos devaneios.

— O quê? — perguntei, confuso.

— Você sabe que mamãe já espalhou para todo mundo que vai ter um neto, né? — ela massageava a testa, frustrada.

— Posso dizer que minha noiva perdeu o bebê e foi embora — sugeri, achando que estava sendo genial.

— Você tá louco? Mamãe largaria tudo no Rio e viria te ver em São Paulo! E ainda sofreria horrores com essa história. Você sabe o quanto ela quer um neto. Eu sou cobrada disso toda semana! — gritou. — Você é um idiota, e não é culpa da criação nem da comida.

Droga. Nem pensei nas consequências. Foi só uma resposta automática pra fugir do interrogatório de sempre.

— E agora, o que faremos? — sussurrei.

— Não tem "faremos"! Você que se meteu nessa — ela recuou. — Agora reza pra Deus te dar uma luz. Apesar de Ele não curtir muito mentiras...

— Ei, você tá nessa comigo. Eu disse pra mamãe que foi você quem me apresentou à tal noiva — joguei mais uma mentira.

Claro que isso era um golpe baixo. Mas era isso ou Stephanie me deixando na mão.

— Merda! Eu te odeio — resmungou, derrotada.

— Eu te amo! — retruquei com um sorriso.

— Hum... E se encontrássemos alguém pra fingir ser sua noiva? — propôs, ainda relutante.

— E onde a gente vai achar uma mulher grávida disposta a isso?

— Não sei. E pior: vamos ter que manter contato com ela. Mamãe vai querer visitar, acompanhar tudo...

ALUGA - SE UMA NOIVAOnde histórias criam vida. Descubra agora